Entrevista com Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal
Com uma visão centrada na eficiência, inovação e sustentabilidade, a Trane tem vindo a redefinir o papel dos edifícios na transição energética. Em entrevista à revista 'O Instalador', Francisco Augusto partilha a estratégia da marca em Portugal, destacando a aposta em soluções inteligentes, o foco na indústria e o papel crescente da inteligência artificial na gestão de sistemas.
Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal
A Trane, nos seus 112 anos, fatura atualmente 20 milhões. No mercado, cria tendências, e os seus colaboradores têm sempre de acompanhar a evolução, não só tecnologicamente, mas também estrategicamente. Neste sentido, ao longo dos 18 anos nesta casa, assisti a algumas apostas que, à data, pareciam ideias condenadas ao fracasso. Retrospectivamente, foram decisões que acrescentaram valor à empresa — e o mercado acabou por nos seguir. Um exemplo disso foi o Rental: começámos timidamente com dois chillers em Portugal e, atualmente, temos centenas de máquinas, contentores frigoríficos e todo o tipo de equipamentos para aluguer. Tal como este exemplo, posso referir os serviços de energia, o controlo das centrais, entre outros.
Futuramente, chegará a tão falada IA. A Trane já está na vanguarda, com a aquisição da empresa Brain Box. Com este investimento, a forma como as centrais serão geridas parece saída de um filme de ficção científica — mas, a curto prazo, tudo o que fazemos atualmente será coisa do passado.
Contrariamente ao que o mercado afirma, o setor do AVAC representa apenas uma pequena parte do nosso negócio. Somos muito mais solicitados na indústria, onde o cliente valoriza outras valências. Não somos uma empresa orientada para o preço — e o AVAC é, essencialmente, um negócio de preço. Especificamente, a Trane é a empresa com o maior número de técnicos próprios, e é aí que se faz a verdadeira diferença na indústria.
A nossa intervenção no mercado é fortemente orientada para a eficiência. A descarbonização é um bom exemplo disso: a indústria procura reduzir os custos energéticos, e os clientes estão cada vez mais focados na eficiência — o que não se resume apenas a equipamentos mais eficientes, mas também a centrais mais eficientes. É precisamente nesse ponto que entra a nossa equipa especializada (TBA), composta por profissionais com competências em diversas áreas, como o controlo e a hidráulica.
Já o setor do AVAC procura eficiência... até ao momento em que descobre que a unidade ou o sistema mais eficiente é mais caro. Nessa altura, a escolha normalmente já não recai na eficiência. Raramente se investe na melhoria das centrais; o foco recai quase sempre na substituição de equipamentos antigos — que, regra geral, são menos eficientes — sem recorrer, necessariamente, à solução mais eficiente disponível no momento.
"A descarbonização é um bom exemplo disso: a indústria procura reduzir os custos energéticos, e os clientes estão cada vez mais focados na eficiência — o que não se resume apenas a equipamentos mais eficientes, mas também a centrais mais eficientes".
No caso dos data centers, a Trane desenvolveu unidades específicas para esse fim. Estas unidades estão equipadas com vários níveis de redundância e sistemas de segurança que asseguram o máximo de fiabilidade. A diferença está nos clientes que compreendem que, para este tipo de aplicação, é essencial investir em unidades adequadas, com opções específicas, e garantir serviços de assistência que muitos fabricantes — sem foco na assistência técnica — não conseguem assegurar.
A Trane investiu fortemente na descarbonização, é um dos mercados onde temos registado maior crescimento. Neste momento, dispomos de unidades que podem atingir os 130 °C de temperatura. Mais uma vez, falamos do setor industrial, no qual somos líderes de vendas com a nossa gama de bombas de calor de muito alta temperatura.
