Informação profissional do setor das instalações em Portugal

Entrevista com Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal

Onde a indústria encontra a inovação sustentável

Joana Peres09/07/2025

Com uma visão centrada na eficiência, inovação e sustentabilidade, a Trane tem vindo a redefinir o papel dos edifícios na transição energética. Em entrevista à revista 'O Instalador', Francisco Augusto partilha a estratégia da marca em Portugal, destacando a aposta em soluções inteligentes, o foco na indústria e o papel crescente da inteligência artificial na gestão de sistemas.

Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal

Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal

Ao longo de mais de um século, a Trane afirmou-se como uma referência global em soluções de climatização eficientes e sustentáveis. Em Portugal, a operação tem vindo a crescer com um foco claro na indústria e na inovação tecnológica. Francisco Augusto, Country Leader da Trane Portugal, conduz uma equipa que alia experiência técnica à ambição de liderar a transformação digital e energética dos edifícios. Nesta conversa, partilha os principais eixos estratégicos da marca, os desafios do setor e o que esperar da próxima revolução impulsionada pela inteligência artificial.

A Trane é reconhecida internacionalmente por mais de um século de inovação no controlo climático. Como é que essa herança se traduz no dia a dia da operação em Portugal?

A Trane, nos seus 112 anos, fatura atualmente 20 milhões. No mercado, cria tendências, e os seus colaboradores têm sempre de acompanhar a evolução, não só tecnologicamente, mas também estrategicamente. Neste sentido, ao longo dos 18 anos nesta casa, assisti a algumas apostas que, à data, pareciam ideias condenadas ao fracasso. Retrospectivamente, foram decisões que acrescentaram valor à empresa — e o mercado acabou por nos seguir. Um exemplo disso foi o Rental: começámos timidamente com dois chillers em Portugal e, atualmente, temos centenas de máquinas, contentores frigoríficos e todo o tipo de equipamentos para aluguer. Tal como este exemplo, posso referir os serviços de energia, o controlo das centrais, entre outros.

Futuramente, chegará a tão falada IA. A Trane já está na vanguarda, com a aquisição da empresa Brain Box. Com este investimento, a forma como as centrais serão geridas parece saída de um filme de ficção científica — mas, a curto prazo, tudo o que fazemos atualmente será coisa do passado.

Num mercado AVAC cada vez mais competitivo, onde a diferenciação é crucial, o que distingue a abordagem da Trane no contexto português?

Contrariamente ao que o mercado afirma, o setor do AVAC representa apenas uma pequena parte do nosso negócio. Somos muito mais solicitados na indústria, onde o cliente valoriza outras valências. Não somos uma empresa orientada para o preço — e o AVAC é, essencialmente, um negócio de preço. Especificamente, a Trane é a empresa com o maior número de técnicos próprios, e é aí que se faz a verdadeira diferença na indústria.

O setor tem vivido sob pressão devido ao aumento dos custos energéticos e à instabilidade internacional. Que reflexos concretos estas circunstâncias têm tido na atividade da Trane em Portugal?

A nossa intervenção no mercado é fortemente orientada para a eficiência. A descarbonização é um bom exemplo disso: a indústria procura reduzir os custos energéticos, e os clientes estão cada vez mais focados na eficiência — o que não se resume apenas a equipamentos mais eficientes, mas também a centrais mais eficientes. É precisamente nesse ponto que entra a nossa equipa especializada (TBA), composta por profissionais com competências em diversas áreas, como o controlo e a hidráulica.

Esta conjuntura tem levado os clientes a acelerar decisões de investimento em soluções mais eficientes? Notam uma maior sensibilidade em relação à eficiência energética?

Tal como referi, a indústria, sim, tem preocupações energéticas — esses clientes investem efetivamente na poupança e avançam quase sempre para soluções eficientes.

