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"A substituição dos refrigerantes sintéticos por refrigerantes naturais é um desafio urgente"

Entrevista a Odete de Almeida, Presidente da EFRIARC

Entrevista: Ana Clara | Jornalista e Diretora07/09/2020

Odete de Almeida assumiu a presidência da Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado (EFRIARC) em 2019. Nesta entrevista, analisa a importância da associação no setor e fala dos desafios que se propõe cumprir. Em ano de pandemia, aborda também os eventuais impactos que a Covid-19 está a provocar no mercado.

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Tomou posse em 2019 como presidente da EFRIARC. Fale-me um pouco deste desafio e quais os objetivos a que se propõe para este mandato.

Segundo os estatutos, os titulares dos órgãos sociais da EFRIARC são eleitos por dois anos, e assim aconteceu, após a última direção ter cumprido o seu mandato, procedeu-se às eleições, e fui eleita Presidente da EFRIARC. É um cargo de responsabilidade pois, à medida que a associação cresce, os compromissos nacionais e internacionais que a associação assume são desafiantes.

O objetivo primordial dos órgãos eleitos é fomentar atividades que desenvolvam conhecimento e práticas no âmbito do ar condicionado e refrigeração, visando o benefício do setor e do público em geral. Tendo como base esta premissa, ambicionamos responder de uma forma profissional, aos compromissos que a EFRIARC assumiu durante as direções anteriores, e aos novos desafios que surgiram durante a presente presidência. Assim, pretendemos:

• continuar com o legado e o histórico das atividades da EFRIARC dos últimos anos. Na atual presidência, prevemos a realização de um conjunto de ações de formação e de difusão dos conhecimentos nos campos de AVAC&R, abertas aos associados e aos não associados;

• dar seguimento e estabelecer parcerias com outras entidades que congreguem os objetivos e interesses da EFRIARC e do setor do ar condicionado e refrigeração;

• paralelamente à atividade de direção da EFRIARC, presidir com sucesso à Federação das Associações Ibero-Americanas de Ar Condicionado e Refrigeração - FAIAR, com especial foco em apoiar os propósitos das 14 associações da Federação no território Ibero-americano e além deste;

• organizar o CIAR’2021 – XVI Congresso Ibero-Americano de Ar Condicionado e Refrigeração que se realizará em Lisboa entre os dias 21 a 23 de abril de 2021.

Qual a importância da EFRIARC junto dos seus associados e que mais-valias considera terem junto da associação?

Os associados da EFRIARC devem saber que a associação se empenha em divulgar o conhecimento e promover a discussão na área do AVAC&R, colaborar com as entidades públicas, e responder aos anseios do setor. A importância da EFRIARC para os seus associados, primordialmente, é saberem que pertencem a uma associação, cuja rotatividade dos seus órgãos de Direção é grande (2 anos), o que confere à associação um estatuto de diversidade e desenvolvimento enormes, assim como uma grande transparência nos seus atos.

As mais-valias que o associado tem junto da EFRIARC, genericamente, são à aquisição de conhecimentos técnicos e científicos sobre o aquecimento, a ventilação, o ar condicionado e a refrigeração e a promoção de discussões e deliberações sobre problemas relacionados com as suas atividades e conforme o objeto da EFRIARC.

Gostava que me fizesse uma radiografia atual dos dois segmentos de atuação da EFRIARC: por um lado, o Frio Industrial, e por outro, o Ar Condicionado e Refrigeração. Qual o panorama das empresas destes subsetores e quais os maiores constrangimentos que se colocam ao mercado?

O Frio Industrial é um segmento em grande evolução devido ao crescimento da população, à urbanização a às alterações climáticas. A preservação da cadeia de refrigeração ininterrupta e eficiente até à mesa do consumidor, na minha opinião, é a garantia que as empresas do mercado da refrigeração continuarão a expandir.

Resumidamente pelas mesmas razões do frio industrial, o segmento do ar condicionado continuará a aumentar. Em todo o comércio global, penso que iremos assistir, ao crescimento dos sistemas splits e multi-splits, VRF e Chillers. Dependendo da região geográfica, uns sistemas crescerão mais que os outros, o que augura um cenário otimista para as empresas do sector.

