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Informação profissional do setor das instalações em Portugal
"A necessidade de formação situa-se nas camadas mais jovens"

Entrevista com Luís Neto, Presidente da EFRIARC

Ana Clara10/03/2022

Eleito em outubro de 2021, Luís Neto é o novo presidente da EFRIARC – Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado, sucedendo a Odete Almeida à frente dos destinos desta entidade. Em entrevista, aborda os desafios que o setor tem pela frente, entre eles, a organização do CIAR 2022, as consequências que a pandemia trouxe, mas também a importância da formação.

“As quebras nas cadeias de fornecimento constituem, a meu ver, uma dificuldade sentida pelas empresas, não só no nosso setor...
“As quebras nas cadeias de fornecimento constituem, a meu ver, uma dificuldade sentida pelas empresas, não só no nosso setor, mas que é transversal a outros”.

Foi eleito em outubro de 2021 presidente da EFRIARC. Quais são os grandes desígnios para o seu mandato?

Os desígnios deste mandato à frente da EFRIARC passam, no imediato, pela concretização do CIAR 2022 – XVI Congresso Ibero-americano de Ar Condicionado e Refrigeração, que decorrerá no Centro de Congressos do LNEC (Lisboa) de 4 a 6 de maio de 2022. Trata-se de um evento que, pelas suas caraterísticas únicas (é a segunda vez que se realiza em Portugal e só aqui voltará, na melhor das hipóteses, daqui a 28 anos) é importante para a EFRIARC, mas que queremos que seja igualmente marcante junto dos 14 países que compõem a FAIAR – Federação de Associações Ibero-Americanas de Climatização e Refrigeração. Recordo que Portugal detém atualmente a presidência da FAIAR, através da Engª Odete de Almeida, e que só no último dia do CIAR 2022, é que se fará a transição dessa presidência para a AMERIC, associação nossa congénere do México.

Obviamente que o mandato de dois anos não se esgota neste desígnio, pelo que pretendo concretizar várias ideias que me parecem lógicas e oportunas. Por exemplo, está na altura da EFRIARC, uma associação de profissionais, passar a ser gerida de um modo profissional, ou seja, a tempo inteiro. Obviamente que esta não é tarefa fácil, uma vez que está dependente de disponibilidade financeira.

Por outro lado, há que dar um salto quantitativo em termos de massa associativa, incluindo junto dos jovens estudantes. Está em estudo a criação do NE-EFRIARC: Núcleo de Estudantes da EFRIARC (e respetivos docentes) dentro das instituições de ensino superior universitário e politécnico de norte a sul do País. Ainda neste âmbito tentaremos também reimplementar a realização periódica de Encontros de Climatização e Refrigeração, reunindo estudantes das Universidades e Escolas Superiores de Engenharia.

Um projeto que ficou inacabado no mandato anterior é o da criação do novo website da EFRIARC, dotado de funcionalidades avançadas, que permitam aos associados um acesso a conteúdos reservados tais como inscrição em eventos, descarga de certificados de participação, visualização e/ou descarga de documentos de trabalho em curso ou já finalizados, registo vídeo de eventos já realizados, pagamentos de quotas, etc.

Por último, tentaremos que os próximos processos eleitorais se façam de uma maneira mais ágil, reformulando no que for preciso os regulamentos e implementando um sistema de votação à distância que permita dar igualdade de oportunidades aos associados que vivam fora de Lisboa.

Como avalia o segmento do Frio Industrial, Refrigeração e Ar Condicionado atualmente em Portugal e que impactos teve a pandemia no setor?

Antes de mais quero dizer que, como académico de profissão, ainda por cima numa instituição de ensino superior público da Beira Interior, tenho uma visão muito limitada do setor, pelo que a minha avaliação apenas pode ser feita como resultado de conversas esporádicas com alguns profissionais de diferentes áreas.

Curiosamente, praticamente não tenho ouvido falar da falta de trabalho. Ouço sim falar de um aumento, por vezes, muito significativo de trabalho, mas trabalho esse feito com condições mais adversas, nomeadamente por haver quebras na cadeia de fornecimento de equipamentos e de sobressalentes.