Já o setor do AVAC procura eficiência... até ao momento em que descobre que a unidade ou o sistema mais eficiente é mais caro. Nessa altura, a escolha normalmente já não recai na eficiência. Raramente se investe na melhoria das centrais; o foco recai quase sempre na substituição de equipamentos antigos — que, regra geral, são menos eficientes — sem recorrer, necessariamente, à solução mais eficiente disponível no momento.

"A descarbonização é um bom exemplo disso: a indústria procura reduzir os custos energéticos, e os clientes estão cada vez mais focados na eficiência — o que não se resume apenas a equipamentos mais eficientes, mas também a centrais mais eficientes".

Em setores críticos como os centros de dados, a fiabilidade é essencial. De que forma a Trane tem ajudado estes clientes a garantir operações resilientes mesmo em cenários adversos?

No caso dos data centers, a Trane desenvolveu unidades específicas para esse fim. Estas unidades estão equipadas com vários níveis de redundância e sistemas de segurança que asseguram o máximo de fiabilidade. A diferença está nos clientes que compreendem que, para este tipo de aplicação, é essencial investir em unidades adequadas, com opções específicas, e garantir serviços de assistência que muitos fabricantes — sem foco na assistência técnica — não conseguem assegurar.

A descarbonização dos edifícios é uma prioridade a nível europeu. Quais as soluções no vosso portefólio que mais têm contribuído para esse objetivo?

A Trane investiu fortemente na descarbonização, é um dos mercados onde temos registado maior crescimento. Neste momento, dispomos de unidades que podem atingir os 130 °C de temperatura. Mais uma vez, falamos do setor industrial, no qual somos líderes de vendas com a nossa gama de bombas de calor de muito alta temperatura.

Considerando que os edifícios continuam a representar uma grande fatia do consumo energético, como é que a Trane está a ajudar os seus parceiros a reduzir essa pegada?

A Trane empenha-se em fornecer eficiência, controlar as centrais e garantir, ao longo do tempo, que os equipamentos operam sempre nos níveis máximos de desempenho. O objetivo é disponibilizar uma cadeia completa de serviços que mantenham as centrais consistentemente eficientes.
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A inovação tem sido um dos pilares da Trane ao longo da sua história. Que tecnologias ou soluções recentes já estão implementadas em projetos em Portugal?

A monitorização remota já é uma realidade e temos inúmeros clientes ligados remotamente à Trane, embora ainda exista um longo caminho a percorrer junto de alguns que não compreendem totalmente o potencial de poupança associado a esta solução, uma perceção que, no entanto, está a mudar com a nova geração que começa agora a assumir funções de decisão.

Disponibilizamos toda a gama com compressores de levitação magnética, que têm registado grande sucesso em centros de dados devido à sua elevada eficiência e ao baixo peso dos equipamentos, uma característica que representa uma vantagem significativa ao nível das estruturas dos edifícios. Lançámos recentemente unidades até 300 kW com o novo fluido natural R290, disponibilizamos também dry coolers integráveis em série com os chillers e temos ainda uma gama dedicada a aplicações industriais de pequena capacidade (MTA), com unidades entre 0,9 e 50 kW, soluções que se distinguem claramente dos chillers convencionais

Já iniciámos as primeiras entregas da gama de UTAs da AL-KO, unidades de altíssima especificação que representam o expoente máximo da qualidade e cuja aplicação está claramente orientada para ambientes industriais exigentes, como farmacêuticas, cultivo de cannabis, hospitais ou processos alimentares, entre outros

A gestão inteligente de edifícios está a transformar o setor, a inteligência artificial começa a ser aplicada em várias áreas. Como avalia o impacto das soluções digitais — nomeadamente o controlo remoto inteligente e a manutenção preditiva — na operação diária dos sistemas?

Este futuro com a inteligência artificial (IA), como referi anteriormente, já está a acontecer e a Trane, nos próximos meses, irá lançar na Europa a gestão inteligente de centrais, resultado da aquisição de uma empresa de inteligência artificial chamada 'Brain Box'. A curto prazo, as centrais de grandes edifícios — de todo o tipo de indústria, data centers, hospitais, entre outros — serão ligadas a serviços de inteligência artificial, que passarão a gerir essas centrais em várias dimensões.

