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Informação profissional do setor das instalações em Portugal

“As bombas de calor e os fluidos alternativos serão preponderantes”

Gabriela Costa17/05/2023

Num ano de “grandes novidades regulamentares” de ordem energética e ambiental, os fabricantes de equipamentos de ar condicionado apostam em bombas de calor, condicionadores de ar tecnologicamente avançados, fluidos naturais e alternativas aos gases fluorados. Eficiência energética e sistemas inteligentes e conectados (através de tecnologias de controlo digital, por exemplo) são grandes tendências do setor a que as empresas estão já a adaptar-se.

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Os equipamentos de ar condicionado têm-se modernizado através de tendências tecnológicas que evoluem no sentido de cumprir as metas europeias de sustentabilidade. O aumento da utilização de bombas de calor para climatização, por exemplo, está em grande desenvolvimento na Europa desde que se iniciou a invasão da Ucrânia. Mas como tem evoluído o mercado de ar condicionado nos últimos dois anos, a nível de crescimento, inovação tecnológica e eficiência energética?
Segundo revela uma consulta a diversas agências internacionais da EFRIARC - Associação Portuguesa dos Engenheiros de Frio Industrial e Ar Condicionado, estima-se que o mercado global de ar condicionado atinja, em 2023, os 177500 milhões de dólares, registando um crescimento de cerca de 6% desde 2021.
A nível nacional, e segundo comenta à Revista O Instalador Cláudia Casaca, vice-presidente da EFRIARC, revela-se “um aumento verificado de pessoas formadas nesta área para serem absorvidas pelo mercado”, quer no projeto ou para instalação.
Com um crescimento de cerca de 20%, o mercado doméstico de ar condicionado mantem uma tendência crescente para a substituição do aquecimento tradicional de queima por bombas de calor, sublinha Cláudia Casaca. Nas construções novas “tem-se verificado cada vez mais a implementação de energias renováveis, tais como a bomba de calor e a aerotermia”, detalha. Os sistemas hidrónicos têm diminuído de procura “devido ao avanço tecnológico dos sistemas de expansão direta, quer pela tecnologia inverter, quer pela tecnologia de variação de temperaturas de evaporação”, conclui a responsável.
Como avança a Associação Portuguesa da Indústria da Refrigeração e ar condicionado, a cadeia de valor do setor representa dois mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 1% do PIB nacional, cabendo ao mercado AVAC 1.500 milhões de euros.
Na perspetiva de Nuno Roque, secretário-geral da APIRAC, “a estratégia desencadeada com o Green Deal, reforçada com a Renovation Wave e com o programa Fit to 55 e, mais recentemente, com a REpowerUE, com vista à descarbonização da Europa até 2050, veio, sem dúvida, contribuir positivamente para o incremento e penetração das soluções de bomba de calor ar-água no nosso país”. A programação e ação do Fundo Ambiental e, posteriormente, o arranque do PRR (“em que mereceu particular relevância o Programa Edifícios Mais Sustentáveis”), criaram também condições para o crescimento das soluções de bomba de calor ar-água e de calor ar-ar como alternativa a equipamentos menos eficientes e mais poluentes, precisa.

