Grupo Midea SGT
Informação profissional do setor das instalações em Portugal

Plano de resgate em espaços confinados

Manuel Martinho | Engenheiro de Segurança no Trabalho11/06/2025
…Continuação do número anterior…
Imagen

A emergência em espaços confinados pode ter como principais causas específicas a presença de poeiras e gases tóxicos, a existência de substâncias inflamáveis que podem gerar explosão e a insuficiência de ventilação, a que se podem associar todos os outros fatores de risco mais comuns, como os trabalhos em altura, a instabilidade estrutural, a exposição a temperaturas elevadas ou extremas, os contactos elétricos, a iluminação insuficiente que gera quedas, choques e a utilização de equipamentos de trabalho. Infelizmente, também fatores como o ‘stress’, fobias, ansiedade etc. podem alterar a perceção do(s) trabalhador(res) e levá-lo(s) a perderem a consciência no espaço confinado.

Por vezes, também o primeiro socorrista ou a pessoa no local que faz de ‘socorrista’, por precipitação na assistência, acaba por ser a vítima por formação e conhecimento desadequados, dando origem a casos de fatalidades dos possíveis socorristas e os primeiros participantes sobrevivem.

Podemos considerar que a emergência em espaços confinados de dois tipos:

I. Com riscos conhecidos - Aquela em que, sendo os riscos conhecidos, foram tomadas medidas preventivas. Aqui, o planeamento é a ferramenta que ajudará a detetar as possíveis falhas, sejam dos procedimentos, humanas, de equipamento e de gestão, que podem ser a sua causa de emergência.

II. Sem riscos conhecidos – Ocorre em espaços confinados que não são reconhecidos, nem classificados como tal previamente e, por conseguinte, não foram tomadas medidas de prevenção, nem desenvolvidos planos de emergência. Nestas circunstâncias, a resposta à emergência seguramente ocorre no ‘just in time’ e será mais lenta a prontidão da resposta, uma vez que, desconhecidos os riscos e as condições existentes, não existe um plano de ações a desenvolver.

A resposta a situações de emergência pode ou não requerer a entrada no espaço confinado de uma equipa de socorro, daí a necessidade, desde logo, de se optar e prever desenvolver uma resposta que considere se é mais adequada a entrada ou não no espaço confinado da equipa de emergência.

Imagen

Por exemplo, a assistência sem entrada em espaço confinado deverá considerar:

i. Evacuação – Um potencial(ais) risco(s) é detetado, sendo emitido um alerta com indicação para o abandono do local, uma vez que já não é seguro para os ocupantes permanecerem no interior do espaço. Esta situação requer que os ocupantes se movimentem para o exterior do local e se concentram no ponto de encontro.

ii. Se o sinistrado apenas tem ferimentos leves e ou moderados - Neste caso, a torção, cortes, abrasões, queimaduras de primeiro grau, contusões, arranhões, e alguns tipos de fraturas fechadas. O ferido ainda continua consciente e apto a colaborar na evacuação, sem necessidade da presença de um socorrista junto a si, porém, após a sua saída, o ferido deve ser estabilizado e conduzido para assistência médica.

iii. Autorresgate – Como o nome refere, tem lugar quando o próprio trabalhador perceciona o risco e toma medidas para se proteger realizando a saída em segurança. Usa os equipamentos adequados e age conforme a capacidade disponível para o resgate. Não será, contudo, de considerar a permissão para que alguém faça este resgate em espaço confinado sem se certificar de que o colaborador saiba como se proteger.

iv. O resgate sem entrada no espaço confinado - Ocorre quando um trabalhador se mantém consciente e precisa da ajuda de um socorrista do lado de fora. O socorrista, sem entrar no espaço confinado, utiliza uma linha da vida dedicada para fazer um resgate assistido, engatando-o a um sistema de recuperação (sistema de ancoragem como guichos e tripés, cinto de “paraquedista” e dispositivo de conexão, como o guincho ou trava-quedas) fora do espaço confinado e, dessa forma, a vítima é puxada, sem necessidade da entrada do socorrista. Na maior parte das vezes, envolve uma única vítima que usa um cinto de segurança e uma linha de vida.

Notas: Este tipo de resgate apenas será possível em espaços de morfologia simples verticais ou horizontais, como em poços com profundidade ou coretes técnicas sem curvas e labirintos. Além disso, a superfície ao redor deve suportar o peso da pessoa a ser resgatada, mesmo com o apoio de sistemas de recuperação mecânicos.

O resgate sem entrada não pode ser utilizado para um indivíduo que esteja preso, enredado ou preso dentro do espaço. Pode ser utilizado em situações de engolfamento, desde que a quantidade de material engolfado seja suficientemente pequena para permitir que a vítima seja desenterrada utilizando a capacidade da linha de vida.

Imagen

Já a assistência com entrada em espaço confinado, por representar maior perigo para o socorrista, deve tanto quanto possível ser evitada pois o socorrista ou resgatador entra no espaço perigoso. O planeamento e a comunicação são vitais, bem como os protocolos de verificação de segurança devem ser escrupulosamente cumpridos.