A monitorização remota já é uma realidade e temos inúmeros clientes ligados remotamente à Trane, embora ainda exista um longo caminho a percorrer junto de alguns que não compreendem totalmente o potencial de poupança associado a esta solução, uma perceção que, no entanto, está a mudar com a nova geração que começa agora a assumir funções de decisão.
Disponibilizamos toda a gama com compressores de levitação magnética, que têm registado grande sucesso em centros de dados devido à sua elevada eficiência e ao baixo peso dos equipamentos, uma característica que representa uma vantagem significativa ao nível das estruturas dos edifícios. Lançámos recentemente unidades até 300 kW com o novo fluido natural R290, disponibilizamos também dry coolers integráveis em série com os chillers e temos ainda uma gama dedicada a aplicações industriais de pequena capacidade (MTA), com unidades entre 0,9 e 50 kW, soluções que se distinguem claramente dos chillers convencionais
Já iniciámos as primeiras entregas da gama de UTAs da AL-KO, unidades de altíssima especificação que representam o expoente máximo da qualidade e cuja aplicação está claramente orientada para ambientes industriais exigentes, como farmacêuticas, cultivo de cannabis, hospitais ou processos alimentares, entre outros
Este futuro com a inteligência artificial (IA), como referi anteriormente, já está a acontecer e a Trane, nos próximos meses, irá lançar na Europa a gestão inteligente de centrais, resultado da aquisição de uma empresa de inteligência artificial chamada 'Brain Box'. A curto prazo, as centrais de grandes edifícios — de todo o tipo de indústria, data centers, hospitais, entre outros — serão ligadas a serviços de inteligência artificial, que passarão a gerir essas centrais em várias dimensões.
A nível energético, a IA irá tomar as medidas necessárias para que, em qualquer momento, a central opere no seu nível máximo de eficiência, sendo que atualmente já existem sistemas instalados localmente, mas sem a capacidade de aprenderem as especificidades da central ao longo do tempo em função da carga, das condições exteriores, entre outros fatores, e por isso sem conseguirem agir de forma autónoma para reduzir o consumo sem comprometer a produção
A gestão preditiva da manutenção — e até das intervenções — será outra área crítica, e o cliente poderá, no limite, ver sair a carrinha da Trane sem sequer ter tido conhecimento prévio do motivo da visita, podendo questionar-se se foi uma manutenção, uma avaria ou simplesmente consultar a aplicação da Trane. Tal como referi, nos próximos anos — e refiro-me a muito poucos — esta será a maior mudança no setor, mais significativa do que qualquer outra alteração, na minha opinião
Infelizmente, o setor do AVAC não é atrativo para os jovens — não paga bem aos técnicos nem aos colaboradores em geral. É a realidade, e há que compreendê-la.
No nosso caso, o AVAC é um mercado de baixo valor acrescentado e, por isso, há já alguns anos que a Trane decidiu mudar o foco das suas aplicações. Com as necessidades dos clientes industriais, conseguimos atrair e oferecer salários mais competitivos aos profissionais que muito estimamos — alguns dos quais estão connosco há bastante tempo. A formação interna é sólida, disso não nos podem acusar. Ainda assim, continua a ser sempre um desafio contratar um bom mecânico de frio.
Com a transição digital surge a necessidade crescente de construir centros de dados, que poderão ou não ser implementados em território nacional. E o maior desafio é: como alimentar todos esses edifícios. A transição digital exige um consumo energético muito elevado e com garantias de segurança — sem falhas, sem apagões.
O verdadeiro desafio para todos os setores é a produção de energia limpa e renovável. Muita coisa terá de mudar: a legislação, e sobretudo as mentalidades. Caso contrário, não poderemos continuar a crescer, e os investimentos acabarão por ser realizados onde a energia for mais barata e estável — sem interrupções.
“Muita coisa terá de mudar: a legislação, e sobretudo as mentalidades. Caso contrário, não poderemos continuar a crescer, e os investimentos acabarão por ser realizados onde a energia for mais barata e estável — sem interrupções”
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