Todos perdemos com a falta de ação concreta e decisiva. Aliás, já estamos a viver num planeta mais quente do que aquele em que a nossa espécie evoluiu para se adaptar com grande sucesso - e isso sente-se na pele e na carteira. As tempestades ocorrem com maior frequência e com maior intensidade, gerando prejuízos pessoais e financeiros. As secas prolongadas põem em causa a atividade agrícola e a qualidade ambiental dos rios. Várias espécies e habitats não se adaptam a este, nada admirável mundo novo, e deixam de existir onde e como os conhecíamos.
O Acordo de Paris, estabelecido em 2015 no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC), compromete os países a restringirem as suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) para que até 2050 o aumento da temperatura média do planeta seja inferior a 1,5 graus Celsius. Com este objetivo em mente, Portugal comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica (i.e., a emitir para a atmosfera tantos GEE como os que remove) até 2050. Mas a 30 anos de distância desta data, muito está por fazer para transformar de forma substancial o nosso modelo de desenvolvimento e alinharmos as palavras com os atos.
A UNEP, Programa das Nações Unidas para o Ambiente, concluiu em dezembro que, para o mundo atingir a neutralidade carbónica em 2050, a maior parte do esforço de redução de emissões de GEE terá de ocorrer nesta década – isto é, até 2030. Concluiu também que a União Europeia terá que reduzir as suas emissões 7,6% ao ano até 2030, face aos níveis de 1990. Ou seja, de 2021 até 2030 a UE terá de reduzir as suas emissões em 67% face a 1990. Mas Portugal comprometeu-se a reduzir apenas 20-30% até 2030 - menos de metade do que é necessário…!
Nem tudo é mau, claro. Portugal deu passos importantes na promoção da energia renovável nas últimas décadas. Os resultados são visíveis: em 2019, as fontes de energia renovável contribuíram com 56% do total da geração de eletricidade. Em dezembro, a incorporação renovável foi de 77,2 %. No entanto, estes valores também incluem a energia hídrica, que pode gerar mais emissões de GEE do que aquelas que poupa. Fruto da duplicação da produção de energia solar nos últimos 5 anos, é de esperar que a eletricidade solar venha a representar uma fatia cada vez maior do consumo energético em Portugal.
Noutros sectores da economia são necessários passos igualmente firmes, mas também bem mais rápidos e ambiciosos, para se atingir a neutralidade carbónica até 2050. Os transportes, a agricultura, e a indústria precisam de transformações substanciais para reduzirem as emissões de GEE. Alguns modos de transporte rodoviário já estão em processo de eletrificação, reduzindo assim as emissões decorrentes da queima de combustíveis fósseis. No entanto, a aviação permanece como um calcanhar de Aquiles: é um sector em crescimento, onde não se avizinham desenvolvimentos tecnológicos significativos para permitir a redução total de emissões de GEE. Outros modos de transporte menos poluentes, como a ferrovia, precisam de ser incentivados para serem alternativa viável à aviação, pelo menos nos trajetos menos longos. A agricultura precisa de reduzir significativamente as emissões associadas à produção animal e ao uso de fertilizantes.
No entanto, do lado do Ministério da Agricultura e da Política Agrícola Comum, falta este reconhecimento e ação concreta – leia-se, aplicação de fundos em linha com a redução de emissões. Finalmente, a indústria, já envolvida no comércio de emissões, terá de apostar em alternativas energéticas, que podem passar pelo hidrogénio verde, isto é, produzido a partir de fontes renováveis, mas cuja aplicação não é generalizável a outros sectores como os transportes.
A pressão pública para maior ambição dos países face às alterações climáticas é cada vez maior. As 'Fridays for the Future' da jovem Greta Thunberg ganharam visibilidade e adesão sem precedentes em todo o mundo. Aos jovens que exigem um futuro viável em greves climáticas sucessivas, juntaram-se também os pais, que cresceram com um clima em mudança e a ver promessas já de si pouco ambiciosas a não serem cumpridas.
O futuro que temíamos há 20 anos, de alterações climáticas sem precedentes, está a acontecer agora. Mas é também agora que a mobilização para pressionar por mudanças mais significativas é maior. O futuro da humanidade como a conhecemos depende disso.
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