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Opinião

A economia da floresta

Carmen Lima*

30/09/2025

A floresta é muito mais do que um aglomerado de árvores. Mais do que as múltiplas cores das diversas espécies de flora e fauna, mais do que a panóplia de odores característicos ou dos trilhos nos levam a recantos mágicos. A floresta é uma "prestadora de serviços" para a Humanidade!

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Para além do fornecimento de recursos diretos - a madeira, a cortiça, frutos e produtos diversos, contribui igualmente com recursos indiretos, através do funcionamento dos seus mecanismos de absorção e limpeza do ar que respiramos (responsáveis pela regulação do equilíbrio ecológico), atua na renovação dos ciclos biológicos e de suporte à biodiversidade, permite o carregamento dos lençóis freáticos, bem como o controlo climático, entre outros diversos serviços. A floresta funciona como uma prestadora de serviços ambientais, sociais e económicos que contribuem para o desenvolvimento local, motivando a fixação da população em zonas remotas, impulsionando o progresso e inovação em diversas indústrias (locais, regionais e nacionais), e oferece valor cultural e recreativo com atividades de lazer. Para além destes “serviços”, a floresta é, sem qualquer dúvida, essencial para a qualidade de vida humana e para a sustentabilidade do Planeta.

Portugal é beneficiado com uma vasta área arbórea, com características únicas, que se ajustam às características climáticas, geológicas e ambientais do nosso país, qualidades que nos permite retirar benefícios, pelo que a sua preservação e proteção deveriam ser uma prioridade nacional, sem demagogias ou “clichés”!

A sinalizar terrenos florestais, uma gestão florestal responsável, a certificação florestal, o reforço do papel dos agentes da vigilância florestal, o reforço de recursos de gestão e proteção, aliadas a uma educação para o correto uso da floresta, são medidas fundamentais para que, apesar de identificadas e algumas delas já implementadas, sejam insuficientes, tal como é insuficiente a ambição para enfrentar este recurso – Floresta -com a responsabilidade necessária atendendo aos desafios que todos os anos surgem, quando as temperaturas sobem.

Entre junho, julho e agosto o risco de incêndio aumenta substancialmente, as amplitudes térmicas ao longo do dia podem ser muito elevadas, obrigando a uma estrutura de retaguarda, de prevenção e proteção, bem estruturada, alicerçada por mecanismos de vigilância e controlo robustos, suportados por meios de comunicação e atuação eficazes.

Não é novidade os impactos associados aos incêndios florestais, desde económicos, materiais, sociais, perda de vidas humanas, são devastadores, com efeitos terríveis para as comunidades, para os serviços que a floresta fornece, com consequências imediatas, ou que se sentem apenas a curto, médio e a longo prazo.

Em matéria de risco climático, os incêndios florestais têm efeitos extremamente relevantes para o mecanismo da regulação meteorológico e das alterações climáticas, na medida em que o fogo e o clima se influenciam mutuamente e este efeito provoca um ciclo vicioso e preocupante, que contribui para agravar o problema.

Por mais que seja importante olhar para a floresta com o verdadeiro romantismo que ela merece, é fundamental mudar o paradigma da sua “leitura”, olhando-a com a responsabilidade e respeito que esta necessita, mensurando todos os serviços – diretos e indiretos, que esta nos oferece, quantificando-os na sua totalidade, analisando ao pormenor o seu contributo do ponto de vista financeiro, ambiental, de prevenção e proteção da saúde das comunidades. Esta análise deverá ser amplamente comunicada, amplamente divulgada, transversalmente analisada e debatida, para que todas as pessoas tivessem conhecimento do real impacte que um ato desta natureza provoca na floresta e na humanidade, e para que as medidas estruturais sustentem a realidade do prejuizo.

Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), em 2022, registaram-se 9.701 ocorrências desta natureza, que resultou em mais de 106.639 hectares de área ardida, e estes números vão aumentar.