Havendo suspeita de alteração de condições no espaço, como causa da emergência, devem ser repetidos os testes e a monitorização adequados, como já referido, a avaliação da atmosfera por detetores de gases, sempre antes da entrada da equipa de resgate, é necessária de forma a garantir que não há risco de exposição a atmosferas inflamáveis, e assegurar o nível de exposição respiratória adequado e uso os equipamentos de proteção adequados.

A entrada da equipa de emergência não deverá fazer-se sem que esteja salvaguardada a sua segurança, com vestuário adequado, a comunicação para o exterior, o aparelho de monitorização do ar a todo o momento e até o aparelho de respiração autónoma.

Neste tipo de emergência, será de refletir:

i. Se o sinistro requer intervenção no local – Quando resulta do acidente trauma severo, ou outro problema que requeira assistência e tratamento à(s) vítima(s) antes de ser(em) retirada(s) do espaço confinado, sendo que esta ação inclui a estabilização inicial da(s) vítima(s) e tratamentos prévios antes da ser retirada do espaço confinado.

ii. Tratando-se de cenários de elevada criticidade, não só pelo que referi, como pela sua configuração, dimensão, perfil angular dos percursos, luminosidade, obstáculos ou outros, são fatores que configuram condicionantes para a ação dos socorristas e na forma de fazer um resgate.

iii. Porque múltiplas vítimas podem estar envolvidas, algumas até inconscientes, o fator tempo é de importância capital para o socorro, até porque não sendo prestado a tempo, isto é, nos primeiros minutos após o acidente, pode ser causa próxima para danos cerebrais e outros irreversíveis.

iv. Atender aos riscos a que os próprios socorristas podem estar expostos, ou atá a novos riscos adversos e majorados em resultado do acidente, os quais podem ou não acrescer aos riscos que estiveram na origem do sinistro em causa, por exemplo, maiores concentrações de contaminantes no ar ou deficiência de oxigénio,

v. O ‘stress’ físico e psicológico durante o resgate ocasionado pela corrida contra o tempo para prestar socorro e retirar a vítima(s) do local em segurança e sem correr riscos para si também é critico e não pode deixar de ser tomado em consideração.

Pelo referido, podemos depreender dos tipos e ações de resgates em espaços confinados esta é a mais severa, não somente pela urgência temporal preciosa, como para os recursos que mobiliza e envolve.

Plano de resgate em espaços confinados

Os desafios que se colocam perante um incidente ou acidente em espaço confinado são geralmente afetados por fatores de tempo críticos, deterioração dos ambientes/condições atmosféricas e/ou baixa disponibilidade de recursos e equipamentos e, desde logo, da entrada para resgate de acidentados.

O resgate de entrada representa o maior perigo para o socorrista, daí que devam ser evitados sempre que possível. Porém, se não puder ser evitado, deverão considerar-se como fundamentais os aparelhos de respiração autónoma de pressão positiva, as linhas de vida, os arneses, os sistemas de recuperação, de preensão e ancoragem e o vestuário de proteção para a equipa de socorro.

Também o planeamento e a comunicação são vitais no resgate e, desde logo, todos os protocolos de verificação de segurança, como se fará a entrada, se necessária, com ou sem suspeita de que uma alteração no espaço, independente da causa da emergência, testando e monitorizando.

Alguns resgates podem ser muito técnicos, daí a necessidade de um conjunto de diretrizes e procedimentos que visem garantir a resposta a emergências, em segurança, isto é, um plano de emergência adequado para o espaço confinado no local é fundamental para que seja bem-sucedido.

As atmosferas que contêm produtos químicos corrosivos, onde a exposição da pele representa uma ameaça, reclama dos socorristas o uso de roupa de proteção química antes da entrada, mas também deve haver cuidado na escolha do material do arnês de nylon e da corda.

A aplicação de um cinto de segurança e de uma linha de vida a alguém que usa vestuário técnico com equipamentos acoplados, totalmente encapsulado, tem os seus desafios. Pela volumetria que se cria, pode impedir e até restringir movimento no espaço e na abertura de acesso ou saída.

O transporte para o interior de um espaço confinado do equipamento de assistência, tal como mochilas com material de socorro, macas ou outros dispositivos de estabilização de sinistrados, deve ser avaliada e, se possível, ser introduzidas de forma autónoma, para que não se transformem num obstáculo à movimentação e à remoção para fora dos sinistrados.

A condução da operação deve ser assegurada por um coordenador de emergência, cujo conhecimento dos cenários, conhecimento e entrosamento com a sua equipa, conhecendo os seus pontos fracos e fortes e capacidade de dirigir a operação, depende o sucesso ou o fracasso, antes mesmo de ir até ao local do acidente.

Cabe-lhe a escolha de seu pessoal, levando em conta o seu conhecimento e destreza, a condição física de cada pessoa, e principalmente fobias, como medo de locais fechados, altura ou ainda medo de estar sob pressão, sendo que a melhor forma de assegurar estas qualificação é a prática regular em simulacros.

