BI294 - O Instalador

GRANDE ENTREVISTA 51 Em relação aos projetos renováveis em Portugal, quais são as metas? As referências que apresentámos, não está propriamente especificado, mas temos 10 mil milhões na área das reno- váveis. Assumimos este valor como uma predisposição do grupo para responder ao desafio. Onde é que vai ser aplicado, nomeadamente entre Espanha e Portugal, depende muito da dinâmica dos mercados. No caso do hidrogénio, é uma tecnologia que pode fazer a diferença no mix renovável? Não se pode pôr a questão do hidrogénio verde como sendo o milagre para todo o desafio da descarbonização e transição energética, mas por outro lado, é uma tecno- logia que faz sentido em determinados nichos. E que já está a mexer. Vejamos, na produção de eletricidade em Portugal, 61% é de origem renovável. Ainda não estamos sequer em 100%. E é importante perceber onde a instala- ção da potência renovável, em termos de combinação da disponibilidade do recurso, pode ser viável. A nossa opção é dar prioridade a acordos com indústrias que precisam de hidrogénio no processo e fazer parcerias bilaterais. Um processo lento, portanto. Tudo tem o seu tempo. Mas o nosso ponto de vista é que temos de estudar, trabalhar na possibilidade de montar uma unidade de eletrólise de produção de hidrogénio e entregar ao cliente. Privilegiar essa relação inclusiva- mente de proximidade, na pequena infraestrutura de rede, de proximidade entre um utilizador de hidrogé- nio e estarmos presentes na oferta dessa commodity. Outra questão é: existindo hidrogénio disponível, poder ir injetando gradualmente hidrogénio na rede de gás com os cuidados técnicos inerentes. Outra dimensão que também está na agenda é algum hidrogénio para a mobilidade e, em particular, para equipamentos de mobilidade que não são facilmente satisfeitos com as soluções atuais no mercado. Isto é um processo gradual e só depois da maturidade é que se pode olhar para um mercado mais robusto. Porém, queremos investir no hidrogénio, sem a menor dúvida. INFOENERGIA E REDES INTELIGENTES Fale-me umpouco do serviço Infoenergia, da Endesa, que aposta na informação ao cliente/cidadão, nomea- damente emmatérias de soluções de energia e que também, em termos globais, assenta neste caminho de transição energética? Temos a noção que as utilities tradicionais não vão só viver no futuro, quer emmargem, quer em termos de serviço ao cliente, a vender eletrões e moléculas de gás. Por todas as transformações que estão a ocorrer, o cidadão é chamado a ter uma atitude ativa na sua solução energética. O caso das comunidades de energia é um bom exemplo do que já temos. Hoje o consumidor é chamado a perceber o contexto em que vive e a ter ferramentas para também ele ser um agente ativo na mudança e transição energé- ticas. Temos que oferecer ajuda e informação ao cliente, que é também consumidor e cidadão. A Infoenergia é um serviço de consultoria energética que ajuda o cliente a poupar e a otimizar o seu consumo energético. Como olha para o avanço das redes inteligentes em Portugal? É uma questão crucial. Se não temos contadores inteli- gentes e ferramentas, nada acontece. Não há eletrificação da mobilidade se não tivermos redes inteligentes e intera- tivas. Portugal está atrasado na instalação de contadores inteligentes, e noutros casos, temos os contadores insta- lados, mas a conectividade não funciona. É essencial acelerar esta transição? Sem isso não temos interação com o cliente, nemmelho- rias em termos da eficiência energética e na gestão de energia. Além disso, com todo o desafio da gestão cen- tralizada, que põe muito mais problemas ao operador de rede, não temos manutenção de segurança no abaste- cimento e na qualidade técnica do serviço. A mudança das redes é uma peça incontornável e crítica em todo o desafio de transição energética. Que desafios antevê para 2021 nesta conjuntura que vivemos? Quem está direta e indiretamente nesta área, têm o desafio da vida. Tudo tem que mudar. Politicamente está assumido, a nível das instâncias internacionais, a nível da União Europeia e dos governos nacionais, que este processo de transição energética e clima é o foco, agora catalisado com a pandemia. Temos de mudar tudo, o mix de geração, a infraestrutura, o conceito, a relação entre fornecedores e consumidores. Não há possibilidade de colocar todo este conceito de transição a funcionar se não houver uma reconversão profunda do modelo e do hardware (equipamentos). Não estamos numa situação de velocidade de cruzeiro, estamos numa situação de transformação. É daqui que partimos e é aqui que se encontra o grande desafio! n A mudança das redes é uma peça incontornável e crítica em todo o desafio de transição energética

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