Transição energética, combate às alterações climáticas e a contínua aposta nas renováveis são as prioridades do País
19 de novembro de 2021 é o dia que fica para a história da produção de eletricidade do País. Marca o momento em que a central do Pego, no concelho de Abrantes, deixou de queimar carvão.
Central Termoelétrica do Pego estava em funcionamento desde 1993. Encerrou a atividade a 19 de novembro. Foto: Ana Clara.
Declaração de interesses, excecionalmente, numa notícia. Sou abrantina, e passei metade da minha vida, na cidade ancorada no rio Tejo.
Do alto dela, com vista privilegiada do Castelo e do seu jardim, avista-se, lá ao longe, a emblemática central termoelétrica, na localidade do Pego.
A imagem vai percorrer-me a vida inteira porque faz parte da paisagem desde 1993 (era eu uma miúda), ano em que começou a operar, ao abrigo de um contrato de aquisição de energia, que garantia, até 2021, a venda de toda a sua eletricidade à rede com receitas pré-definidas.
Falamos de um encerramento inevitável, sobretudo quando o abandono dos combustíveis fósseis passou a ser uma urgência, mas que acarreta, todavia, várias nuances, nem sempre fáceis de resolver: a nível social, com o despedimento de trabalhadores à vista, mas também no que respeita à transição energética. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, já garantiu que o Governo tudo fará para manter os postos de trabalho, mas ainda assim, a incerteza continua a pairar no ar, com sindicatos e trabalhadores, nas últimas semanas, a intensificarem os seus receios, em forma de protestos.
Em marcha está o concurso lançado pelo Governo, em setembro passado (e que decorre até dia 17 de janeiro de 2022), para a reconversão da central. O concurso irá permitir a injeção de energia (que pertence até agora à Tejo Energia). Mas há obrigatoriedades a cumprir em cima da mesa, fruto da aposta nacional nas renováveis: quem vencer a exploração terá de trabalhar unicamente com recurso a fontes de energia renovável e terá de dar garantias da manutenção dos postos de trabalho.
Mas o processo entre os acionistas não tem sido pacífico. Tanto a Trustenergy, acionista maioritária da Tejo Energia, como a Endesa, que tem participação minoritária, assumiram propostas diferentes para a transição: desde a aposta da Biomassa, hidrogénio, energia solar, entre outras energias alternativas. Até janeiro, ainda muito debate público haverá, num processo delicado, sobretudo, pela exigência que acarreta a nível de coesão social e territorial.
Recorde-se que, depois do fecho da central da EDP em Sines em janeiro deste ano, o Pego era, até agora, a única central a carvão em funcionamento no País.
Neste momento, em que a infraestrutura encerra atividade, relembramos as suas principais caraterísticas. A Central Termoelétrica do Pego possuía dois grupos geradores de energia elétrica, cada um equipado com um gerador de vapor, um grupo turbina-alternador e um transformador principal.
O seu equipamento principal eram as caldeiras, os moinhos de carvão, as turbinas, os alternadores e o sistema principal de comando.
Em março de 1993 entrou em serviço industrial o primeiro grupo. A sua plena exploração comercial deu-se em outubro de 1995 com a entrada em serviço industrial do segundo grupo.
Os grupos 1 e 2 da central são idênticos, com uma potência unitária de 314 MW, cada um com a sua própria infraestrutura de apoio - torre de arrefecimento, sistema de alimentação de água e de exaustão.
Os dois grupos partilhavam a extração de água do rio, a estação de tratamento, o sistema de transporte de carvão, a chaminé e alguns outros serviços gerais comuns.
Um investimento significativo foi realizado no âmbito da Diretiva relativa à limitação das emissões para a atmosfera de certos poluentes provenientes de grandes instalações de combustão (Diretiva 2001/80/CE) para minimizar o impacto no que diz respeito às emissões de poluentes atmosféricos pela Central Termoelétrica do Pego.
Quase 30 anos depois, encerra-se, naturalmente, o ciclo da produção de energia pela queima de carvão na histórica central do Pego. Um desfecho que abre outro desafio, premente e urgente: o caminho da energia verde, a descarbonização e um futuro mais sustentável.
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