Este foi o mote para a discussão, em formato de mesa redonda, que decorreu a 10 de abril no Auditório F&P Espaço Eficiência Energética no Pavilhão 4 na edição deste ano da Tektónica. Paulo Bessa, Jorge Carvalho, Luís Graça e Nuno Roque foram os oradores do evento organizado pel’O Instalador e que juntos discutiram as medidas mais urgentes para ultrapassar os desafios do setor.
À semelhança da edição anterior da Tektónica, O Instalador promoveu, no primeiro dia da feira — que decorreu na FIL, entre 10 e 12 de abril —, uma mesa redonda dedicada aos principais desafios do setor AVAC em Portugal. Depois de, em 2024, o foco ter estado no novo Regulamento F-Gas, este ano o debate centrou-se na escassez de mão de obra, na transição energética e nas oportunidades de inovação tecnológica, reunindo representantes de empresas e organizações setoriais.
Durante 45 minutos, os quatro oradores convidados partilharam preocupações e propostas para um setor que se encontra em mudança acelerada, marcado por exigências regulamentares, transformação tecnológica e novas expectativas por parte dos consumidores.
Nuno Roque, diretor-geral da APIRAC, destacou o período em que vivemos, “de grandes transformações legislativas e regulamentares, motivadas por temas de fundo, como o impacto ambiental e a necessária descarbonização, a gestão eficiente dos recursos e o desempenho energético condizente com a sociedade evoluída que desejamos ser. Esta resposta tem de ser dada enquanto sociedade e, de modo mais micro, por diversos setores económicos, entre os quais o nosso. Os edifícios, que são compostos por diversos sistemas técnicos, e nomeadamente energéticos, representam 40% do consumo energético na União Europeia e são responsáveis 36% das emissões em CO2”.
Por essa razão, “as empresas e os profissionais do nosso setor são convocados a entregar respostas que resolvam estes impactos e apontem soluções mais eficientes energeticamente, sem utilização de combustíveis fósseis”.
Quanto às medidas mais urgentes a serem tomadas para fazer face aos desafios, Nuno Roque indica que estão a ser desenvolvidas soluções tecnológicas “para responder com a maior capacidade ao desafio extremamente exigente que se coloca ao setor e às empresas, em particular. Do ponto de vista ambiental, as bombas de calor serão a forma mais económica e neutra para efeitos de aquecimento e arrefecimento, embora se apresentem ainda como um investimento dispendioso para os consumidores. Os decisores políticos têm de corrigir esta situação, comprometendo-se inequivocamente com as tecnologias das bombas de calor, criando condições económicas favoráveis para a solução de climatização mais limpa que existe”.
Como medida imediata, o responsável da APIRAC defende que “as políticas devem visar a redução do custo da eletricidade para aplicações residenciais, comerciais e industriais. Exige-se uma ação governamental concreta, que crie condições económicas mais favoráveis do que as existentes. Mas, no cenário real de concentração urbana existente, a rede de distribuição e a rede de fornecimento não estão preparadas para a implantação em massa de bombas de calor, pelo que se impõe, a par, uma descentralização da produção, aproximando a produção do local de consumo, mitigando as inadequações de infraestrutura da rede elétrica e reduzindo o custo da eletricidade para as aplicações referidas”.
Com esta solução, o calor que seria normalmente dissipado é canalizado para aquecer água, reduzindo o desperdício e respondendo a novas exigências regulatórias, como o fim da obrigatoriedade de redes de gás em novos edifícios. “Há uma transição de caldeiras e esquentadores para bombas de calor, mas depois surge a questão: onde se colocam esses depósitos, dentro de casa ou na varanda? Estes novos sistemas permitem localizar dentro de casa o deposito de água quente, já que são sistemas com um diâmetro de 50 centímetros, cabem num armário de 60X60”, sublinhou.
Jorge Carvalho, Business Director da Eurofred, alertou para os riscos da guerra de preços num mercado em crescimento, mas onde a diferenciação se torna cada vez mais desafiante. “Acima de tudo, o que se tem de vender é a solução porque o mercado está a crescer. O boom doméstico foi muito grande, as alterações climáticas são uma realidade e o mercado não cresce à proporção do que as marcas desejam, daí a guerra de preços”, explicou.
“O cliente tem de sentir que há uma mais valia na compra do produto e também temos de apostar na formação dos clientes. Mais do que poupar, é importante não desperdiçar”. E destacou duas palavras ainda causam confusão, mas que deviam andar casadas: eficiência e eficácia. “Os sistemas têm de ser eficientes, mas eficazes. Não me serve de nada um sistema eficiente quando, nos picos de calor, não funciona”.
Jorge Carvalho abordou ainda a falta de associativismo que se vive no setor. "Digo isto com alguma mágoa porque fui dirigente durante vários anos [APIRAC e EFRIARC] e já notava isso. A primeira coisa que as pessoas perguntam é: 'o que é que eu ganho com isto?' É preciso carolice, não saturar os dirigentes atuais para não desistirem no final dos mandatos, tem de haver sempre uma renovação e cativação".
Entre as medidas mais urgentes a tomar para ultrapassar estes desafios, Luís Graça destaca “uma legislação mais eficiente, menos burocrática e com planos alargados para uma adaptação gradual das empresas às alterações legislativas relacionadas com a descarbonização. Não há um planeta Europa, há um planeta Terra e, como tal, estes processos deveriam ser à escala global e não local”.
Para Nuno Roque, “o setor da refrigeração, ar condicionado e bombas de calor é incontornável e fundamental para o bem-estar da sociedade, mas 75 % dos edifícios da União Europeia ainda são ineficientes do ponto de vista energético. Por conseguinte, a redução do consumo de energia, em consonância com o princípio da prioridade à eficiência energética e a utilização de energia proveniente de fontes renováveis no setor dos edifícios constituem medidas importantes e necessárias para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e a pobreza energética na União. O setor térmico está na primeira linha de resposta às necessidades e exigências. Neste contexto, a APIRAC irá, como tem sido o seu compromisso, apoiar os associados na transição para soluções mais ecológicas, assegurando que a sustentabilidade do setor da refrigeração e da climatização é tida em consideração na legislação e regulamentações relativas à energia”.
O debate promovido por O Instalador na Tektónica 2025 veio confirmar que o setor AVAC vive um momento de viragem. Entre constrangimentos estruturais e avanços tecnológicos, os profissionais mostram-se conscientes da sua responsabilidade na transição energética e na construção de um modelo mais sustentável. A inovação, a formação e a cooperação setorial surgem como pilares essenciais para um futuro mais eficiente e resiliente.
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