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Informação profissional do setor das instalações em Portugal

Artigo exclusivo publicado na edição de abril da revista O Instalador, o número que celebra os 25 anos da nossa publicação

A história do nosso lixo

Carmen Lima | Centro de Informação de Resíduos da Quercus23/04/2021
Há 25 anos a gestão dos resíduos constituía um dos principais problemas ambientais e sociais à época em Portugal, com a falta de soluções para o seu tratamento e reciclagem, sendo o principal destino a deposição em lixeiras a céu aberto.
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As respostas para o tratamento do lixo eram escassas e deficitárias, e as que existiam não eram, de todo, a solução mais eficaz. O tratamento dos resíduos urbanos não era uma prioridade da época e não existia uma estratégia para o mesmo.

Estas lixeiras proliferavam por todo o território nacional, e aqui não eram apenas despejados resíduos de origem urbana. Para aqui vinham resíduos de origem industrial, perigosos e não perigosos, hospitalares e até carcaças de animais mortos. Uma verdadeira ameaça para o ambiente e para a saúde pública.

O lixo que aqui era despejado fermentava ao sol e ardia em combustões lentas, libertando para a atmosfera componentes perigosas, ou infiltrando-se no solo com as chuvas, contribuindo para a contaminação das águas subterrâneas, muitas vezes, usados para rega ou consumo. Era urgente agir!

Na região da Grande Lisboa, a imensa lixeira em Beirolas, ganhava notoriedade junto da maioria dos habitantes.

Neste período crítico, a Quercus teve um papel fundamental para esta área, com a realização de dois estudos importantes, como a caraterização da situação nacional em matéria de reciclagem e a avaliação do setor dos resíduos urbanos, que acabaram por servir de base para a organização de uma estratégia nacional. E aqui foi o ponto de viragem, o setor foi-se organizando e surgiu a responsabilização do produtor, para o qual foi atribuído uma eco-taxa a quem colocava embalagens do mercado que no futuro se transformavam em lixo. Esta medida permitiu criar um sistema que garante uma resposta para a maioria dos resíduos urbanos – embalagens de papel e cartão, vidro, metal ou plástico, eletrodomésticos e equipamentos elétricos e eletrónicos, pneus ou medicamentos fora de prazo e suas embalagens.

As mais de 300 lixeiras a céu aberto foram, entretanto, substituídas por 34 aterros sanitários. No final dos anos 90 começou-se a equipar as grandes cidades com sistemas de gestão dos resíduos urbanos.
Surgiram os primeiros Ecopontos e Ecocentros, que asseguram o destino final adequado para os Resíduos urbanos em todo o território nacional. O ano de 2001 fica marcado pelo encerramento da última lixeira.

A importância do movimento ambientalista e da Quercus

Ao longo destes últimos 25 anos o movimento ambientalista, e a Quercus em particular, conseguiu influenciar e contribuir para que a gestão dos resíduos fizesse parte da agenda e que as medidas para melhorar este setor viessem a ser concretizadas. O problema dos resíduos - urbanos, industriais perigosos e hospitalares -, tem sido alvo de várias polémicas publicas a que Portugal assistiu: durante décadas tiveram como destino todo o tipo de destinos menos o que deveriam ter.

O caminho foi-se percorrendo. Fora das cidades o embaraço que a expansão dos novos lixos gerou ficou bem claro no movimento 'Vamos Limpar Portugal', que em 2010 levou às ruas 100.000 portugueses numa das maiores ações de cidadania antes vistas.

Foi nessa altura que o país encarou a gravidade do problema do lixo deitado fora caoticamente por toda a parte.

A imensa e complexa gestão do lixo em Portugal está hoje entregue a 281 entidades diferentes, suportada por inúmeros diplomas, regulamentos e estratégias nacionais que ajudam a organizar este setor. Na prática, a questão do lixo articula serviços desde a escala de proximidade local à municipal, intermunicipal, regional, comunitária e até internacional.

