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Alumínio celebra 200 anos a reinventar a indústria

Do metal do futuro ao motor da descarbonização

Gabriela Costa15/11/2025
Na era da sustentabilidade o alumínio é o motor circular da construção e da energia
A reciclabilidade ‘infinita’ e o peso leve do alumínio tornam-no uma peça-chave na descarbonização das cidades, na eficiência energética dos edifícios e na competitividade da metalomecânica europeia

O setor do alumínio português reuniu-se na Fundação Champalimaud, em Lisboa, para celebrar dois séculos de um material que continua a moldar o mundo e a reinventar-se como pilar da transição energética e da construção sustentável. A conferência, organizada a 10 de outubro pela APAL – Associação Portuguesa do Alumínio, tornou evidente que o metal ‘infinitamente reciclável’ não é apenas um símbolo de modernidade: é, cada vez mais, o motor da descarbonização e da competitividade industrial europeia.

Sessão de Abertura da Conferência '200 Anos do Alumínio'
Sessão de Abertura da Conferência '200 Anos do Alumínio'.

Assinalando a descoberta do alumínio em 1825 pelo físico e cientista dinamarquês Hans Christian Ørsted, o auditório da Fundação Champalimaud encheu-se para ouvir as vozes de quem há décadas defende a sua relevância na indústria nacional. “Estamos aqui para celebrar um amor comum — o amor a um material que completa este ano 200 anos de história”, afirmou José Dias, presidente da APAL, na sessão de abertura. Num discurso emocionado, José Dias destacou o papel do setor na economia circular e na transição para a neutralidade carbónica, naquele que é hoje “um desafio gigante para as empresas”.

Defendendo o trabalho dedicado da APAL para “garantir à indústria portuguesa do alumínio um papel fundamental no processo de transição de uma economia linear para uma economia circular”, enfrentando as atuais ameaças, o dirigente sublinhou o contributo que a associação vem dando a este setor, há 36 anos, para “construir um futuro melhor para esta e para as futuras gerações”.

Perante um painel de governantes (incluindo o secretário de Estado da Energia), líderes associativos, especialistas internacionais e representantes de instituições de referência, e de uma plateia de mais de 300 participantes, o dirigente sublinhou a importância da coesão entre empresas, governo e consumidores: “o alumínio será seguramente o agente da mudança”, concluiu.

Nesta missão coletiva, a ligação entre o alumínio e a política energética nacional será reforçada, garantiu Jean Barroca, secretário de Estado da Energia. “Esta iniciativa é um exemplo claro de como o setor industrial português está comprometido com a sustentabilidade, a descarbonização e o diálogo construtivo, pilares fundamentais para cosntruirmos uma indústria mais verde, mais competitiva e mais resiliente”.

A reciclagem do alumínio, “que sabemos todos, é leve, é durável, é infinitamente reciclável, poupa até 95% da energia face à produção primária e reduz drasticamente as emissões”, sublinhoa. Mas sabemos também que a produção primária ainda depende de fontes fósseis e, por isso, “o caminho é claro: descarbonizar a indústria do alumínio é também descarbonizar a nossa economia”.

Recordando que Portugal já está a construir “uma nova matriz energética, baseada em eletricidade limpa e na qual o hidrogénio verde e o biometano assumem um papel importante”, o governante reiterou o compromisso do Governo com a inovação verde, lembrando que “no setor da energia o alumínio é essencial às estruturas fotovoltaicas, às turbinas eólicas, aos carregadores elétricos, aos condutores e aos sistemas de armazenamento”. Nas palavras de Jean Barroca, “mais do que um metal, o alumínio é um símbolo de resiliência, de inovação e de esperança”.

I Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'
I Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'.

Da descoberta à revolução industrial

Moderado pelo jornalista Luís Ribeiro (SIC Notícias), o primeiro painel recordou a viagem de dois séculos de um metal que passou de curiosidade de laboratório a motor da modernidade. Isolado pela primeira vez em 1825 por Christian Ørsted, o alumínio foi durante décadas mais valioso do que o ouro. Com a revolução industrial, democratizou-se e tornou-se sinónimo de leveza, eficiência e inovação.

