BI340 - O Instalador

ASSOCIAÇÕES 105 A “guerra limpa” na Europa - renováveis ao serviço da segurança nacional Este artigo analisa criticamente as recentes dinâmicas na dicotomia energia-guerra, nos planos da União Europeia e em Portugal, discutindo o impacto nas metas para a transição energética, na aprovação de projetos de energias renováveis e na segurança nacional. Portugal e a União Europeia enfrentam hoje uma equação inesperada: o fortalecimento da indústria de defesa, sobretudo em resposta à guerra na Ucrânia, cada vez mais ligado às decisões energéticas. O 'Clean Industrial Deal da Comissão Europeia (CE)' e o plano de rearmamento 'ReArm Europe', ou 'Readiness 2030', caminham agora lado a lado, criando tanto tensões como oportunidades no setor energético. De um lado, têm-se os recursos originalmente destinados à transição verde em risco de serem redirecionados para o esforço de defesa; e do outro, a crescente pressão para expandir as renováveis a fim de abastecer as novas fábricas militares. Uma das consequências mais imediatas do novo foco defensivo europeu é o redirecionamento de fundos anteriormente destinados à ação climática e descarbonização. A proposta da CE consiste em utilizar orçamento comunitário (tais como verbas de coesão) para financiar investimentos em armamento e infraestrutura militar, o que sinaliza um potencial risco de migração de recursos antes destinados à transição energética, fragilizando parcialmente iniciativas ambientais em nome da defesa. Em alguns países essa mudança já é realidade, sendo anunciados cortes em programas climáticos para cobrir o aumento do gasto militar. No nosso país, embora se mantenham os compromissos climáticos, não é possível ignorar a prioridade da segurança nacional face a outros aspetos, o que eventualmente poderá canalizar para a mesma os fundos alocados, entre outras vertentes, ao desenvolvimento de renováveis e armazenamento, à expansão e modernização da rede elétrica, à promoção da eficiência energética no parque edificado, ou mesmo à sustentabilidade nos transportes. Com a expansão gradual da indústria de armamento na Europa, cresce a procura energética, nomeadamente por eletricidade mais barata. Este aspeto é fundamental para os grandes fabricantes que preparam já um incremento na capacidade nas suas linhas de produção de munições e equipamentos, tais como mísseis defensivos, radares e componentes de aviões de combate. Sara Freitas*, APREN *Sara Freitas Doutoramento em Sistemas de Energia Sustentáveis, focado na implementação da energia solar fotovoltaica nas cidades, e Mestrado em Engenharia da Energia e Ambiente, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Entre 2019 e 2023, foi gestora de projetos e especialista em energia na Lisboa E-Nova - Agência de Energia e Ambiente Lisboa. Desde 2024 que integra a equipa de Política e Inteligência de Mercado na APREN - Associação Portuguesa de Energias Renováveis.

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