Um dos objetivos principais do setor do ar condicionado e refrigeração é reduzir a parcela que estes dois segmentos portam no aquecimento global, por isso não considero um constrangimento, mas sim um desafio urgente, aquele que a indústria da refrigeração do ar condicionado e do frio industrial terá que resolver a médio prazo, e que é, a substituição dos refrigerantes sintéticos por refrigerantes naturais, de modo a reduzir as emissões de F-Gas, em conformidade com o protocolo de Montreal.

O Frio Industrial é um segmento em grande evolução devido ao crescimento da população, à urbanização a às alterações climáticas. A preservação da cadeia de refrigeração ininterrupta e eficiente até à mesa do consumidor é a garantia que as empresas do mercado da refrigeração continuarão a expandir

A crise sanitária que Portugal atravessa e todo o contexto económico que o país vive afetou as empresas do setor. Que dados e perspetivas nos pode dar sobre o impacto da crise Covid-19 nas empresas?

Atualmente, não conheço qualquer dado estatístico oficial que possa apresentar e comentar sobre o impacto da Covid-19 nas empresas de ar condicionado e refrigeração. Contudo, tenho lido artigos publicados em revista do setor, e falado com empresas das diversas áreas do mercado do ar condicionado, e de uma forma redutora, a incerteza é ainda o substantivo que indica o estado das empresas. Um pouco alinhada com o setor também eu sou cautelosa em perspetivar presentemente, o efeito que a Covid-19 irá provocar no segmento do ar condicionado, pois ainda estamos a viver o momento. De qualquer forma, gostaria muito que depois de atravessarmos esta crise, o setor caminhasse para o aumento da qualidade do trabalho e de vida dos profissionais.

Falando da formação: uma das maiores prioridades da EFRIARC. As Tardes Técnicas são um bom exemplo disso. Como vê a importância da formação das vossas ações e que impacto têm também em todos os técnicos e profissionais que procuram as iniciativas?

As Tardes Técnicas iniciaram com a direção do Eng.°Carlos Lisboa, à qual eu pertenci, e estas tiveram um grande desenvolvimento com a direção do Eng.º José Afonso e uma sólida continuidade com a direção seguinte, a do Eng.º António Rego. O objetivo principal das Tardes Técnicas é discutir os assuntos de uma forma muito aberta. Os participantes podem colocar qualquer questão para esclarecer as suas dúvidas, aproveitando a presença de colegas com mais conhecimento numa certa matéria, assim como, expressar a sua opinião, pois a comunicação com o orador é muito facilitada. Passados estes anos, penso que resultou muito bem, pois a aquisição do conhecimento por parte dos participantes é um dado adquirido que já está na mente de qualquer associado, sempre que este se inscreve numa Tarde Técnica da EFRIARC.

Existem outros eventos da EFRIARC, onde a componente da formação também está presente tais como, o Seminário de Outono da EFRIARC, com muitos participantes, e por isso, uma excelente oportunidade para apresentar novas visões sobre determinados temas e compartilhar ideias sobre os assuntos do evento com outros profissionais, e as Jornadas da Primavera, onde um associado ou empresa poderá participar numa divulgação ou discussão de um tema técnico.

No seu mandato, tenciona impulsionar ainda mais a Formação? Com alguma alteração ou iniciativa adicional?

Sim, a Direção da EFRIARC, tal como a sua Comissão Técnica, têm como objetivo, efetivar cursos de formação acessíveis aos seus associados. Está no plano de atividades da EFRIARC para 2020, a realização de dois cursos, mas um pequeno atraso na organização dos cursos em janeiro e posteriormente, o aparecimento da Covid-19, alterou a forma e o agendamento dos dois cursos, um sobre ‘Sistemas Hidráulicos’ e o outro sobre ‘Auditorias Energéticas’. Presentemente, a direção está a estudar a forma como irá preparar a realização destes dois cursos na EFRIARC, de uma forma digital.
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CIAR em 2021

A EFRIARC assumiu a presidência da FAIAR, sendo que irá organizar o CIAR em Lisboa, em abril de 2021. Como está a correr essa organização e que perspetivas há nesta iniciativa?

O CIAR é o Congresso Ibero-Americano de Ar Condicionado e Refrigeração com uma periodicidade bienal. O CIAR é organizado no país da Associação que preside à FAIAR, sendo a rotatividade da organização do CIAR coincidente com a rotatividade da presidência da FAIAR.