Também sinto que, muitas vezes, o trabalho é inglório, no sentido em que apesar do grande esforço envolvido, não aparece o desejado resultado final, seja sob a forma da adjudicação da obra, seja do malfadado pagamento (entenda-se, a horas e com margens de lucro minimamente aceitáveis).

Ultimamente, e graças ao Plano de Recuperação e Resiliência, parece estar a haver um aumento excecional de trabalho dos projetistas, até mesmo ultrapassando a capacidade instalada, o que em breve, espera-se, se venha a alastrar ao resto do setor quando esses projetos forem aprovados e passarem à fase de concretização.

"Ultimamente, e graças ao Plano de Recuperação e Resiliência, parece estar a haver um aumento excecional de trabalho dos projetistas, até mesmo ultrapassando a capacidade instalada, o que em breve, espera-se, se venha a alastrar ao resto do setor quando esses projetos forem aprovados e passarem à fase de concretização"

Quais as principais dificuldades que as empresas sentiram e que ainda são evidentes?

Tal como disse anteriormente, as quebras nas cadeias de fornecimento constituem, a meu ver, uma dificuldade sentida pelas empresas, não só no nosso setor, mas que é transversal a outros setores.

De que forma a EFRIARC tem sido decisiva no apoio aos associados e que metas tem ainda pela frente?

Acho, sem qualquer modéstia, que a nossa ação durante a pandemia se traduziu num apoio importantíssimo aos nossos associados, tanto mais não seja porque mostrámos que era possível continuarmos as nossas vidas profissionais, até com um incremento significativo de atividades (sob a forma de cerca de 30 webinares).

Nalguns destes eventos foram apresentadas e/ou discutidas formas de orientação para lidar com a pandemia.

Não sei se este foi o motivo, mas neste período notámos um acréscimo significativo (9) empresas que decidiram tornar-se Membros Beneméritos da EFRIARC. O facto de termos aberto estes eventos a não associados, levou a uma estagnação da massa associativa (apenas 9 novos Membros Estudante e 5 novos Membros Sénior), que se pretende agora recuperar.

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Reencontro dos profissionais do setor AVAC&R

2022 é um ano marcante para a EFRIARC com a organização do CIAR 2022 (como já falou anteriormente), um evento internacional deveras importante para o mercado e que se realiza em Lisboa em maio. O que podemos esperar do certame?

Neste momento, o CIAR 2022 é, sobretudo, a primeira grande oportunidade dos profissionais do setor AVAC&R se reunirem presencialmente após estes dois anos de afastamento social.

Embora durante a pandemia todos nós tenhamos adotado métodos de trabalho por recurso ao online (e até descobrimos algumas vantagens que lhes são inerentes), o facto é que também descobrimos e sentimos a falta do contacto pessoal e do calor humano que é tão caraterístico dos portugueses.

Por outro lado, eventos da natureza do CIAR 2022 são, por excelência, um misto de encontro de experiências e de opiniões entre profissionais dos vários quadrantes do setor da climatização e das refrigeração, sentando na mesma sala consultores, distribuidores, donos de obra, empreiteiros, professores e/ou investigadores, projetistas, empresas que fabricam ou que fazem manutenção, etc.

Objetivamente falando, no CIAR 2022 vamos encontrar:

  • Oradores convidados, entre prestigiados portugueses conhecidos da maioria de nós e representantes de entidades que são relevantes e intervenientes no setor (ASHRAE, REHVA, EUROVENT, IIR, UNEPE, IEQ-GA);
  • Comunicações Técnico-Científicas e Comunicações Técnico-Comerciais abordando os principais temas do congresso (Edifícios e Sistemas de Alto Desempenho e Sustentáveis, Fundamentos e Aplicações, Refrigeração e Fluidos Frigorígenos, Soluções e Tecnologias Inovadoras, Tecnologias de Informação e Comunicação para os Edifícios Inteligentes, Ventilação e Qualidade do Ar). As comunicações já aprovadas para apresentação no CIAR 2022 são oriundas de autores de vários países tais como Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, Paraguai, Portugal e Reino Unido, pelo que esperamos uma abordagem de temáticas comuns feitas através do prisma de diferentes realidades nacionais (em termos de clima, de desenvolvimento, etc.);
  • Tradução simultânea das intervenções dos oradores estrangeiros convidados. Estas comunicações decorrerão no Auditório principal do Centro de Congressos do LNEC no início da manhã e no início da tarde dos dia 5 e 6 de maio;
  • Sessões paralelas em duas salas contíguas ao Auditório, após as sessões plenárias descritas anteriormente;
  • Uma visita técnica aos Laboratórios do LNEC;
  • Exposição técnico-comercial dos patrocinadores do CIAR 2022, em dois locais do LNEC: 14 stands dos Patrocinadores Platina e Ouro em tenda exterior (já esgotada) e 14 stands dos Patrocinadores Prata no Foyer do Centro de Congressos do LNEC (4 já reservados e 3 stands em pré-reserva);
  • Um programa social que inclui Cocktail de Boas Vindas, Jantar de Gala e programa específico para acompanhantes;
  • Um programa turístico no dia 7 de maio (sábado) especialmente pensado para os participantes estrangeiros que queiram conhecer um pouco do nosso País.

Que objetivos traçou para a área da Formação da EFRIARC no seu mandato? Será uma linha de continuidade e no seguimento daquela que tem sido seguida (Seminário de outono, Tardes Técnicas) ou haverá novidades?

Durante o último mandato, presidido pela Engª Odete de Almeida, a EFRIARC adotou uma postura que apelidaria de combate, resiliência e solidariedade face à pandemia. Nessa altura, alterámos as nossas rotinas e conseguimos responder aos desafios do momento através da realização de webinares, por vezes a uma cadência quinzenal, abertos a associados e a não associados.

Para trás ficaram os planos que tinham sido delineados em outubro de 2019, que não só passavam pela realização dos eventos tradicionais (Tardes Técnicas, Seminário de outono, Jornadas da primavera, etc.) mas também pela criação de um/dois cursos de formação.

Neste início de 2022, por acharmos que já fizemos o nosso papel e por estarmos a entrar num novo ciclo com menos constrangimentos, alterámos o rumo e estamos a focar-nos mais para dentro. Continuaremos a fazer webinares, mas com menor periodicidade e os mesmos deixaram de ser gratuitos para não associados.

Assim que as condições o permitirem, retomaremos algumas das atividades tradicionais como as Tardes Técnicas e o Seminário de outono. Descobrimos (da pior maneira) uma forma de termos connosco os associados da EFRIARC que vivem/trabalham longe de nós. Se nos últimos anos já se fazia um esforço para replicar, no Norte e no Sul, as Tardes Técnicas que se realizavam em Lisboa, agora vamos conseguir proporcionar aqueles que estão em Bragança, em Faro ou nas Regiões Autónomas (ou mesmo no estrangeiro) a possibilidade de também participarem nestes eventos.

Após o CIAR 2022 retomaremos os trabalhos de preparação de um primeiro curso de formação, em que o tema, os formadores e a carga horária ainda estão por decidir. Advogo que este primeiro curso seja de curta duração (inferior a 40 horas) e não prevejo que o consigamos concretizar antes de 2023.

Outra das ideias que pensamos executar é o da promoção de visitas técnicas com os nossos associados (mas abertas a não associados) a obras e instalações que só são conhecidas de alguns (os que as projetaram e/ou os que as contruíram). Estas visitas servem não só para alargar horizontes (imagino as pessoas da área da climatização a perceberem um pouco melhor os requisitos e as exigências da refrigeração industrial e vice-versa) mas também como momentos de descontração e de confraternização que tanto ansiamos.

"Neste momento, o CIAR 2022 é, sobretudo...

"Neste momento, o CIAR 2022 é, sobretudo, a primeira grande oportunidade dos profissionais do setor AVAC&R se reunirem presencialmente após estes dois anos de afastamento social"

Quais as principais necessidades que os profissionais têm ainda nesta matéria? Que tipo de formação é essencial e em que setores se revela mais importante?

Como académico, sinto que a necessidade de formação se situa nas camadas mais jovens. A adoção dos planos de Bolonha obrigou-nos a condensar (para não dizer cortar) muitos conteúdos programáticos, e isso traduz-se numa formação que é muitas das vezes de banda larga, mas que por vezes deixa de fora aspetos práticos que deviam ser aprofundados e/ou sedimentados.