Da política dos 3R, evolui-se para os 5R e ainda os 7R. Mas o que é comum a todas é a forte necessidade de reduzir a produção, promover hábitos de reutilização. Os números demonstram que também a recolha seletiva aumentou, embora a reciclagem esteja ainda aquém das metas europeias e do potencial de emprego que encerra.
Hoje, os sistemas de gestão de fluxos de resíduos urbanos como industriais e hospitalares, melhoraram substancialmente, mas com um caminho ainda a percorrer que continuará a necessitar de uma atenção e pressão públicas permanentes.
Mesmo assim, há campos que precisamos de continuar a evoluir, como a diminuição da embalagem supérflua, reduzir a produção de resíduos de origem urbana e olhar para este “lixo” como se fosse um recurso, promovendo a sua recuperação e reutilização, antes do encaminhar para reciclagem.
A diversidade de materiais, embalagens e equipamentos que possuímos em casa, compostos por uma gama muito variada de componentes, dificulta a nossa decisão quando eles se transformam em “lixo” e os queremos encaminhar para reciclagem.
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A Wasteapp

No Centro de Informação de Resíduos (CIR) da Quercus, temos consciência destas dificuldades, e por acompanhar de perto a realidade da gestão dos resíduos em Portugal, sabemos que as soluções existem, mas faltava ligar a procura com a oferta, pelo que desenvolvemos a Wasteapp - https://www.wasteapp.pt – que é uma aplicação que está disponível para telemóvel (ios e android), bem como pelo acesso através de computador, que disponibiliza o destino para cerca de 50 tipologias de resíduos diferentes, muito fácil de utilizar e que permite indicar o local onde entregar o lixo que possui em casa. Para além de indicar o local, ajuda a chegar lá através da indicação geográfica do ponto de entrega através de GPS. Só precisa de pesquisar o que quer deitar fora e encontrar o local mais próximo onde o entregar. Poderá ainda esclarecer as dúvidas que ainda tem sobre os resíduos que deve ou não colocar.

O futuro próximo traz-nos novas metas no que concerne à preparação para a reutilização e reciclagem, nomeadamente: 55% para 2025; 60% para 2030 e 65% para 2035. No caso da deposição de resíduos urbanos em aterro, a meta está fixada nos 10% ou menos da quantidade total de resíduos urbanos produzidos, a atingir até 2035. Ora, o que nos espera é um desafio sério na gestão destes resíduos, em conformidade com a hierarquia europeia de gestão de resíduos.

O futuro próximo traz-nos novas metas no que concerne à preparação para a reutilização e reciclagem, nomeadamente: 55% para 2025; 60% para 2030 e 65% para 2035

Com estes dados, é possível constatar que, atualmente, estamos perante uma evolução desfavorável no que respeita ao cumprimento da hierarquia de gestão dos resíduos, dado que se verifica um ligeiro aumento da deposição direta em aterro e, por outro lado, a estabilização da fração recolhida seletivamente para valorização material, face ao total de resíduos, o que contraria a estratégia comunitária e nacional para os resíduos urbanos.
Existem igualmente metas para a recolha seletiva de determinadas fileiras de resíduos urbanos, como os biorresíduos, através da implementação de um sistema de recolha de biorresíduos até 2023, uma tipologia de resíduos que requer muita atenção dado que atualmente atingem os 46% do total depositado em aterros, muito aquém da meta de 35%, estabelecida para esta fileira de resíduos.

A compostagem é um processo biológico, através do qual micro-organismos (como bactérias, fungos e leveduras) transformam matéria orgânica (restos de folhas, comida, etc.), num produto rico em nutrientes e com aspeto de terra, chamado composto, que pode ser utilizado para melhorara as caraterísticas físicas, físico-químicas e biológicas dos solos – agrícolas e/ou florestais.

Com a diminuição do lixo orgânico a ser encaminhado para os aterros, os custos de transporte reduzem significativamente, o que pode ser um incentivo para empresas e câmaras municipais investirem em programas de compostagem. O próprio produto da compostagem pode ser uma fonte de rendimento ao ser vendido.
É preciso assegurar um maior apoio às autarquias, orientando-as por forma a promoverem o aumento de respostas na recolha de determinadas tipologias de resíduos e seu encaminhamento adequado. Se não forem oferecidas soluções que garantam a recuperação, reparação, reutilização e mesmo a reciclagem dos materiais e resíduos produzidos nas nossas habitações, é difícil promover as boas práticas circulares junto da população, frustrando principalmente quem está motivado para os bons comportamentos ambientais.

«Não esqueço nunca do que posso fazer por isso, lembrar, fazer lembrar e pensar como pensavam as pessoas desde sempre acerca dessas coisas, que é preciso voltar atrás, nem que seja por vergonha», Valter Hugo Mãe, in 25 Anos Quercus.

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