A EFRIARC candidatou-se a organizar o XVI Congresso Ibero-Americano de Ar Condicionado e Refrigeração (CIAR 2021), na direção do Eng.º José Afonso (2016). Ganhou esta candidatura na direção do Eng.º António Rego (2019) e consequentemente, a presidência da FAIAR. Presentemente, a atual direção juntamente com o LNEC, tem a incumbência de organizar o CIAR 2021 em Lisboa, com o tema ‘Atuar hoje pelo amanhã’. Na EFRIARC foi criada uma Comissão Organizadora (CO) do CIAR 2021, cujo coordenador geral é o Professor Luís Neto, vice-presidente da EFRIARC. Esta CO do CIAR 2021 é estruturada em cinco subcomissões, também elas com um coordenador mais dedicado. Estas subcomissões e respetivos coordenadores são: 1 - Comissão Técnica, Eng.º Álvaro Ramalho; 2 - Relações Externas, Eng.º Francisco Severo; 3 - Comunicação e Marketing, Eng.º Miguel Margarido; 4 - Tesouraria, Eng.º Amílcar Moreira; 5 - Logística, Eng.º Armando Pinto; 6 - Secretariado, Isabel César. A organização do CIAR está a correr muito bem, mesmo na presente situação de pandemia. Sendo o CIAR um dos maiores acontecimentos mundiais do setor da climatização, pois visa promover a divulgação de conhecimento e o debate técnico e científico nos domínios do AVAC&R, as expectativas são altas face ao programa ambicioso do CIAR 2021 em que estamos a trabalhar, onde se inclui sessões plenárias constituídas por conferências proferidas por excelentes especialistas nacionais e estrangeiros; uma exposição técnica com a participação de instituições e empresas do setor, visitas técnicas e eventos sociais, a acrescentar a esta oferta, a presença de convidados VIP. Poderão acompanhar o programa do CIAR quando a página da internet dedicado ao CIAR 2021 estiver online, o que será muito em breve.

Qual o simbolismo e a importância da organização deste congresso para a EFRIARC e para o setor português?

O congresso CIAR reúne participantes dos 14 países, que são os membros da FAIAR (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Paraguai, Perú, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela). Como anteriormente foi referido, foi decidido na Assembleia Geral da FAIAR, em 2019, que o próximo certame seria em Portugal e a responsabilidade da organização ficaria a cargo da atual Presidente da FAIAR que é precisamente a EFRIARC. Esta atribuição reflete o prestígio da EFRIARC na FAIAR, mas também a nossa capacidade de atração e realização de grandes eventos. É, com certeza, representativa da sólida parceria com as restantes Associações da FAIAR e outras organização nacionais e internacionais.

Naturalmente se apreende que, só dentro de 28 anos, se realizará de novo em Portugal este evento, por esta razão, pensamos que será uma oportunidade única para todos os fabricantes nacionais, fabricantes estrangeiros sediados em Portugal e técnicos especialistas. Iremos ter representantes oficiais de todo o continente americano a par dos representantes ibéricos, o que constitui certamente, um fator aliciante para o intercâmbio técnico, científico, cultural e comercial entre todos os participantes. Contamos com a participação de algumas centenas de individualidades com a mais elevada diversidade de valências. Estamos seguros de que o setor do AVAC&R ficarão mais prósperos no final do CIAR 2021 em Lisboa.

As tendências observadas atualmente no setor do AVAC&R indicam um futuro marcado pela eficiência energética e reduzido impacto ambiental. Penso que estes continuarão a ser os vetores que determinarão o desenvolvimento tecnológico de equipamentos e soluções técnicas no mercado.

Qual a sua opinião sobre o setor do AVAC&Refrigeração em Portugal antes da crise Covid-19 e que problemas antecipa neste momento?

Dentro de um sistema que foi gerado após a crise financeira de 2008, o setor do AVAC&Refrigeração conseguiu adaptar-se, mas na minha opinião de uma forma pouco sustentável. Contudo, é do conhecimento público que desde 2014, o segmento da construção dos edifícios estava em franca atividade até ocorrer a crise Covid-19.

