Durante anos, falou-se sobre energia, sobre conforto térmico, sobre eficiência. Mas há um tema silencioso, quase invisível, que começa a ganhar o destaque que merece: a qualidade do ar que respiramos nos espaços interiores. No passado dia 23 de setembro, a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, foi o palco do lançamento do Pacto Global pela Qualidade do Ar Interior (QAI) — uma iniciativa que reúne líderes políticos, investigadores, especialistas do setor e organizações internacionais, entre as quais a REHVA e a EVIA.
O encontro marcou um momento simbólico. Depois de a ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) terem reconhecido, em 2022, o ar limpo como um direito humano fundamental, este novo pacto vem sublinhar um ponto essencial: passamos cerca de 90% do nosso tempo em espaços fechados, e a qualidade do ar que respiramos nesses locais é determinante para a nossa saúde, bem-estar e produtividade. Respirar ar limpo dentro de portas não deve ser encarado como um privilégio — é uma condição básica de saúde pública.
A má qualidade do ar interior está associada a doenças respiratórias, fadiga, dificuldades de concentração e até à propagação de vírus e bactérias. É precisamente neste contexto que o pacto global ganha relevância: propõe uma ação concertada para garantir ambientes interiores mais saudáveis e sustentáveis.
O documento apela à união entre governos, universidades, empresas e comunidades para implementar políticas e práticas que promovam a ventilação eficaz, a monitorização da qualidade do ar e a redução de poluentes interiores. Entre as prioridades, destacam-se a preparação para futuras pandemias, a resiliência às alterações climáticas e a proteção das populações mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas.
Para o setor AVAC, este movimento representa uma mudança de paradigma. As Unidades de Tratamento de Ar (UTAs) deixam de ser apenas equipamentos técnicos para climatizar espaços — passam a ser parte integrante de uma nova visão sobre o ambiente interior. O foco desloca-se do simples conforto térmico para a criação de ecossistemas saudáveis, onde o ar é filtrado, renovado e controlado com rigor e inteligência.
Mais do que um compromisso institucional, o Pacto Global pela Qualidade do Ar Interior é um ponto de viragem cultural. Obriga a repensar a forma como projetamos edifícios, planeamos infraestruturas e vivemos o quotidiano. É um lembrete de que o ar, embora invisível, é um bem essencial — e que a forma como o tratamos dentro dos edifícios será decisiva para o futuro da nossa saúde e do planeta. Num setor onde a inovação tecnológica e a sustentabilidade caminham lado a lado, este pacto não é apenas um documento: é um apelo à responsabilidade coletiva. Porque garantir um ar interior saudável é, hoje, uma das formas mais diretas de cuidar das pessoas — e de preparar o mundo para respirar melhor, dentro e fora de portas.
O presidente da REHVA, Livio Mazzarella, reuniu-se com todos os parceiros em Nova Iorque para assinar conjuntamente o compromisso global. A organização ficou a cargo do aeroclube, com o apoio dos governos de Montenegro e de França, bem como da Academia Australiana de Ciências.
1. Reconhecer a importância de um ar interior saudável para:
a. Defender os direitos humanos, recordando que o acesso a ar limpo, juntamente com o acesso a água potável, foi consagrado como um direito humano fundamental pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2022.
b. Proteger a saúde de todos, tanto a curto como a longo prazo.
c. Reforçar a preparação para pandemias, tendo em conta que as doenças transmitidas pelo ar são, na sua maioria, propagadas em ambientes interiores.
d. Aumentar a resiliência do ambiente construído face às alterações climáticas. Melhorar a qualidade do ar interior ajudará a proteger contra os impactos atmosféricos resultantes de incêndios florestais, inundações, temperaturas elevadas e poluentes transportados pelo ar.
e. Garantir a segurança e a proteção da saúde no local de trabalho, protegendo os trabalhadores contra riscos biológicos e poluentes transportados pelo ar.
f. Melhorar a acessibilidade e os cuidados para todos, permitindo que todas as pessoas tenham acesso seguro a espaços públicos — especialmente crianças, idosos, comunidades marginalizadas e pessoas com doenças crónicas —, que enfrentam riscos de saúde desproporcionadamente mais elevados devido à má qualidade do ar interior. A exposição das crianças a poluentes transportados pelo ar pode ter efeitos duradouros na saúde.
2. Dar prioridade e promover a ação em prol da qualidade do ar interior, incluindo, quando apropriado, a contribuição para um documento de orientações que defina os próximos passos a considerar.
3. Colaborar entre setores e fronteiras, incluindo governos, organizações não governamentais e o setor privado, contribuindo para uma coligação global que promova o ar interior saudável.
4. Partilhar sucessos e desafios relacionados com as ações em torno do ar interior saudável, de modo a partilhar conhecimento e acelerar a aprendizagem coletiva.
5. Educar e capacitar o público sobre a importância de um ar interior saudável.
6. Apresentar novos parceiros ao Compromisso Global pelo Ar Interior Saudável, fortalecendo o movimento e acelerando o progresso.
7. Reunir-se novamente para partilhar os progressos alcançados rumo a um ar interior mais saudável.
Conheça o Pacto Global pela Qualidade do Ar Interior
https://www.rehva.eu/fileadmin/user_upload/2025/Global_Pledge_on_Healthy_Indoor_Air.pdf


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