Artigo de opinião integra dossier Reabilitação Urbana da edição de dezembro da Revista O Instalador
“Em 2021, a ANFAJE acredita que pode ser um ano importante para abrir novas janelas de oportunidade”
Texto: João Ferreira Gomes | Presidente da ANFAJE
16/12/2020No início de 2020, as empresas do sector das janelas, portas e fachadas continuaram a fazer o seu percurso de recuperação económica, com níveis de actividade muito positivos e acompanhando o ritmo crescente da reabilitação de edifícios e do investimento imobiliário.
Infelizmente, em março, o início da pandemia da Covid-19 trouxe a ameaça de saúde pública e a incerteza, o que abalou o optimismo do sector e o quadro de previsões macroeconómicas. De facto, o impacto foi muito negativo para a economia portuguesa, sobretudo nos primeiros meses, com uma queda histórica do PIB, que apresentou valores negativos que já não se registavam desde o 3º trimestre de 2013.
No entanto, de acordo com os resultados do inquérito que a ANFAJE - Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes fez junto das empresas associadas, o sector das janelas, portas e fachadas não registou uma quebra acentuada no volume de vendas, nem parou a sua produção, uma vez que a execução das obras públicas e privadas, bem como a intenção de investimento também se mantiveram com indicadores positivos. Apesar do confinamento das famílias ter provocado uma diminuição no volume de adjudicações de obras, não houve um impacto significativo na quantidade de janelas eficientes produzidas.
Neste quadro, o sector da construção mostrou-se bastante resiliente, mantendo a sua actividade e sustendo o primeiro impacto da pandemia. No entanto, os indicadores da Reabilitação Urbana (que tanto ajudou o sector a recuperar da anterior crise económica) continuam a mostrar um decréscimo desde o início de 2020, com uma diminuição do nível da atividade em cerca de 9%.
Apesar disso, de acordo com os dados estatísticos da AICCOPN, a concessão de crédito para a compra de habitação manteve uma tendência muito positiva no 1º semestre de 2020, com um crescimento homólogo de 8,4%, e o investimento público tem também vindo a crescer desde o início do ano, tanto no número de concursos públicos promovidos, com uma variação positiva de 17,3% no 3º trimestre, como no número total de contractos celebrados, com uma variação positiva de 13,9%, em igual período.
Na realidade, o investimento em construção surpreendeu positivamente ao registar, no 2º trimestre do ano, um crescimento de 7,5% em termos homólogos.
Neste sentido, o agravamento da Covid-19 e as novas medidas restritivas estão a trazer, novamente, um aumento da incerteza com impacto negativo na economia, o que poderá afectar negativamente a actividade do sector da construção e dos materiais de construção, sobretudo ao nível dos investimentos privados no sector não-residencial.
Neste quadro de incerteza para 2021, a ANFAJE acredita que pode ser um ano importante para abrir novas janelas de oportunidade. Uma maior aposta na digitalização dos processos das empresas, o aumento das qualificações dos seus profissionais e as oportunidades relativas ao pacote financeiro previsto pela Comissão Europeia, no âmbito do Renovation Wave e do Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), o qual deverá ser vertido no Plano de Recuperação Europeu e no Plano de Recuperação Económica e Social para Portugal 2020-2030.
Como a ANFAJE já teve oportunidade de anunciar, o Green Deal prevê uma dotação, ao nível da União Europeia, de um valor de 1 trilião de euros (2021-2027) para promover, entre outras áreas, a eficiência energética, a reabilitação urbana e a denominada Economia Circular e Limpa.
Relativamente ao nosso país, o Plano de Recuperação 2020-2030 prevê 6 mil milhões de euros por ano para a recuperação dos efeitos da crise pandémica da Covid-19. Ainda no âmbito dos apoios financeiros, recordamos os 2,75 milhões de euros que o Fundo Ambiental disponibilizará, em 2021, e que podem e devem ser reforçados, para promover a melhoria da eficiência energética e do conforto dos edifícios portugueses, nomeadamente para a substituição de janelas antigas por novas janelas eficientes.
Outra oportunidade passa por uma maior consciência, por parte dos clientes particulares, das necessidades de melhoria do conforto térmico e acústico das suas habitações.
Devido à obrigatoriedade do confinamento e do teletrabalho, os clientes particulares “sentiram na pele” as consequências de casas com janelas antigas: ruídos indesejáveis, o fraco desempenho térmico (calor no Verão e frio no Inverno), originando um aumento da factura energética para manterem o conforto dentro das suas casas.
Neste âmbito, caberá às empresas do sector explorar esta oportunidade de promover novos serviços, encontrar novas formas de promoção e venda junto dos clientes particulares. Estas ações passarão, certamente, pelo reforço da presença online e pelas novas formas digitais de comunicar à distância.
A ANFAJE encara o ano de 2021 com otimismo e com uma crescente certeza de que será um ano de recuperação do crescimento económico do sector
Depois, a par dos desafios da pandemia, existem outros desafios e oportunidades para as empresas do sector: o aumento do desenvolvimento tecnológico dos produtos e serviços; novos métodos de instalação; a produção de soluções de janelas cada vez mais integradas com soluções de domótica e o reforço da qualificação da mão-de-obra.
Em momentos de mudanças aceleradas e de alteração nos modelos de trabalho e nas estratégias de negócios, a ANFAJE continua a defender a necessidade das empresas do sector das janelas, portas e fachadas, manterem a sua resiliência e prepararem-se para aproveitar as novas oportunidades que surgirão.
Em suma, a ANFAJE encara o ano de 2021 com otimismo e com uma crescente certeza de que será um ano de recuperação do crescimento económico do sector.
Nota: o autor escreve segundo as regras do antigo Acordo Ortográfico.