Por outro lado, e ouço isso todos os dias quando falo com alguns colegas aqui de Lisboa (mas que presumo seja igual no Porto), havia empresas que eram consideradas escolas, ou seja, após os estudos académicos, a carreira profissional iniciava-se ali sob a tutela de um 'mestre'. Estas escolas praticamente desapareceram e as empresas atuais já não dispõem dessa capacidade por vicissitudes várias.

Também no que diz à formação, embora a legislação exija a qualificação de alguns profissionais (como por exemplo a formação/certificação em gases fluorados), o que é certo é que há cada vez mais pessoas, por vezes até academicamente qualificadas, que não possuem os conhecimentos de base daquilo que são os fundamentos destas áreas de atividade, seja na climatização, seja na refrigeração.

Por fim, apercebo-me que muito do saber prático especializado que existia (por exemplo no que concerne à conceção e dimensionamento de redes hidráulicas) foi sendo colocado em segundo plano face à crescente utilização de equipamentos e tecnologias que dele não carecem. Ao mesmo tempo, os conhecimentos de eletrónica, de programação, de automação, de redes de comunicação, etc. são cada vez mais um requisito essencial para um profissional se manter atualizado.

Estamos numa década decisiva – a nível nacional e europeia – em matéria de combate às alterações climáticas, no que se refere à descarbonização, eficiência energética, etc. Que papel decisivo tem o setor AVAC nesta caminhada? Portugal está no rumo certo? Que desafios e constrangimentos se colocam?

Eu diria até que, para além de nível nacional e/ou europeia, é mesmo um esforço à escala mundial em que Portugal, direta ou indiretamente, consegue ter um papel decisivo. Tome-se o exemplo da recente assinatura de um Memorando de Entendimento entre a FAIAR – Federação de Associações Ibero-Americanas de Climatização e Refrigeração, presidida por Portugal e maioritariamente constituída por países da América Latina, e a EUROVENT – Associação Europeia para a Indústria AVAC para promover tecnologias AVAC eficientes a nível energético e ambiental. Este é apenas um exemplo de como, em cooperação, se conseguem desenvolver ferramentas de combate às alterações climáticas e de como conseguimos influenciar outros a fazer o mesmo.

Obviamente que o caminho a percorrer ainda está longe de estar concluído (se é que alguma vez tal atingiremos) e que os constrangimentos são enormes, sejam em termos dos recursos financeiros exigidos, sejam em termos de mudança de mentalidades e de comportamentos, mas o setor do AVAC e da Refrigeração são dos que mais esforço têm feito nesse sentido.

Que grande mensagem gostaria de deixar ao setor?

A mensagem é, obviamente, de esperança. A esperança de quem atravessou uma pandemia à escala global e se manteve resiliente. A esperança que 'após a tempestade venha a bonança'. A esperança que esta pandemia tenha colocado nos nossos ombros a missão acrescida de zelarmos pelos outros, nomeadamente na qualidade do ar que todos respiramos.

Acho que, à semelhança do CIAR 2022, posso resumir a minha mensagem com o lema 'Atuar Hoje pelo Amanhã'.

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Perfil

Luís Neto é doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra (2006) e Mestre em Ciências da Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra (1983).

Licenciado em Engenharia Mecânica (ramo de Termodinâmica e Fluidos) pela Universidade de Coimbra (1986) conta com uma Pós-graduação em Redes e Instalações de Gás Natural pela Universidade de Coimbra/Instituto Pedro Nunes (1999).

É membro da EFRIARC desde 2000, da ASHRAE desde 1999 e membro da Ordem dos Engenheiros (Colégio de Engenharia Mecânica) desde 1986.

Na vida académica, é professor adjunto na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo Branco desde 1999, local onde leciona unidades curriculares e orienta projetos finais à licenciatura em Engenharia Industrial e à licenciatura em Engenharia das Energias Renováveis.

Exerceu o cargo de vice-presidente da EFRIARC na anterior direção (entre outubro de 2019 e outubro de 2021), tendo sido eleito em outubro passado presidente, cargo que ocupará por dois anos, até outubro de 2023.

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