No setor energético, os dados (e a sua análise) são fundamentais para retirar conclusões, perceber como se comporta o sistema, que metas se devem estabelecer e que direção tomar para as atingir. No entanto, existem três grandes barreiras: a recolha de dados do sistema; a correta leitura e interpretação dos mesmos e a disseminação imparcial e completa da informação do setor.
Em Portugal, existem várias entidades responsáveis, com funções e responsabilidades distintas, pela recolha e publicação dos dados do setor da energia – DGEG, ERSE, REN, OMIP – entre outras. Cada uma publica dados diferentes, mas complementares para retirar conclusões precisas sobre o setor. Ora, aqui levanta-se a primeira barreira: recolher a informação de todas as entidades e correlacioná-la.
Além de se tratarem, muitas vezes, de dados com granularidade diferente, a informação está distribuída por várias fontes, com diferentes intervalos de atualização e publicação, e até mesmo por várias páginas, dentro da mesma entidade.
Acrescendo a isto, a recolha e interpretação de toda a legislação, sendo igualmente complexa, complementa muitos dos dados publicados. O setor está em constante desenvolvimento, em prol de um sistema mais eficiente e descarbonizado, como resposta à ambição europeia e nacional para uma economia mais robusta, e com maior independência energética. Isto leva à publicação de um elevado número de peças legislativas, normalmente extensas e de leitura minuciosa.
Num setor que requer cada vez mais conhecimentos multidisciplinares – engenharia, direito, gestão, finanças, entre outras -, esta complexidade traduz-se num grande volume de recolha e análise de dados e informação e uma barreira à compreensão aprofundada do funcionamento do sistema energético.
Mais do que os erros provenientes da recolha de informação, existe uma grande facilidade em tirar conclusões, no mínimo, incompletas, com base nos dados do setor. Usando um exemplo simplista, ao verificar o preço da eletricidade produzida por uma tecnologia, sem verificar a quantidade de eletricidade gerada pela mesma, pode-se obter conclusões erradas de que essa tecnologia contribuiu para um grande aumento do preço médio.
A utilização de terminologia específica, como “garantias de origem”, “deslastre de produção” ou “tarifas feed-in” podem soar a palavrões exclusivos, o que cria uma lacuna entre especialistas e cidadãos. Essa barreira não só restringe o acesso ao conhecimento, mas constringe a participação ativa da sociedade no debate sobre política energética. Quando os cidadãos não conseguem interpretar corretamente os conceitos utilizados em estudos e discussões, a sua capacidade de participar e exigir transparência das decisões governamentais fica comprometida.
Adicionalmente, neste setor, os interesses e discernimentos económicos, políticos e sociais frequentemente sobrepõem-se à busca por uma comunicação imparcial, criando um ambiente onde a informação imprecisa é uma prática recorrente. Interesses individuais ou coletivos, sem o espectro global, acabam promover campanhas para destacar, por exemplo, os benefícios de determinadas fontes de energia, enquanto se mascara desafios económicos, técnicos e impactos ambientais.
Esta prática contribui para a formação de narrativas que favorecem determinadas linhas de comunicação que geram desinformação, que nem sempre correspondem ao cenário técnico e económico mais equilibrado, o que compromete a transparência e veracidade das informações divulgadas, e dificulta a construção de um debate público robusto e a implementação de políticas equilibradas.
A disseminação de informações incorretas ou exageradas, provenientes destes interesses, tem um impacto profundo na credibilidade e perceção pública sobre o setor. Quando notícias falsas circulam sobre a ineficiência das fontes renováveis, ou quando os impactos ambientais e respetivas medidas mitigadoras são apresentadas de forma distorcida, cria-se um ambiente permeado por incertezas e desconfianças que mina o progresso do setor. A ausência de filtros rigorosos para verificação de factos, aliada ao apelo do sensacionalismo, contribui para que fake news ganhem força e alcancem um grande número de pessoas.
Como resultado, as políticas públicas são postas em causa e o trabalho das entidades envolvidas descredibilizado, retardando uma transição energética eficiente e justa. Esse cenário de incerteza prejudica também a confiança de investidores, decisores políticos e do próprio público, que se veem inseparavelmente ligados ao fluxo de informações imprecisas.
A transição energética não depende apenas de avanços tecnológicos, ambientes técnicos e regulatórios favoráveis, mas também da forma como a informação sobre o setor é recolhida, analisada e transmitida. É fundamental que o debate sobre as energias renováveis se desenvolva de maneira construtiva, contribuindo para o avanço de políticas e tecnologias que promovam um desenvolvimento sustentável e a mitigação dos desafios ambientais contemporâneos.
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