Imagen

Equipamentos para resgate em espaço confinado

Para resgate em espaço confinado há uma gama variada de equipamentos englobando uma série de componentes, por exemplo:

i. Kit tripé, ou seja, o conjunto composto por tripé de diferentes alturas, como o dispositivo rotativo para a alteração da direção ou distribuição de carga, guincho de ascensão e descida e resgatadores e corda de poliamida semiestática de 50 ou 100 metros e acessórios;

ii. Maca flexível, resistente e de fácil utilização;

iii. Conjunto de iluminação com luminárias;

iv. Exaustor/insuflador axial;

v. Componentes de acesso por cordas: cinto paraquedista, capacete, ascensores, trava-quedas e mosquetões;

vi. Detetor de gás: portátil, para quatro gases – CO, O2, H2S e LEL;

vii. Equipamento de respiração, kit cavalete de ar, proteção autónoma e compressor de ar.

Imagen

Como fator decisivo para a aquisição deverá verificar-se a conformidade com a Norma EN 795B (pontos de ancoragem portáteis), e resistência dos materiais constituintes.

Os tripés e sistemas de roldanas, instalados previamente à entrada, devem ser dispostos de modo a que haja uma hipótese mínima de emaranhamento das linhas, com sistemas de recuperação e cintos de segurança. A equipa de emergência, cujos elementos serão atribuídos em função na operação, deverá ser composta com um mínimo de elementos configurado no Plano de emergência.

As funções e tarefas desses elementos da equipa de emergência podem configurar-se com um sistema de ‘checklist’ de controlo onde constarão os dados de monitorização do ar (O2, limites   de explosividade, gases tóxicos, temperatura), confirmar sistemas de bloqueio, procedimentos de Lockout/Tagout (LoTo) que traduzem as medidas de inserção de bloqueios e/ou colocação de sinalização sobre um interruptor, válvula, ou outro, por forma a evitar a reativação do equipamento.

Algumas tarefas a distribuir entre a equipa:

i. Isolamento de área;

ii. Monitorização de gases e contaminantes;

iii. Sistemas de bloqueio e etiquetagem;

iv. Ventilação do ambiental;

v. Comunicação com socorristas;

vi. Controlo de equipamentos de ventilação (extração ou insuflação);

vii. Cabos ou cordas (linhas da vida);

viii. Montagem de tripés e sistemas de ancoragem;

ix. Inspeção manual e visual de equipamentos e socorristas que na entrada no espaço confinado;

x. Local de recuperação para acidentados presos ou estão em locais de acesso difícil/inviável para quem resgata/socorre e outros meios remotos para recuperação de sinistrados;

xi. Condição de iluminação e sua manutenção;

xii. Acesso, estabilização e retirada da vítima;

xiii. Recolha de cabos e linhas de vida;

xiv. Descontaminação de pessoal e equipamentos;

xv. Uso de sistema de tração;

xvi. Recolha de equipamentos;

xvii. Registro de ações tomadas durante o resgate.

Por se tratarem de manobras muito perigosas, este tipo de resgate apenas deve ser tentado por técnicos especificamente treinados neste procedimento.

Desafios do resgate em espaço confinado

Embora os trabalhos em espaços confinados sejam essenciais para a operação de muitas indústrias, a segurança deve ser de primordial importância buscando soluções inovadoras e conhecimento especializado capazes de garantir operações seguras e em conformidade com as normas mais exigentes.

A utilização de drones e outros dispositivos remotos para inspeções em espaços confinados é uma alternativa moderna que reduz a exposição de trabalhadores a riscos diretos.

Em continuação … até o próximo artigo.

REVISTAS

Bosch - Termotecnologia, S.A. (Bosch Junkers)Válvulas Arco, S.L.

Media Partners

NEWSLETTERS

  • Newsletter O Instalador

    02/06/2025

  • Newsletter O Instalador

    26/05/2025

Subscrever gratuitamente a Newsletter semanal - Ver exemplo

Password

Marcar todos

Autorizo o envio de newsletters e informações de interempresas.net

Autorizo o envio de comunicações de terceiros via interempresas.net

Li e aceito as condições do Aviso legal e da Política de Proteção de Dados

Responsable: Interempresas Media, S.L.U. Finalidades: Assinatura da(s) nossa(s) newsletter(s). Gerenciamento de contas de usuários. Envio de e-mails relacionados a ele ou relacionados a interesses semelhantes ou associados.Conservação: durante o relacionamento com você, ou enquanto for necessário para realizar os propósitos especificados. Atribuição: Os dados podem ser transferidos para outras empresas do grupo por motivos de gestão interna. Derechos: Acceso, rectificación, oposición, supresión, portabilidad, limitación del tratatamiento y decisiones automatizadas: entre em contato com nosso DPO. Si considera que el tratamiento no se ajusta a la normativa vigente, puede presentar reclamación ante la AEPD. Mais informação: Política de Proteção de Dados

www.oinstalador.com

O Instalador - Informação profissional do setor das instalações em Portugal

Estatuto Editorial