Penso que os problemas que todos os profissionais do ar condicionado apontam ao setor e que não foram ultrapassados antes da crise Covid-19, continuarão após a pandemia. Nomeadamente, esses problemas são os preços baixos praticados pela prestação de serviços, o volume reduzido da procura face à oferta de serviços, pois estamos inseridos num mercado interno muito pequeno, e a falta de atualização de conhecimento por parte dos técnicos durante a sua carreira, devido à falta de investimento das empresas e dos seus profissionais. Em resumo, os problemas antes da crise Covid-19, na minha opinião agudizarão no futuro.

O mercado de HVAC na Europa antes do surto de Covid-19 passava por um período de transição, que era principalmente em três frentes - regulamentação, agitação tecnológica e recuperação da indústria da construção em muitos países. No surto pós-Covid-19, o setor está testemunhando uma turbulência financeira.

Desafios

E desafios? Que desafios tem o setor pela frente?

As tendências observadas atualmente no setor do AVAC&R indicam um futuro marcado pela eficiência energética e reduzido impacto ambiental. Penso que estes continuarão a ser os vetores que determinarão o desenvolvimento tecnológico de equipamentos e soluções técnicas no mercado.

Especificamente no campo da climatização em edifícios, já projetamos edifícios com envolventes que contribuem para a redução da carga térmica, e que já não estão somente comprometidos com aspetos estéticos. A conceção e remodelação de um edifício, de modo a que este obtenha um balanço energético nulo (NZEB, Net Zero Energy Buildings), continua a ser um desafio para o futuro. Todavia, já conhecemos a metodologia BIM, e as vantagens de conceber um modelo enriquecido com dados e informações que ultrapassam simplesmente o aspeto puramente geométrico. Por conseguinte, considero que a utilização do BIM será um verdadeiro desafio para o futuro do ar condicionado e de uma forma holística para o edifício.

Embora os avanços na fase do desenho do edifício e na aplicação de novos materiais possam contribuir para o aumento dos níveis de desempenho energético, a manutenção e operação dos sistemas de um edifico, de uma forma inteligente será um dos desafios que também determinará a eficiência energética no futuro. A implementação de soluções baseadas na Internet das Coisas (IoT) será uma das soluções tecnológicas mais fascinantes. A automatização dos edifícios, segundo uma análise e tomada de decisão por algoritmos inteligentes, irão garantir uma operação otimizada, por exemplo dos sistemas de climatização, maximizando o conforto térmico e qualidade do ar interior, assim como a redução do consumo de energia.

Por último, gostaria de destacar mais um outro grande desafio que está presente e que continuará no futuro na indústria do AVAC&R, e que é a obrigatoriedade do uso de refrigerantes naturais com menor Potencial de Aquecimento Global. Com o compromisso de trabalhar neste e em outros desafios, concluo que somente desta forma, conseguiremos reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e alcançaremos a neutralidade carbónica.

Odete de Almeida
Odete de Almeida.

Perfil

Maria Odete Magalhães de Almeida é licenciada em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e tem uma Pós-graduação em Projeto de Sistemas de Climatização de Edifícios – Carrier University, Syracuse, EUA.

Foi co-fundadora da empresa 'Paulo Queirós de Faria – Engenheiros Consultores, Lda.' e responsável pelo departamento de Física de Edifícios, Climatização e Energia. Desempenhou ainda as funções de projetista de Sistemas de Climatização em Edifícios na empresa 'Gestão de Energia Térmica, Lda.'.

Da sua atividade académica, destaque para as funções de Professora Convidada no Instituto Superior de Engenharia do Politécnico do Porto na seguinte unidade curricular:

  • 2019 - Supervisor do Mestrado em Engenharia Mecânica sobre 'Análise numérica de controlo de temperatura da nave da Central Termoelétrica da Ilha Terceira, Açores' usando CFD, software OpenFOAM
  • 2018 - Projeto 1 e PESTM, 3º Ano do Curso de Engenharia Mecânica
  • 2018/19 - Convidada pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit) em cooperação com o Ministério da Educação do Brasil para lecionar uma formação de 120h sobre Eficiência Energética e baixas emissões de CO2 nas cidades de Brasília e Florianópilis.

É, desde 2019, Presidente da Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado (EFRIARC).

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