Crescimento das vendas reflete eficiência sustentável

Os dados relativos a 2022 estão ainda sobre reserva de informação, mas “depois de uma estagnação entre 2019 e 2020”, em 2021 as várias categorias de equipamentos do mercado AVAC registam um “crescimento global de quantidades vendidas de 22%”, avança Nuno Roque.
O responsável destaca o segmento de mercado de Aquecimento (+103%), onde, face a 2019, se registam crescimentos na comercialização de bombas de calor compactas com depósito (AQS) e de bombas de calor ar-água (AQS) de 98% e de 515%, respetivamente. E realça, na vertente expansão direta, os Multi Split, com crescimentos de 36% (considerando equipamentos exteriores e interiores) e mais 50 mil unidades. Também as vendas globais de Mono Splits (exteriores e interiores), com 17% de variação positiva, traduzem um aumento absoluto de 44 mil equipamentos vendidos em 2021, em relação aos dois anos anteriores, pormenoriza o secretário-geral da APIRAC. Já no segmento Ventilação, são protagonistas as UTAs e Permutadores recuperadores autónomos Ar-Ar, respetivamente com desempenhos de crescimento de vendas na ordem dos 25% e dos 32%, face a 2019.
A preocupação ambiental tem estado subjacente à evolução tecnológica, indo ao encontro das metas europeias. De acordo com Cláudia Casaca, o mercado das bombas de calor tem procurado responder com a utilização de fluidos frigorigéneos cada vez mais inofensivos (com GWP, potencial de aquecimento global a tender para 0), como o R32, apontado como a opção do mercado, ou o R290 (propano), não obstante “a preocupação pela sua maior inflamabilidade”, explica a vice-presidente da EFRIARC.
Sublinhando que “o aumento de utilização de bombas de calor para climatização está a processar-se acima de dois dígitos nos EUA”, Cláudia Casaca defende que na Europa “esse processo está em grande desenvolvimento desde que se iniciou a invasão da Ucrânia pela Federação Russa”. Na sua opinião, esta propensão do mercado permitirá aumentar a eficiência energética e limitar a queima de combustíveis, “proporcionando uma enorme redução de GEE” (gases com efeito de estufa).
A eficiência energética é, de resto, “uma das principais tendências no sector”, como reitera Nuno Roque. A tecnologia é outra, e “tem vindo a evoluir rapidamente para tornar os equipamentos energeticamente mais eficientes e ecologicamente mais competentes”. Segundo o secretário-geral da APIRAC, verifica-se uma aposta “em tecnologias de controlo digital, materiais mais leves e duráveis e designs mais inteligentes, para melhorar o desempenho. E a verdade é que “os sistemas estão cada vez mais inteligentes e conectados”, e podem ser controlados de forma eficiente por meio de smartphones e outros dispositivos.
Mais que uma tendência, uma inevitabilidade, “o previsível aumento de temperatura e humidade ambientes no futuro vai implicar a utilização de climatizadores como uma necessidade e não um luxo, como tem sido até agora”, alerta Cláudia Casaca. Para a responsável da EFRIARC a energia fotovoltaica, “apesar de não ser o ar condicionado em climatização, é uma energia que produz eletricidade e que tem aumentado a sua procura”. E não por uma questão “puramente” ambiental, mas também por autonomia energética.

Prevê-se ainda o surgimento de “condicionadores de ar tecnologicamente avançados, com inversores e tecnologias de purificação de ar”, avança. Também se assiste “a um esforço de inovação no sentido da utilização de fluidos naturais, tais como o CO2, o hidrogénio e o próprio amoníaco”, garante Cláudia Casaca, e estão-se a desenvolver “sistemas de climatização que não utilizem qualquer fluido frigorigéneo, como seja a refrigeração magnética ou materiais de mudança de fase”.

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O ano zero do desempenho energético e ambiental

Segundo a estratégia apresentada em maio de 2022 pela Comissão Europeia, pretende-se, até ao final da década, reduzir a dependência dos combustíveis fósseis oriundos da Rússia. Para tanto, a CE “pretende duplicar a taxa de implementação de bombas de calor individuais”, de modo a atingir “um total acumulado de dez milhões de unidades nos próximos cinco anos”.
Como comenta a vice-presidente da EFRIARC, “sabe-se que os fabricantes de equipamentos de ar condicionado estão a efetuar enormes investimentos no sentido de, para além de melhorarem a eficiência energética dos seus produtos, garantirem o fornecimento desta enorme quantidade num tão curto espaço de tempo”. De referir que atualmente o parque de bombas de calor, de todos os tipos, em Portugal ronda dois milhões de unidades, incluindo unidades reversíveis, de acordo com o relatório Heat Pumps Barometer, do EurObserv’ER.
Já segundo Nuno Roque, os fabricantes “estão cada vez mais a adotar alternativas aos gases fluorados, como anteriormente o fizeram relativamente aos clorados”. Assiste-se à aposta nos fluidos naturais, como hidrocarbonetos, dióxido de carbono e amoníaco, “dependendo da tipologia de infraestruturas, aplicações, capacidades e potências envolvidas, como alternativas mais ecológicas aos refrigerantes sintéticos”.
Para o secretário-geral da APIRAC, considerando o conjunto de diplomas europeus que estão a ser discutidos, e num quadro em que a perspetiva sobre a regulamentação reúne distintas visões (energética, ambientalista, política) que se cruzam com questões tecnológicas ou de recursos, “2023 será um ano de grandes novidades regulamentares para o setor”. Poderemos dizer que “será um ano ‘zero’ para uma nova fase na vida europeia relativamente a questões de ordem energética e ambiental dos edifícios e dos sistemas e equipamentos que neles coexistem”, concretiza Nuno Roque. Para além da Diretiva Europeia para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), outros diplomas impactados com a estratégia europeia Repower-UE, que concretiza o plano Green Deal, irão ser alvo de revisão em 2023, designadamente as diretivas de eficiência energética e de energia proveniente de fontes renováveis, conclui.
Também a revisão do regulamento europeu para os gases fluorados “será determinante para o funcionamento do mercado”. Em discussão está a redução gradual das quotas de gases fluorados, a inclusão de novos fluidos no regulamento (designadamente com o intuito de promover a utilização de fluidos naturais) e o estabelecimento de novas medidas para prevenir o comércio ilegal de gases fluorados. Espera-se que esta revisão entre em vigor a 1 de janeiro de 2024.
Em todas estas dimensões, “as bombas de calor e os fluidos alternativos serão preponderantes da nova realidade à qual as empresas terão de atender e adaptar-se”, sintetiza o responsável da APIRAC. Uma realidade para a qual as preocupações e consequentes passos da indústria de ar condicionado rumo à sustentabilidade, à economia circular e à eficiência energética já estão a contribuir.
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“A tecnologia tem vindo a tornar os equipamentos energeticamente mais eficientes e ecologicamente mais competentes” - APIRAC
“O previsível aumento de temperatura e humidade ambientes vai implicar a utilização de climatizadores como uma necessidade, e não como um luxo” - EFRIARC

“O gás recolhido para tratamento é uma fração ínfima”

O Instalador conversou com a ZERO a propósito de equipamentos de ar condicionado em fim de vida. A má gestão de resíduos contradiz a aposta do setor em gases mais neutros em termos climáticos.
Sugerindo que “não é por acaso que existe menos informação sobre equipamentos de ar condicionado”, Rui Berkemeier, deputy director da Associação Sistema Terrestre Sustentável sublinha, em entrevista, que os dados relativos à recolha de equipamentos de regulação da temperatura - categoria que inclui também frigoríficos, congeladores, chillers, radiadores a óleo e distribuidores automáticos de produtos quentes ou frio - revelam que a esmagadora maioria de resíduos registados são de frigoríficos. Ou seja, “há uma quantidade muito grande de equipamentos de ar condicionado que não se consegue perceber onde é que foi parar”.
A maior polémica dá-se a nível do gás dos equipamentos de regulação de temperatura que é recolhido, reutilizado ou se perde para a atmosfera, e que é responsável pelo principal impacto ambiental destes equipamentos. Segundo o deputy director, a quantidade de gás proveniente dos aparelhos de ar condicionado que aparece no registo de recolha “é uma fração ínfima da quantidade que é colocada no mercado. Temos dúvidas que a gestão de esse gás esteja a ser feita da melhor maneira, porque não há evidências de que ele seja recolhido”.
Acresce que os fluídos refrigerantes “têm um impacto muito superior ao do dióxido de carbono”, explica Rui Berkemeier, uma vez que “os gases que saem desses equipamentos de refrigeração para a atmosfera são muito menos do que os dos automóveis ou da indústria, mas cada molécula de gás pode ter efeitos mil vezes superiores a uma molécula de CO2”.
Estes gases são, pois, “relevantes em termos de aumento da temperatura do planeta”, pelo que é fundamental a sua recolha e a boa gestão dos equipamentos, conclui. Mas na prática “a maior parte dos gases recolhidos são enviados para destruição, porque são misturados, e é difícil, depois, uma reutilização”.
Em termos de regulamentação ambiental, há alterações tecnológicas às quais os equipamentos e as marcas têm de se adequar, defende Rui Berkemeier: novos produtos amigos do ambiente, novas exigências energéticas e, naquela que é uma das mudanças profundas mais significativas no segmento do ar condicionado, novos gases mais neutros em termos climáticos. “Já há novos gases no mercado. É fundamental que as empresas se adaptem o mais rápido possível à sua utilização”, apela o responsável. E verifica-se uma evolução positiva do mercado nesse sentido, estima.
A reutilização “é muito importante”, mas sofre também de falta de dados. O que não justifica a existência de tão pouco gás recolhido para tratamento, afirma Rui Berkemeier. A grande questão, aliás, é que “o setor de ar condicionado não está com dados que sejam minimamente percetíveis”, lamenta.
Neste contexto, a ZERO “trabalha com as metas da gestão de resíduos eletrónicos que existem”, mas receia que a legislação relativa à recolha de gás e de equipamentos de ar condicionado não esteja a ser cumprida. De momento, ambos “chegam ao fim de vida com um grande ponto de interrogação”, comenta o especialista na área de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos.
“A maior parte dos gases recolhidos são enviados para destruição”

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