Artigo exclusivo para a revista O Instalador | Parceria RNAE

Ilustrativo disto são os ambiciosos objetivos divulgados por Portugal e inseridos no Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030. Aqui destaca-se a relevância dos gases de origem renovável nos vários setores da economia, a transição do setor energético e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, que reforça a importância e a interconexão de três eixos estratégicos para a criação de bem-estar e riqueza: a valorização do território e do habitat, a economia circular e a descarbonização da sociedade e a transição energética.

Considerando as metas da União Europeia para reduzir os gases com efeito de estufa em 50-55% até 2030 e para alcançar a neutralidade carbónica até 2050, torna-se imperativo transitar de um modelo económico linear e sustentado em combustíveis fósseis para um modelo circular e neutro em carbono, privilegiando o uso de energias renováveis.

Em 2017, tendo a noção da importância do tema, e reconhecendo o papel do hidrogénio como futuro vetor energético, primordial para a descarbonização da sociedade, a Região do Médio Tejo aceita o desafio proposto pela Fuel Cells and Hydrogen Undertaking (FCH-JU) e torna-se a Região Portuguesa do Hidrogénio, sendo pioneira na promoção do hidrogénio como fonte de energia chave para a transição energética.

A partir desse momento é formado um grupo de trabalho ao nível da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, que contou, numa fase inicial, com a colaboração da MédioTejo21 – Agência Regional de Energia e Ambiente e da IrRADIARE - Science for Evolution, entidades que já tinham estado na origem do Plano de Ação de Energia Sustentável para a Região, apresentado em 2015, onde o hidrogénio já era tema. Ao longo do tempo, o grupo de trabalho foi ganhando forma, contando na atualidade também com a indústria, por exemplo a Tejo Energia, Caetano Bus e a SmartEnergy e a comunidade científica, como o Politécnico de Tomar e Politécnico de Portalegre.

Em 2018, organizámos o primeiro evento relativo ao tema, que teve como objetivo principal lançar o debate e aprofundar o conhecimento sobre o hidrogénio à população em geral.

Em 2019, e com âmbito internacional, levámos a efeito um evento de cariz mais técnico, com a participação de 150 pessoas de 9 países, onde se trouxe à região 'experts' na temática do hidrogénio, nas áreas de projeto, consultoria e captação de investimento. Com este evento foi possível obter a atenção de entidades europeias para a região, tendo saído desse evento a 'Declaração do Entroncamento', na qual, um grupo de parceiros europeus, ao qual se chamou 'Cluster HyTagus', assumiu o compromisso de se unir de forma a cooperar e contribuir no desenvolvimento de iniciativas e projetos a implementar na região.

De forma a materializar a visão da Região, criámos o projeto 'HyTagus Valley', apresentado no âmbito do programa H2020, que tem como objetivo desenvolver uma cadeia de valor regional para o hidrogénio, desde a sua produção até ao consumo final, passando pelo armazenamento e distribuição. Este projeto é um entre 11 a nível europeu que se encontra em fase de desenvolvimento, pois foi reconhecido como uma candidatura de elevada qualidade e que, no fim, trará um leque de opções, para apoio à decisão de implementação de políticas públicas e que terá a capacidade de atrair investimentos e novos stakeholders para a região.

A natureza mobilizadora da intervenção da Região do Médio Tejo foi demonstrada junto de outras regiões, garantindo uma participação ativa nas políticas europeias de hidrogénio, com a liderança em redes europeias, entre as quais, a parceria S3 European Hydrogen Valley, onde a região atua como coordenadora do grupo de trabalho para a mobilidade de hidrogénio para Coaches de longa distância.

A nível nacional, a Região do Médio Tejo submeteu uma manifestação de interesse ao Important Project of Common European Interest (IPCEI) do hidrogénio, no qual obteve parecer favorável, passando à fase seguinte, com vista a uma participação nesta iniciativa.

De forma a materializar a visão da Região, criámos o projeto 'HyTagus Valley', que tem como objetivo desenvolver uma cadeia de valor regional para o hidrogénio, desde a sua produção até ao consumo final, passando pelo armazenamento e distribuição

No final do ano de 2020 foi lançado, no âmbito do POSEUR, o primeiro aviso para apoio à produção de hidrogénio e outros gases renováveis, para o qual, um grupo de entidades, entre as quais a MédioTejo21, se encontram a preparar uma candidatura.

Na sua globalidade, o projeto compõe a Cadeia de Valor Regional de Hidrogénio Verde, estabelecendo um ecossistema local completo, numa abordagem integrada nas componentes de produção, distribuição, abastecimento e consumo final. A componente de inovação e conhecimento, transversal a toda a cadeia de valor, permitirá criar a massa crítica que assegurará a sustentabilidade económica do projeto a médio e longo prazo.

A criação desta cadeia de valor do hidrogénio assume um papel de relevo nos vários setores da economia regional, em particular, no setor dos transportes, onde se prevê que o hidrogénio se torne numa peça fundamental na mobilidade entre cidades e na otimização do acesso da população aos serviços públicos. Mas não é tudo, a Região também é rica em pontos turísticos. Turismo de lazer com as albufeiras que possui, turismo histórico com os castelos e monumentos que dispõe e turismo religioso com um dos principais santuários do Mundo. Utilizar o hidrogénio para a mobilidade é uma das ideias chaves do projeto 'Médio Tejo região Hidrogénio'. Contudo, colocá-lo ao serviço da grande e pequena indústria, das IPSS e dos edifícios públicos, de forma a ser a principal fonte de energia, também será uma mais-valia.

O desafio de uma transição energética é ambicioso e complexo e assumirá, na próxima década, um papel especialmente importante, que resultará numa transformação profunda da sociedade como a conhecemos, rumo à descarbonização. Para a Região do Médio Tejo, o hidrogénio é o vetor de energia que mais contribuirá na transição para uma economia verde, competitiva, inclusiva, que assegure a neutralidade climática da região, que beneficiando da sua localização geoestratégica privilegiada, terá impactos em todo o território nacional melhorando, assim, a qualidade de vida de toda a população e reduzindo as assimetrias existentes.