Vivemos num único habitat, todos os seres vivos, em equilíbrio de ciclos e sistemas, dando e recebendo de uma forma natural, beneficiando e retribuindo o bem que a natureza nos proporciona, a riqueza (em todas as dimensões) que a floresta nos fornece, que tenhamos a capacidade de a respeitar. As florestas saudáveis atuam como sumidouros de carbono, absorvendo o dióxido de carbono da atmosfera e armazenando-o na biomassa (árvores, plantas, solo). Quando um incêndio ocorre, todo esse carbono acumulado é libertado rapidamente para a atmosfera, assim como outros gases com efeito de estufa - como o metano, contribuindo de forma significativa para aumentar a concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Além de libertarem gases poluentes, os incêndios destroem a própria capacidade da floresta de absorver carbono.

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"É fundamental aprender a interpretar o efeito da destruição na floresta, quantificar o seu impacto direto e indireto, com efeitos na degradação da Humanidade, conhecer a perversão de como esta destruição promove mecanismos que fragilizam e aproveitam esta vulnerabilidade para iniciar ciclos cada vez mais frágeis e destrutivos. O conhecimento é e sempre será a melhor ferramenta de prevenção"

Mais do que a perda de árvores, um incêndio florestal provoca um dos efeitos mais devastadores do ponto de vista do equilibrio da sustentabilidade do Planeta e da Humanidade:

  • Fator Económico: destrói os recursos naturais, os produtos e subprodutos, os materiais, bem como as atividades com valor financeiro associadas a estes habitats;
  • Climáticos: há uma perda de um dos principais mecanismos naturais para mitigar as alterações climáticas - capacidade de absorção de carbono, e em sentido contrário há uma libertação do carbono retido, libertam mais gases de efeito de estufa, o que agrava ainda mais as alterações climáticas, criando condições ainda mais propensas a futuros fogos;
  • Sobrevivência: aumenta o risco de desertificação e de eventos meteorológicos extremos, como inundações, devido à perda da capacidade do solo de reter água.
  • Social: destrói os bens e os mecanismos de subsistência das comunidades locais;
  • Saúde: as partículas libertadas durante os incêndios contribuem para a poluição do ar. Por outro lado, a libertação de gases com efeito de estufa contribuem para impactar a saúde humana e contribuir para o desenvolvimento de doenças respiratórias;
  • Biodiversidade: com a queima da vegetação, o solo fica exposto à ação da chuva e do vento, o que aumenta a erosão. A perda da camada superficial do solo, rica em matéria orgânica, compromete a sua fertilidade e a capacidade de regeneração da floresta. As chamas destroem ecossistemas inteiros, levando à morte de plantas, animais e microrganismos;
  • Escassez de água: as cinzas e os sedimentos transportados pela água da chuva contaminam rios e reservatórios, afetando a qualidade da água e a vida aquática. A camada impermeável que se forma no solo queimado impede a infiltração de água, aumentando o escoamento superficial e o risco de cheias.

Curiosamente, após uma destruição tão feroz como um incêndio, as espécies que beneficiam e rapidamente recuperam e proliferam são as “espécies invasoras”, beneficiando de um cenário de vulnerabilidade e destruição, germinam e expandem-se rapidamente, dificultando a recuperação dos habitats e da biodiversidade composta pela vegetação nativa. Curiosamente, estas espécies invasoras, contribuem para aumentar o risco de futuros incêndios.

É fundamental aprender a interpretar o efeito da destruição na floresta, quantificar o seu impacto direto e indireto, com efeitos na degradação da Humanidade, conhecer a perversão de como esta destruição promove mecanismos que fragilizam e aproveitam esta vulnerabilidade para iniciar ciclos cada vez mais frágeis e destrutivos. O conhecimento é e sempre será a melhor ferramenta de prevenção.

*Carmen Lima

Consultora para a Sustentabilidade

Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST, investigadora na área do Amianto

Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto

Autora do livro “Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável”

Foi Conselheira do Conselho Económico e Social

Carmen Lima, consultora para a Sustentabilidade

Carmen Lima, consultora para a Sustentabilidade.

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