A nova mobilidade elétrica
João Carlos Mateus | Economista, Membro da Direção Executiva e Diretor das Relações Institucionais do CEiiA11/10/2019
Ao longo dos tempos, a mobilidade foi tendo uma importância crescente no nosso desenvolvimento e na qualidade de vida.
Quem não reconhece a importância dos descobrimentos ou o início da utilização da locomotiva? Pois bem, estes momentos aconteceram há muitos anos atrás e hoje o mundo está consideravelmente diferente, em muito com o contributo da mobilidade. Creio que todos concordamos que, nos próximos anos, a sociedade vai evoluir a uma rapidez nunca vista, originada entre outras, pela evolução tecnológica e pela necessidade imperiosa da sustentabilidade que permita ter um planeta habitável e com qualidade de vida.
As previsões apontam que, até 2050, 70% da população viva em grandes cidades e que o fluxo do movimento dos transportes de mercadorias e pessoas continue e crescer a um ritmo acelerado (hoje em dia o transporte baseado no automóvel representa já cerca de 80% das deslocações totais na União Europeia), o que implica obrigatoriamente a necessidade de serem criadas soluções de mobilidade inteligentes, competitivas e sustentáveis. A mobilidade elétrica apresenta-se neste momento como o caminho viável que consegue cumprir estes requisitos.
É certo que a análise da sustentabilidade é complexa e deve ser feita ao longo de toda a vida, cadeia e circularidade. Hoje sabemos que os veículos elétricos geram ao longo do seu ciclo de vida menos impacto que os convencionais e que este efeito se eleva tanto mais quanto maior for o peso da energia renovável no carregamento.
Assim, a mobilidade elétrica vai ser uma chave central nas cidades sustentáveis, contribuindo para a descarbonização e neutralidade de carbono, aliada ao surgimento de novos serviços e oportunidades de negócio que podem ser elevados, entre outros, através de um correto dimensionamento da rede de carregamento inteligente. Existem e vão surgir imensas oportunidades e desafios que podem contribuir para a sustentabilidade, a competitividade e para o aumento da qualidade e vida. Para isso é fundamental “criar o caminho” e desenvolver um novo modelo de mobilidade elétrica que, de forma estruturada e estratégia, possa ser implementado e origine inovações e oportunidades com valor.
(...) a mobilidade elétrica vai ser uma chave central nas cidades sustentáveis, contribuindo para a descarbonização e neutralidade de carbono, aliada ao surgimento de novos serviços e oportunidades de negócio que podem ser elevados, entre outros, através de um correto dimensionamento da rede de carregamento inteligente
Portugal percebeu este caminho! No início desta década foi o primeiro país a lançar, através de um projeto piloto, uma rede de carregamento interoperável a nível nacional, garantindo aos utilizadores o acesso em qualquer posto instalado no território.
Aliado a esta visão e na tentativa de promover o desenvolvimento de um cluster, outros investimentos na altura foram iniciados. Ainda hoje somos uma referência na área da mobilidade elétrica e possuímos uma das maiores taxas de penetração de veículos elétricos.
No entanto, após a fase piloto e por indefinição de políticas, seguiu-se um período de estagnação que desacelerou a evolução e o ajuste tecnológico da rede à procura. Hoje, para voltarmos a ser um país líder e uma referência é imprescindível o desenvolvimento de um novo modelo de mobilidade elétrica que evolua em função do novo contexto dos mercados, da evolução das tecnologias e sempre com desígnio da sustentabilidade, tendo obrigatoriamente como peça central o Utilizador e as suas necessidades atuais e futuras.
A evolução e a interligação da “energia”, “telecomunicações”, “infraestruturas”, “sustentabilidade” e o “utilizador” (este último sendo o “epicentro”) são fundamentais para este novo modelo criador de riqueza, modernidade e sustentabilidade. Acredito que nos próximos anos a mobilidade elétrica vai desempenhar um papel importantíssimo nas novas cidades inteligentes e sustentáveis.
Portugal, a partir da mobilidade elétrica, tem todas as condições para voltar a ser líder nesta área e contribuir para um planeta sustentável, com qualidade de vida e competitivo. Para isso necessita de ter a audácia, a capacidade e visão para desenvolver um modelo para a “nova mobilidade elétrica” partindo do utilizador e com os olhos postos no presente e essencialmente no futuro.