Contando com as participações de Armando Pinto e Rute Fontinha, ambos do LNEC, Bernard Gilmont, da ESTAL - European Association for Surface Treatment on Aluminium, Coby Armar, secretário-geral da QUALICOAT, Felipe Quintá, da AEA -Associação Espanhola do Alumínio e José Dias, da APAL, a sessão não só recuperou a história do alumínio, como a das associações e marcas de qualidade que se destacaram no setor nos dois últimos séculos, sublinhando o seu papel na arquitetura e na mobilidade: das janelas e fachadas às estruturas aeronáuticas e aos veículos elétricos.

Hoje, 75% de todo o alumínio alguma vez produzido continua em uso — um dado que, por si só, resume a longevidade e circularidade deste material.

Com um tom assertivo, José Dias referiu que mesmo com a pressão da concorrência internacional, “a Europa deve manter-se fiel à sua ambição de ser ‘best in class’ em termos de descarbonização e de pegada carbónica”. E, nesse aspeto, a indústria europeia está bastante à frente das restantes áreas geográficas”. Mas “ainda existe um conjunto de oportunidades que podemos explorar”, afirmou.

O especialista Bernard Gilmont detalhou o impacto da nova Diretiva de Emissões Industriais, que impõe limites energéticos e ambientais a processos como anodização e lacagem. “Não somos contra melhorar o ambiente”, explicou. Mas é essencial que “as regras europeias sejam realistas e adaptadas às especificidades do setor”.

Da vertente técnica passou-se à urbana. Armando Pinto lembrou que “sem o alumínio não teríamos uma arquitetura tão transparente e iluminada como a que temos hoje e, provavelmente, um ambiente urbano tão confortável”. Na sua perspetiva “graças às caraterísticas do alumínio, de leveza e durabilidade conseguimos criar vãos que passaram de pequenos quadrados (fachadas de 10% de vidro) para fachadas quase totalmente envidraçadas.

O investigador do LNEC recordou ainda o papel pioneiro do LNEC nos bancos de ensaios de janelas e fachadas desde os anos 80, impulsionando a certificação e internacionalização da indústria portuguesa. O alumínio transformou a arquitetura urbana e deu-lhe modernidade.

O tom aqueceu quando Filipe Quintá, presidente da AEA, trouxe o testemunho de quem vive a regulação no terreno: “as metas europeias visaram salvar o mundo, mas acabámos por destruir parte da nossa indústria. Há demasiada burocracia e demora-se anos a obter licenças – para um anodizado, para um lacado, para montar uma fábrica…”. E, com isto, “estamos a importar cada vez mais produtos com maior pegada de carbono, pelas limitações legais impostas na Europa. Acresce que nos Estados Unidos essas mesmas licenças conseguem-se em semanas, acusou. Face a esta realidade, o auditório reconheceu a tensão entre ambição ambiental e pragmatismo industrial.

Rute Fontinha, investigadora especialista em corrosão, lembrou que a sustentabilidade começa na durabilidade. Como afirmou, “um produto certificado contra a corrosão (como o aço) é um produto que dura mais e evita desperdício. O alumínio puro tem, de facto, uma resistência à corrosão que pode ser 120 vezes superior à do aço”. Contudo as ligas de alumínio "já necessitam de um tratamento à superfície para criar uma barreira de proteção” e garantir a longevidade que faz do alumínio um material verdadeiramente sustentável.

A respeito da evolução dos padrões de qualidade das tintas e revestimentos de alumínio, Coby Armar considerou que nas últimas duas décadas se verifica “uma transição de uma abordagem focada na aparência da superfície, dentro da indústria de alumínio, para uma abordagem mais direta e focada na performance dos dados”. O que significa, a nível de códigos de qualidade, especificações e de certificação, a garantia de que “estamos na linha da frente e digitalizaremos todos os nossos processos, incluindo no que concerne certos aspetos no domínio da inspeção”.

Para o especialista em licenciamento, “temos de ser mais diretos quanto aos dados”, já que isso “nos permite reunir toda essa informação e utilizá-la em grupos de trabalho técnicos, para inovar o mais possível dentro da indústria". Este é, na sua área, o maior desafio atual no setor do alumínio, avançou ainda o secretário-geral da QUALICOAT.

II Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'
II Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'.

Sustentabilidade e regulação: entre a ambição e o realismo

Também com moderação de Luís Ribeiro, o segundo painel mergulhou no cerne dos desafios atuais: a sustentabilidade e a regulação ambiental europeia. No total, seis oradores oriundos da indústria, da arquitetura, da energia e da academia convergiram numa ideia central: o alumínio é o material que pode garantir o equilíbrio entre desempenho, durabilidade e neutralidade carbónica. A sua reciclabilidade ‘infinita’ e o peso leve tornam-no uma peça-chave na descarbonização das cidades, na eficiência energética dos edifícios e na competitividade da metalomecânica europeia.

A abrir o painel, Paul Warton, presidente da European Aluminium, respondeu à questão do moderador sobre se o mecanismo Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) da Comissão Europeia está a proteger eficazmente os produtores contra importações com uma elevada pegada de carbono com um rotundo não. “De forma alguma!”, disse, considerando que “é uma coisa terrível para se dizer nesta indústria”, mas, infelizmente, é a realidade. "A boa notícia é que esta é reversível, mas de momento, e tal como o CBAM está elaborado, é uma catástrofe", reiterou. Na teoria, os princípios deste mecanismo são corretos, deveriam proteger a indústria e reduzir o carbono sem impactar a competitividade. Mas infelizmente, pela forma como está escrito, não faz nada disso, detalhou Warton.  

Em suma, “se nos tornamos menos competitivos, desindustrializaremos a Europa e importaremos materiais com elevado teor de carbono”, o que “não é positivo para o planeta”. Na sua opinião, a principal solução para inverter esta situação é implementar efetivamente o ciclo de resíduos. Mas “a indústria tem de agir”, alertou o presidente da European Aluminium. Afirmando a sua confiança no futuro do setor do alumínio em Portugal, Paul Warton destacou o investimento em tecnologias de fusão com hidrogénio verde e processos de extrusão com energia renovável.

A propósito, Paul Voss, diretor-geral da European Aluminium, abordou o desafio energético, defendendo “energia limpa e eficiência industrial”. Para Voss, a UE tem “realmente boas intenções relativamente à descarbonização da indústria europeia, mas o problema está na sua implementação. Aquilo que parecem ser muito bons princípios resulta em grandes problemas na prática”. Temos de nos focar em resolver esses problemas, caso a caso, e “mais além da reparação dos danos”.

Quanto ao alumínio, o responsável acredita que este é o material da transição energética, mas deixa um apelo taxativo: ao contrário das tradicionais normas que aceleravam o desenvolvimento do comércio livre para estimularem as exportações a partir da Europa (com o objectivo de incrementar os negócios dos seus países), o que precisamos atualmente é de um “orçamento seguro para o alumínio, como o aço teve nos últimos anos”, defendeu Paul Voss.

Aline Guerreiro, especialista em sustentabilidade e CEO do Portal da Construção Sustentável, deixou uma mensagem clara: o alumínio é o exemplo perfeito de um material sustentável. “Como já se disse, o alumínio é um material infinitamente reciclável”, ao passo que “o PVC é reciclável em downcycling”. E a sua vantagem é que "de uma janela velha podemos pegar no alumínio e fazer uma janela completamente nova, com as mesmas caraterísticas do alumínio extraído diretamente para a fazer”.

Poderá pensar-se: "mas o alumínio tem imenso consumo energético na sua produção... sim, tem. Mas a sua reciclagem tem uma menor pegada em termos de emissão de carbono, uma vez que só necessita de 5% da energia que foi necessária para produzir o alumínio novo". Isto vai reduzir a sua pegada e, de resto, por imposições globais, a indústria está a adaptar-se ao uso de energias renováveis, acrescenta Aline Guerreiro”. Neste caso, “temos um material quase 100% sustentável”, sublinha.

É que “o infinitamente reciclável tem precisamente a ver com o facto de não perder características ao longo do ciclo de vida do produto”. Neste contexto, a circularidade só é plena se houver recolha e reciclagem eficientes e utilização de renováveis.

Momento do coffee-break na Fundação Champalimaud, em Lisboa, durante a conferência da APAL que celebrou os 200 anos do alumínio...
Momento do coffee-break na Fundação Champalimaud, em Lisboa, durante a conferência da APAL que celebrou os 200 anos do alumínio.

Alertando para o impacto da urgência climática na reciclabilidade do alumínio, o presidente da Associação Zero, Francisco Ferreira, deixou, como habitualmente, uma nota de sensibilização: “estamos no mau caminho. De acordo com dados críticos sobre recolha e gestão de resíduos em Portugal, divulgados pela APA - Agência Portuguesa do Ambiente no início de outubro, aumentámos a nossa produção de resíduos urbanos de 2023 para 2024 em 4%. E 75% dos resíduos que recolhemos são indiferenciados. Claro que os metais são uma fatia muito pequena (1,4%)”.

Mas naquilo que são as metas ambientais nacionais, traçadas pela legislação europeia, “e ainda bem, ou estaríamos muito pior”, os objetivos de reciclagem de resíduos urbanos que temos são de 55% para 2025, de 60% para 2030 e de 65% para 2035. “E estamos em 37%, lamenta Francisco Ferreira. "Falta falar do maior desafio: estes resíduos em grande parte estão a ir para aterro. Temos a meta de depositar em aterro apenas 10% dos resíduos urbanos, em 2035, e atualmente estamos a colocar lá mais de 52%”.

Francisco Ferreira concluiu que sem sistemas eficazes de recolha (porta a porta, pay-as-you-throw e sistemas de depósito e reembolso para latas) a indústria não terá matéria-prima limpa suficiente para alimentar a circularidade do alumínio. Por outro lado, “estamos a conseguir ser autossuficientes nas energias renováveis. Vamos ver nos materiais críticos e naquilo que é possível fazer nas diferentes vertentes da indústria”.

Miguel Saraiva, CEO de um dos maiores atelieres do país, a Saraiva+Associados, levou ao debate na Fundação Champalimaud a relevância do alumínio na construção de fachadas, portas e janelas: "nós, arquitetos, somos os grandes prescritores do alumínio. A construção civil é o rei da sua utilização”. Reiterando que este é um material “bastante versátil nas suas diferentes utilizações”, aponta três pilares de sustentação do alumínio na construção: é sustentável e circular ("um material exemplar na economia circular, algo que não é comum nos materiais da fileira da construção"); é um material fiável (já que 75% permanece em uso desde o século XIX) e serve o seu propósito; e atinge uma recuperação em fim de vida de 92% a 98%, "o que entra em contraponto com os dados de reciclagem dos outros materiais”, enumerados pelo presidente da Zero.

Em relação à compatibilidade e à sua composição, no que diz respeito às fachadas, janelas e portas, “talvez tenha sido o primeiro passo para a construção offsite, que está muito em voga, até pela necessidade urgente de construção”. Finalmente, “tem um papel essencial na reabilitação das cidades: a sua evolução técnica, e não só em termos acústicos e térmicos, tem também uma grande vantagem em relação à replicagem do desenho original”, concluiu o arquiteto.

Na área da engenharia, Duarte Ferreira, diretor geral da Global Decentralized Energy Generation Business Unit do Grupo Greenvolt, alertou para a pressão dos custos energéticos: “a energia é, provavelmente, o custo mais importante que existe na produção da cadeia de valor do alumínio”, cerca de 35%. Trata-se de “uma indústria eletrointensiva e que já tem, inclusivamente, expressão na produção nacional e, portanto, tem acesso aos fundos europeus que existem”. A Greenvolt faz vários projetos para o setor do alumínio em diversos países europeus e, com base nessa experiência, Duarte Ferreira afirma que “as renováveis têm e querem ter sempre um peso a este nível” [dos custos na produção de alumínio].

Dito isto, "à medida que vão aumentando a sua produção com métodos mais eficientes e com a possibilidade oferecer a esta indústria custos competitivos, as renováveis desbloqueiam uma produção mais económica, mais verde e com maior capacidade regeneradora", sublinha Duarte Ferreira. Em conclusão, “é muito importante que haja a eletrificação do processo produtivo, nas suas várias etapas”. E isso cruza-se com a necessidade de soberania energética, isto é, da energia produzida em Portugal, como sugere o jornalista Luís Ribeiro.

O painel sobre sustentabilidade deixou uma certeza: o alumínio é mais do que um material versátil — é uma estratégia industrial para o futuro. A sua integração em fachadas, caixilharias, estruturas energéticas e componentes metalomecânicos confirma-o como um dos grandes protagonistas da construção verde e da economia circular europeia.

III Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'
III Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'.

O futuro do alumínio: metal chave para a reconstrução do mundo

O último painel da tarde projetou o setor para o futuro — um futuro que, segundo Sofia Santos, CEO da Systemic, precisa de ser definido. Em tom provocatório, a economista e especialista em sustentabilidade questionou: “quando falamos de futuro, estamos a falar de quê? De 2026 ou de 2050? Se for de 2026, não vale a pena falar de sustentabilidade, estaremos a falar de curto prazo”.

Defendendo que a indústria europeia está a perder terreno face à Ásia, em países como a China e Japão, onde a regulação ambiental está a acelerar, voltou a questionar: “Se a Europa está a recuar, não estaremos a perder competitividade para quem aposta agora na sustentabilidade?” Ao nível dos investimentos e apoios à indústria (incluindo em países em desenvolvimento), os critérios ambientais e sociais têm de fazer parte das contrapartidas que se dão, alertou.

Na sua opinião, há empresas portuguesas neste setor que identificam o tema da sustentabilidade do alumínio como algo relevante para a sua competitividade nos mercados externos, mas ainda há um caminho muito grande a fazer para as empresas perceberem de que forma este tema pode trazer vantagens. “Na Europa ficamos sempre com esta negatividade face aos obstáculos e àquilo que é novo e esquecemo-nos de ser estratégicos”, criticou. Sofia Santos sublinhou ainda o papel dos instrumentos financeiros verdes: “o setor do alumínio é altamente emissor de CO2 e, portanto, é considerado de elevado risco pelos bancos. Mas isso também significa que há uma enorme oportunidade para atrair financiamento verde.”

Fazendo uma nota prévia, em que lembrou que a aplicação do alumínio é expressiva não só em caixilharias e fachadas, mas também no setor dos automóveis, comboios etc., António Tadeu, presidente do Itecons, destacou as qualidades técnicas do alumínio e os desafios regulatórios: “entendo que qualquer indústria para sobreviver tem de fazer investimentos. Mas acho que o futuro do alumínio é brilhante, pelas suas características. É mais leve, mais durável, reciclável, como já foi dito”.

Quanto ao muito a que a indústria tem de se preparar para breve, “temos de ver o conjunto de regulamentação europeia que está a ser imposto”, afirmou. Alertando para a entrada em vigor do novo Regulamento de Produtos da Construção (RPC), António Tadeu avisou que “vamos ter de declarar desempenhos energéticos e fazer análises de ciclo de vida”. E “isso começa já em 2026”. Sobre a reabilitação urbana, apontou: “temos cerca de 35 milhões de metros quadrados de caixilharia para substituir em Portugal. É uma oportunidade enorme” para o setor do alumínio e que permite a reabilitação de edifícios deteriorados. Também temos de considerar a tendência para “fachadas cada vez mais limpas e perfis cada vez mais minimalistas, o que se prende com o desempenho da própria caixilharia no seu todo”. Finalmente, “temos o desafio dos sensores e outros dispositivos que podemos integrar dentro das caixilharias. Já desenvolvemos portas pivotantes com cerca de seis metros de altura. A indústria tem de se adaptar a todos estes desafios”, concluiu.

Neste contexto, estarão os comerciantes de materiais de construção a conseguir adaptar-se a estas novas exigências? Reforçando a importância de uma adaptação gradual ao conjunto da nova regulamentação europeia, incluindo o Passaporte Digital do Produto (DPP, na sigla em inglês), o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção, José de Matos, lembrou que a Diretiva da Eficiência Energética “vai obrigar a que todos os produtos tenham uma declaração das emissões globais de CO2”, ainda antes do processo de criação dos DPP via RPC, o qual tem de estar concluído em finais de 2027. E ironizou: “se calhar vão ser os chineses a apresentar na Europa os primeiros DPP na construção, e em outros produtos”.

Mas, ainda antes disso, a Diretiva da Eficiência energética vai influenciar a escolha dos materiais, já que “o projeto vai ter de medir não só o desempenho do edifício, mas também o CO2 incorporado nos materiais”. O que obriga a um permanente “equilíbrio entre desempenho [ambiental] e preço”. José de Matos acredita que “os comerciantes estão preparados”, desde logo porque “não têm tanto capital intensivo, têm maior flexibilidade e trabalham com muitos produtos”, ou seja, “se não venderem materiais de alumínio vendem de PVC”. E “atualmente o PVC é mais barato”, logo, “há escolhas”. Ainda assim, muitos clientes (arquitetos, donos de obra) estão preocupados em encontrar produtos sustentáveis. Em conclusão, o desafio do alumínio (com maior dimensão do alumínio no setor das janelas) é mostrar que o investimento compensa.

