BI294 - O Instalador

76 INVESTIGAÇÃO empresarial europeu (Marie Curie - People), e envolveu também a Universidade de Leeds (Reino Unido) e uma empresa suíça especializada em reciclagem e tratamento de águas residuais. A partir da transformação de materiais extraídos dos resíduos de eucalipto, os investigadores desenvolveram um conjunto de “eco-floculantes” de base celulósica com diferentes caraterísti- cas que se ajustassem a diferentes aplicações. “A nossa abordagem ecofriendly con- sistiu em purificar e modificar estes resíduos lenhocelulósicos para produzir polieletrólitos (polímeros com carga) de base natural que promovessem a floculação. Foi umprocesso complexo, desde logo porque a celulose não é solúvel, o que é um grande obstáculo, porque os polieletrólitos têm de ser solúveis para atuarem como flocu- lantes. Portanto, tivemos de efetuar extrações da matéria-prima inicial que otimizámos para serem o mais brandas possível e várias modifica- ções para que o produto final fosse solúvel”, explica Graça Rasteiro. Superado este primeiro desafio, a equipa, que teve também como investigador José Gamelas, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), desenvolveu uma gama alargada de floculantes naturais, biodegradáveis, apropriados para diferentes aplicações para além do tratamento de efluentes (o foco deste projeto), como, por exemplo, na indústria de cosmética ou ali- mentar. Os produtos obtidos foram extensivamente caraterizados quanto à sua composição química, estrutura e morfologia. De seguida, os “eco-floculantes” foram testados com sucesso, primeiro em efluentesmodelo e posteriormente em efluentes reais fornecidos por uma indús- tria têxtil (Rosários 4) de Mira de Aire. “Tal como pretendido, permitiram aumentar a remoção de cor e da turbidez. Comparando com o uso de poliacrilamidas comerciais, os desem- penhos obtidos usando os floculantes de base natural foram tão bons ou melhores que os tradicionais. Além disso, conseguimos diminuir até 80% a carência química de oxigénio dos efluentes. Este resultado representa um grande avanço em relação aos floculantes tradicionais (de origem fóssil). Realizámos também testes em efluentes oleosos, provenientes de lagares de azeite, e os primeiros resultados são promissores. De salien- tar que ambos os efluentes (corantes e oleosos) são muito difíceis de tratar”, descreve a coordenadora do projeto. A carência química de oxigénio é um parâmetro que permite avaliar se o efluente tratado reúne as condições necessárias para ser reutilizado ou escoado para meios aquáticos. Perante os bons resultados obtidos com os resíduos da madeira do eucalipto, os investigadores decidiram estender a investigação a madeira de espécies invasoras, designadamente a madeira de acácia-mimosa, no âmbito de um outro projeto, intituladoMATIS. Os flocu- lantes desenvolvidos estão nomomento a ser testados. Apesar de ainda não ter realizado um estudo económico, a docente e investigadora da FCTUC acredita que os resultados deste projeto “podem ter impactos muito positivos, já que é uma abordagem ecológica não só para tratamento de efluentes, como tambémpara aplicação emdiferentes setores de atividade. Estes floculantes baseados em celulose mostraram ser alternativasmuito promissoras aos tradi- cionais agentes de base petrolífera”. Se a indústria assimo desejar, os “eco-flocu- lantes” poderão entrar nomercado num período relativamente curto depois de passarem por testes à escala piloto. n A investigação foi realizada no âmbito do projeto europeu ECOFLOC, na tipologia de doutoramento em ambiente empresarial europeu (Marie Curie - People), e envolveu também a Universidade de Leeds (Reino Unido) e uma empresa suíça especializada em reciclagem e tratamento de águas residuais Graça Rasteiro e José Gamelas

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