Esta aposta da UE na transição digital é suportada pelo mecanismo europeu de recuperação e resiliência e pelos respetivos planos nacionais. No caso português, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê a dimensão de transição digital, com apoios muito relevantes: 650 milhões de euros para a componente '16 – Empresas 4.0', destinados a reforçar a digitalização das empresas através de soluções que promovam, entre outros aspetos, a modernização do trabalho e dos processos de produção e a incorporação de tecnologias disruptivas.
Conjugando este apoio à digitalização com os previstos na dimensão de transição climática do PRR para as componentes '13 - Eficiência energética em edifícios' (610 milhões de euros) e '11 – Descarbonização da indústria' (715 milhões de euros), temos um amplo leque de oportunidades para a implementação de soluções de gestão técnica centralizada (GTC). Os sistemas de GTC são um instrumento cada vez mais utilizado para a monitorização de instalações, sua condução eficiente e otimização do uso de recursos, especialmente em edifícios.
À semelhança do que se passou com a Indústria 4.0, a chegada do digital está a promover uma transformação profunda nos setores da construção e da gestão dos edifícios. Combinando vários fatores como a Modelação da Informação da Construção (BIM), as tecnologias de automação, a Internet das Coisas (IoT) ou o uso de grandes volumes de informação (Big Data), é hoje mais fácil assegurar edifícios energeticamente mais eficientes, quer na fase de construção, quer na fase de uso.
Ao integrar estes e outros fatores, os GTC desempenham um papel fundamental no caminho para um conceito que se pode designar de 'Edifícios 4.0', com potenciais de poupança energética que facilmente atingem os 15-20% em relação ao consumo de instalações tradicionais.
Além do contexto proporcionado pela estratégia para a transformação digital e pelo mecanismo de recuperação e resiliência, também o contexto regulamentar europeu tem evoluído no sentido de promover edifícios mais inteligentes e eficientes, onde os sistemas de GTC têm natural relevância.
A revisão mais recente da Diretiva Europeia para o Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) em 2018 é exemplo disso, ao introduzir um 'indicador de aptidão para tecnologias inteligentes' (SRI – Smart Readiness Indicator) destinado a avaliar e classificar a maturidade tecnológica do edifício e a capacidade de este adaptar o seu funcionamento às necessidades dos ocupantes.
Com base nestes princípios, a Comissão Europeia lançou recentemente os regulamentos delegados que operacionalizam o SRI e, embora a sua determinação seja, para já, facultativa, a tendência será para que este indicador venha a ser progressivamente adotado pelos Estados-membros. Em Portugal, a legislação que transpôs a Diretiva EPBD prevê já a implementação futura deste indicador como parte integrante do próprio certificado energético dos edifícios.
Os sistemas GTC contribuem para uma gestão mais eficiente da energia num edifício e serão determinantes na obtenção de uma boa classificação no SRI e na maior valorização do imóvel. Edifícios mais inteligentes são mais económicos de operar e o seu uso é mais sustentável.
Acompanhando a legislação europeia, também a regulamentação nacional relativa à eficiência energética dos edifícios, em vigor desde 1 de julho de 2021, trouxe novidades para os sistemas de GTC.
Os edifícios de comércio e serviços, novos ou renovados, com potência nominal global igual ou superior a 100 k devem adotar um sistema de automatização e controlo de edifícios (SACE) e, caso tenham potência superior a 290 kW, esse sistema já deve ser do tipo GTC. A partir de 2026, a obrigatoriedade de dispor de GTC estende-se também aos edifícios existentes, uma novidade que irá certamente impulsionar fortemente este mercado.
Tal como antes, todos os novos sistemas de GTC agora instalados devem ter classe de eficiência energética B ou superior (de acordo com a Norma EN 15232) e, a partir de 2025, devem ter classe A como mínimo. Mas há outras exigências.
A legislação estabelece agora também requisitos de desempenho energético geral, assegurando que as funcionalidades disponíveis neste tipo de sistemas são mais usadas para explorar as possibilidades de interoperabilidade, monitorização, controlo e comando, nomeadamente em prol da melhoria da eficiência operacional e energética do edifício.
Há, no entanto, um importante desafio: a formação e capacitação dos diferentes técnicos envolvidos, desde os projetistas aos técnicos de instalação e de manutenção deste tipo de sistemas.
www.oinstalador.com
O Instalador - Informação profissional do setor das instalações em Portugal