Especialista em serviços de energia, Jorge Araújo, presidente da APESE - Associação Portuguesa das Empresas de Serviços de Energia, defendeu o papel do alumínio verde: as empresas de serviços energéticos realizam “atividades críticas para a maior competitividade das empresas”. Porque “levam os investimentos nas suas soluções para dentro de portas dos seus clientes industriais”. E Como? Analisando como podem reduzir a intensidade do consumo de energia para alcançar a eficiência energética, incluindo no custo; criando sistemas digitais na indústria de medição e monitorização desse consumo; e alterando e tornando mais barata a utilização de energia, indo buscar ao painel e não à rede, no caso das renováveis. “Estes são os três pontos críticos”, sumariza Jorge Araújo, para quem “a otimização é um ato contínuo”.

Quanto à reciclagem de alumínio, face às metas que temos para 2050, por exemplo na construção, “estamos a reciclar edifícios com uma taxa péssima”. Mas o alumínio verde, produzido com fontes renováveis, “pode ser um fator de diferenciação”. E Portugal, a nível da produção de energia fotovoltaica (e até eólica), “tem uma competitividade muito maior que os países do centro da Europa, com custos muito mais baratos no investimento na produção desta energia”, lembrou.

Em representação do Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Ricardo Duarte recordou as múltiplas utilizações das ligas de alumínio, na indústria automóvel, no design e não apenas na construção, lamentando o aumento do seu custo nos últimos anos. Para o responsável, “a vantagem do alumínio é poder justificar melhor a sua sustentabilidade a longo prazo”. A título de exemplo, não é possível fazer uma janela em alumínio sustentável a 100%, mas é possível fazê-la a partir de outra janela e enviar o remanescente do material para outra utilização”. Na verdade, “tudo se resume a dinheiro e isto é válido também na reciclagem”.

Segundo Ricardo Duarte temos um conjunto de normas dispersas. “Se tivéssemos um conjunto de regras eficazes e os materiais devidamente catalogados seria muito mais fácil escolher os produtos e fazer o seu controlo ecológico”. Ora, o alumínio aqui tem “um papel importantíssimo”, porque “a melhor solução não é aquela que fica mais barata a instalar. É aquela que vai custar menos tempo no ciclo de vida do produto” (desde instalar, a fazer manutenção e substituir). E “o alumínio tem soluções duradouras e sustentáveis”.

Por último, o vice-presidente da ADENE - Agência da Energia, Bruno Veloso, apresentou os instrumentos da ADENE que podem ajudar as empresas do alumínio a reduzir o seu consumo energético, sem comprometer a sua competitividade, como o sistema E-Circular e o sistema energético Classe+. “A indústria do alumínio é uma das mais eletrointensivas e, portanto, das mais consumidoras de energia”, afirmou. “A ADENE quer ser catalisadora e estabelecer parcerias de confiança” com as ações de excelência na ação climática, mas para tanto, “precisamos de perceber o vosso processo produtivo”. Só conhecendo dois parâmetros – redução e intensidade do consumo específico – “é que nós podemos atuar”. Lembrando os roteiros da descarbonização para inúmeros setores, concluiu que “a vantagem é o alumínio ser uma matéria circular”. Considerando fulcral a promoção da literacia energética, Bruno Veloso considerou que “as mudanças de comportamento só existem quando nos tocam no bolso”, concluindo que a ADENE, no seu roteiro para a indústria, pratica a estratégia ‘da teoria à eficiência’.

Os intervenientes fecharam com um foco em inovação tecnológica (eletrificação, hidrogénio verde, digitalização, passaportes digitais de produto) e na necessidade de políticas públicas que alinhem incentivos para manutenção da indústria do alumínio em território europeu.

Da reflexão política às experiências de fábrica, a conferência da APAL mostrou um setor maduro, unido e consciente de que a sustentabilidade é tanto um dever como uma oportunidade. Em 200 anos, o alumínio passou de raridade de laboratório a material essencial para a mobilidade elétrica, a construção eficiente e a energia limpa. Como resumiu José Dias, “não há futuro sem alumínio. E o futuro começa agora”. O metal que mudou o mundo volta, dois séculos depois, a ser o símbolo da sua reconstrução.

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