As baterias dos automóveis 100% elétricos podem contribuir para que mais pessoas e empresas embarquem na transição energética.
Nas últimas duas décadas, a redução das emissões em Portugal — vista como um sucesso — deve-se em grande parte ao sistema electroprodutor e à penetração de energias renováveis que, em 2024, foi de 70%. Embora esta evolução nos deixe a todos orgulhosos, traz desafios como a ocorrência mais frequente de períodos de excesso de produção de energia solar e eólica. Esta situação leva a preços perto ou abaixo de 0€/MWh, criando, no mínimo, um problema para os produtores de energias renováveis que procuram vender a energia produzida à rede e, no máximo, desequilíbrios na rede com consequências imprevisíveis.
Este problema tem vindo a ser mitigado pela capacidade de armazenamento de algumas barragens nacionais, que absorvem energia durante o pico de produção solar e a disponibilizam nos picos de consumo, ao fim do dia. Está previsto um aumento desta capacidade, mas até lá são necessárias outras soluções para garantir a maximização da utilização da energia renovável disponível. Aqui, estados como o Texas ou a Califórnia — líderes na integração de baterias na rede — mostram que estas podem ser uma solução viável. Algo já reconhecido pelo Estado português, que vai apoiar com 100 milhões a instalação de baterias para a rede elétrica.
Neste caminho de utilização de baterias para equilíbrio da rede, há uma oportunidade que não devemos deixar escapar. As baterias dos automóveis 100% elétricos podem contribuir de forma importante para este equilíbrio, permitindo, em simultâneo, que mais pessoas e empresas embarquem na transição energética. Para podermos aproveitar este potencial, será necessária uma atuação determinada em, pelo menos, três vetores: legislação, infraestrutura e inovação nos serviços.
A revisão do regulamento da mobilidade elétrica poderá abrir oportunidades para fomentar estes serviços. A própria AFIR (Regulamento da Infraestrutura para os Combustíveis Alternativos) formaliza a figura de ‘Prestadores de Serviços de Mobilidade’. Na infraestrutura, a transposição da EPBD (Diretiva do Desempenho Energético dos Edifícios) irá impulsionar a disponibilização de infraestrutura de carregamento inteligente e bidirecional. Estas ações permitirão desenvolver e testar produtos e serviços inovadores para empresas e utilizadores de veículos elétricos, garantindo um maior retorno para estes utilizadores pela sua escolha.
Não temos uma bala de prata, mas temos uma bala de lítio. Fomentando a adoção de viaturas elétricas, a disponibilização de infraestrutura inteligente e serviços de flexibilização atrativos para o utilizador, podemos ter nas baterias dos veículos elétricos uma solução para que as emissões dos transportes iniciem uma tendência descendente, ao passo que a rede elétrica se torna mais verde e resiliente.
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