36 DOSSIER TENDÊNCIAS AVAC Fica assim, uma questão essencial: Estarão estas soluções a ser concebidas também para chegar à maioria da população e, em particular, àqueles que mais delas necessitam? O RETRATO DO PARQUE HABITACIONAL PORTUGUÊS Apesar do dinamismo tecnológico do setor AVAC, a realidade portuguesa continua marcada por um parque habitacional envelhecido e pouco eficiente. Dados recentes do INE indicam que mais de 80% dos edifícios têm mais de 25 anos (Figura 1), sendo que a maioria foram construídos sem preocupações de isolamento térmico (Figura 2). Por outro lado, num país marcado por baixos níveis de poder de compra e reduzida literacia energética, é comum recorrer-se a soluções de curto prazo e baixo custo de aquisição, como é o caso dos aquecedores elétricos portáteis e das ventoinhas. Embora proporcionem algum alívio imediato, estes equipamentos são altamente ineficientes e, quando combinados com o fraco isolamento das habitações, resultam num consumo de energia muito elevado e, consequentemente, em custos significativos a curto prazo. Por esse motivo, muitas famílias acabam por limitar o seu uso, o que pode comprometer o conforto e a saúde. Não surpreende, por isso, que o Observatório Nacional de Pobreza Energética estime que entre 1,8 e 3 milhões de pessoas em Portugal vivam em situação de pobreza energética. No entanto, existem tecnologias de climatização mais eficientes. O vulgarmente chamado 'ar condicionado' 2 oferece uma eficiência energética significativamente maior, podendo aquecer e arrefecer de forma mais uniforme toda a habitação, com menor consumo de eletricidade. Contudo, um relatório da Nova SBE3 revela que em Portugal, em média, menos de 20% dos agregados possuem estes equipamentos. Observa-se ainda uma elevada correlação entre a ausência de ar condicionado e a vulnerabilidade energética das famílias (Figura 3). Apesar de esta ser uma tecnologia madura, amplamente testada e eficaz no combate à pobreza energética, a falta de literacia energética limita a perceção das suas vantagens, enquanto a ausência de apoios dedicados dificulta a sua adoção. Não obstante, têm sido implementados incentivos no que respeita ao isolamento dos edifícios e programas de substituição de janelas, com vista à diminuição das pontes térmicas e à melhoria da eficiência energética “A transição energética exige soluções acessíveis, robustas e eficientes, capazes de responder às condições reais das habitações portuguesas” Figura 1 – Número de edifícios clássicos por época de construção. Fonte: INE (2021). Figura 2 – Tipos de paredes construídas em Portugal, por ano. Fonte: “Isolamento de paredes” – ADENE (2016).
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