A nível energético, a IA irá tomar as medidas necessárias para que, em qualquer momento, a central opere no seu nível máximo de eficiência, sendo que atualmente já existem sistemas instalados localmente, mas sem a capacidade de aprenderem as especificidades da central ao longo do tempo em função da carga, das condições exteriores, entre outros fatores, e por isso sem conseguirem agir de forma autónoma para reduzir o consumo sem comprometer a produção

A gestão preditiva da manutenção — e até das intervenções — será outra área crítica, e o cliente poderá, no limite, ver sair a carrinha da Trane sem sequer ter tido conhecimento prévio do motivo da visita, podendo questionar-se se foi uma manutenção, uma avaria ou simplesmente consultar a aplicação da Trane. Tal como referi, nos próximos anos — e refiro-me a muito poucos — esta será a maior mudança no setor, mais significativa do que qualquer outra alteração, na minha opinião

A Trane está associada a edifícios emblemáticos a nível global. Em Portugal, pode partilhar algum projeto que considere particularmente relevante ou diferenciador?

Sem mencionar nomes, os dois maiores centros de dados em construção ou remodelação no país, no último ano, foram — e continuarão a ser — fornecidos com equipamentos da Trane, tal como o maior hospital do país, que também foi equipado com soluções da marca.

Que setores de atividade têm mostrado maior dinamismo na renovação ou modernização dos seus sistemas? Há áreas em destaque?

Sim, os centros de dados e as farmacêuticas, especialmente os fabricantes de cannabis.
“Este futuro com a inteligência artificial (IA) já está a acontecer e a Trane, nos próximos meses, irá lançar na Europa a gestão inteligente de centrais, resultado da aquisição de uma empresa de IA chamada 'Brain Box'. A curto prazo, as centrais de grandes edifícios — de todo o tipo de indústria, data centers, hospitais, entre outros — serão ligadas a serviços de inteligência artificial, que passarão a gerir essas centrais em várias dimensões”
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A falta de profissionais qualificados é uma preocupação transversal no setor. Como é que a Trane está a responder a este desafio?

Infelizmente, o setor do AVAC não é atrativo para os jovens — não paga bem aos técnicos nem aos colaboradores em geral. É a realidade, e há que compreendê-la.

No nosso caso, o AVAC é um mercado de baixo valor acrescentado e, por isso, há já alguns anos que a Trane decidiu mudar o foco das suas aplicações. Com as necessidades dos clientes industriais, conseguimos atrair e oferecer salários mais competitivos aos profissionais que muito estimamos — alguns dos quais estão connosco há bastante tempo. A formação interna é sólida, disso não nos podem acusar. Ainda assim, continua a ser sempre um desafio contratar um bom mecânico de frio.

Que prioridades estratégicas traçam para a operação da Trane em Portugal nos próximos anos?

Temos de investir na inteligência artificial e em tudo o que isso implicará no mercado.

Se tivesse de identificar o maior desafio — e a maior oportunidade — que o setor enfrentará até 2030, quais destacaria?

Com a transição digital surge a necessidade crescente de construir centros de dados, que poderão ou não ser implementados em território nacional. E o maior desafio é: como alimentar todos esses edifícios. A transição digital exige um consumo energético muito elevado e com garantias de segurança — sem falhas, sem apagões.

O verdadeiro desafio para todos os setores é a produção de energia limpa e renovável. Muita coisa terá de mudar: a legislação, e sobretudo as mentalidades. Caso contrário, não poderemos continuar a crescer, e os investimentos acabarão por ser realizados onde a energia for mais barata e estável — sem interrupções.

“Muita coisa terá de mudar: a legislação, e sobretudo as mentalidades. Caso contrário, não poderemos continuar a crescer, e os investimentos acabarão por ser realizados onde a energia for mais barata e estável — sem interrupções”

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