BI342 - O Instalador

53 PASSAPORTE DIGITAL DO PRODUTO Como referido, a partir do próximo ano, e de forma progressiva, esta exigência regulatória far-se-á sentir em múltiplos setores, afirmando-se como “um mecanismo que traz transparência, rastreabilidade e competitividade às cadeias de valor”, defende a organização do DPP Summit. Mas quais são os benefícios dos DPP para as organizações empresariais? E quais serão os maiores obstáculos à sua implementação? Através do GreenTech Lab, a Aliados Consulting apoia as empresas dos vários setores da indústria nacional na transição para o Passaporte Digital do Produto e cumprimento das exigências regulatórias europeias. Para tanto, lançou oficialmente no evento que reuniu no hotel Myriad by SANA Hotels dezenas de empresários, diretores de sustentabilidade, inovação e produto, gestores de transição ecológica e digital, entidades públicas, clusters e centros tecnológicos, duas ferramentas “pioneiras no contexto nacional”: a Plataforma Digital para o Passaporte de Produto, “a primeira solução nacional com aplicação multissetorial, desenvolvida em alinhamento com os requisitos da EU”, que se prepara para tornar obrigatória esta ferramenta em vários setores até 2030; e a Plataforma Carbonatzero, concebida para “calcular a pegada de carbono de organizações, com base em metodologias internacionalmente reconhecidas”, como o GHG Protocol e a norma ISO 14067. Como sublinhou João Pedro Pinto, partner da Aliados Consulting, “o Digital Product Passport é um dos instrumentos mais transformadores da política europeia de sustentabilidade. Com estas ferramentas pioneiras, Portugal dá um passo decisivo para se posicionar como referência europeia na aplicação prática do PDP, apoiando as empresas a cumprir os requisitos europeus e a transformar desafios em oportunidades de inovação e competitividade”. O encontro incluiu dois painéis de debate dedicados ao ‘Ecodesign e Inovação de Produto’ e à ‘Medição e Comunicação do Impacto Ambiental’, moderados pelo BCSD Portugal, e que contaram com a participação de representantes da Sonae MC, Silvex, Instituto Politécnico de Setúbal, Vigobloco, 3XP Global e IAPMEI. Na perspetiva de Fernando Cunha, do IP Setúbal, a indústria portuguesa tem-se preparado muito bem para a transição digital e a Academia tem cumprido o seu papel de validação dos dados. O problema hoje é que é preciso “integrar a ecoefetividade com a ecoeficiência”, ao mesmo tempo que se garante “a verificação da resistência” dos materiais. “Escolher o material saudável, a energia adequada e a resiliência é fundamental para que os ecossistemas se possam manter, mesmo perante os problemas de abastecimento”, advoga o docente. Natércia Garrido, da Silvex, defende que o DPP constitui uma “oportunidade para desmistificar a corrente anti-plástico e combater o greenwashing”, permitindo “avaliar o impacto do fim de vida” de cada produto. Para a especialista, que iniciou a sua carreira na área da extrusão de filme e é defensora da reciclagem há largos anos, os principais desafios no setor do plástico são a qualidade do material reciclado e a sua disponibilidade, o que afeta a competitividade e requer “uma estratégia comunitária comum”. Recordando que “no material virgem a pegada ecológica é 20 vezes superior”, a responsável da Silvex concluiu que “é preciso reciclar em quantidade e em qualidade”. A incorporação do ecodesign nos produtos da Sonae MC é “um conceito muito disseminado na empresa”, garante Marlos Silva. Segundo o responsável, nos últimos seis anos os produtos de marca própria da Sonae, na área alimentar, têm sofrido transformações sucessivas para integrar materiais mais ecológicos e sustentáveis, um processo que se realiza “com muita parceria com a Academia” e numa lógica em que “as decisões são tomadas com base no menor impacto ambiental” dos materiais utilizados, estratégia que complementa a tecnicidade dos processos. Em conclusão, e nas palavras de Fernando Cunha, a estrutura que está implementada produz “zero eficiência, porque temos um único fluxo” que gera “uma falsa sustentabilidade”. Pelo que o futuro tem de passar por “transições reais e contrárias à ideia de que o ciclo fechado de materiais é que é bom”. Transição digital, sustentabilidade e ecodesign “são temas multidisciplinares” e “que devem ser tratados nos programas curriculares”, sublinhou ainda o professor. Fica o desafio, num contexto de mudança em que a preparação de Portugal para o Passaporte Digital do Produto requer, simultaneamente, inovação tecnológica, capacitação dos recursos humanos e uma relação direta entre a indústria e a academia. n

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