BI338 - O Instalador

OPINIÃO 72 Bebemos água com amianto todos os dias? De acordo com relatos de antigos trabalhadores da indústria do fibrocimento, ao contrário das coberturas em fibrocimento que possuem até 15% de fibras de amianto na sua composição, as condutas, pelas suas características e uso, incorporaram cerca de 50% deste tipo de fibras, facto que deveria ser suficiente para considerar que o amianto é, muito mais, do que as coberturas das escolas. Carmen Lima* Em 2020, o Governo português anunciou a remoção das coberturas em amianto nas escolas públicas, através do então chamado ‘Programa Nacional de Remoção de Amianto em Escolas Públicas’. Logo de início, o processo é mal conduzido. Primeiro, porque apenas iriam remover um tipo de material das escolas (fibrocimento em coberturas) e não a “remoção de amianto em escolas”. Foi um investimento estimado de 60 milhões de euros, financiado integralmente por fundos comunitários no âmbito do Plano de Estabilização Económica e Social (PEES), e que foi utilizado como bandeira política. Resolveu o problema do amianto em escolas públicas portuguesas? Não! Na prática, removeu-se, aleatoriamente, um tipo de material (coberturas) sem garantir que o investimento era aplicado para minimizar a exposição de crianças, jovens e profissionais ao risco de exposição a este agente cancerígeno e, de acordo com as recomendações internacionais para a gestão do amianto, que recomendam o inventário prévio sobre a presença de amianto e a avaliação de risco. Aliás, estas recomendações internacionais chegaram a ser legisladas no panorama português com a publicação da Lei n.º 2/2011, de 9 de fevereiro e da Lei n.º 63/2018, de 10 de outubro, responsáveis por regular a obrigatoriedade de identificar a presença de amianto em edifícios públicos e privados (instalações e equipamentos de empresas privadas), respetivamente. Estes diplomas definiam, além da obrigatoriedade de identificação, o objetivo comum de “avaliar os riscos para a saúde pública, estabeleceu igualmente prazos para a elaboração de planos de identificação e remoção destes materiais”. Enquanto, em Portugal, seguimos princípios desalinhados com a informação técnica, as recomendações e os requisitos legais disponíveis, a aposta na investigação e conhecimento científico sobre esta matéria aumenta, levando a que os requisitos de gestão se tornam cada vez mais rigorosos e limitados. * Especialista Sénior em Sustentabilidade (Gestão de Resíduos e Ambiente). Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST (investigadora na área do amianto). Fundadora e Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto. Autora do livro “Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável”. Ex-Conselheira do CES - Conselho Económico e Social, pela CPADA, em representação das Associações Nacionais de Defesa do Ambiente.

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx