Numa altura em que a reindustrialização de Portugal é uma prioridade do País, a oportunidade está na fileira dos materiais de construção nacionais. Foi este o mote para a conferência ‘Made in Portugal! Reindustrializar com sustentabilidade’, que teve lugar em maio, no âmbito da VIII Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa.
Conferência ‘Made in Portugal! Reindustrializar com sustentabilidade'.
O mote para esta conferência incidiu no facto de a incorporação de materiais nacionais assumir um importante contributo para a redução da pegada de carbono da construção em Portugal. Esta e outras questões foram debatidas por representantes do Grupo Preceram, Revigrés, AICEP, Investwood e da Gestluz.
Jorge Salvador, especialista da fileira da construção civil e materiais de construção da AICEP, afirmou, na sua intervenção, que segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) – ainda provisórios – o Top 5 dos mercados de exportação nacionais no que respeita aos materiais de construção são: Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e EUA. Representaram cerca de 65% do total de exportações dos materiais de construção portugueses em 2020.
“Mas, se alargamos o leque, e acrescentarmos os Países Baixos, a China, a Bélgica, Angola e Itália, temos um Top 10 que representa cerca de 78% das exportações portuguesas neste setor. O que significa que temos uma base exportadora muito concentrada em dez mercados. Apesar de exportarmos para cerca de 180 mercados, diminuímos oito de 2019 para 2020, o que na minha opinião não é significativo, face à situação de pandemia que vivemos. Mas existe uma grande diversificação de mercados e podemos dizer que Portugal é atualmente um país exportador de materiais de construção”, assegurou o responsável, lembrando que “temos um saldo positivo na nossa balança comercial de 830 milhões de euros” e que as exportações, em 2020, totalizaram cerca de 3.4 mil milhões de euros e as importações 2.6.
Instrumento importante na promoção do setor 'além-fronteiras' é a recente campanha internacional, lançada pela AICEP em março deste ano. Designada por ‘Made in Portugal – naturally’, em formato digital, tem como objetivo promover as fileiras da casa e materiais de construção.
O objetivo é captar o interesse da procura internacional, dando a conhecer a inovação ancorada na qualidade e tradição dos produtos portugueses e a sua oferta de valor diferenciadora. A campanha é dirigida aos mercados da Alemanha, Canadá, Espanha, EUA, França e Reino Unido e irá decorrer durante o ano de 2021.
Ávila e Sousa, Diretor Técnico e Marketing do Grupo Preceram, não tem dúvidas: “consumir local acaba por ser essencial para a redução da pegada de carbono, mas também tem que ver com a revitalização da economia, porque ao consumirmos local estamos a apostar nas empresas que criam postos de trabalho e promovem desenvolvimento e progresso".
"Nós, desde o início da nossa indústria (na década de 40, com o tijolo, a ‘pedra base’ da Construção), e à medida que os anos foram evoluindo com a aposta de materiais mais eficientes, sempre tivemos a preocupação em diversificar produtos, com a construção a seco e leve. Agora mais recentemente também com as placas de gesso, que surgem para chegar a um nicho de mercado e substituir as importações que se faziam do mercado espanhol", afirma o responsável.
Como comunicar a vantagem de ser português? À pergunta, Ávila e Sousa é direto: "durante muito tempo, havia a ideia de que o que vinha de fora é que era bom. Eu recordo que quando começámos a Gyptec, por exemplo, colocamos o nome de Gyptec Ibérica porque efetivamente transmitia a ideia de que era uma empresa espanhola, e nos abria portas em Espanha e Portugal. Conto este episódio porque considero que, na verdade, é unânime que temos de desenvolver soluções que tragam conforto às pessoas, a poupança energética que tanto se ambiciona e que, ao mesmo tempo, seja sinónimo de saúde. Se conseguirmos estes três elementos, não tenho dúvida de que iremos melhorar também a produtividade, fator tão importante para a nossa economia".
Nesta linha, Ávila e Sousa partilha da opinião de muitos dos seus colegas de painel: a importância dos materiais, a sua escolha e a sua sustentabilidade são "decisivos para a vitalidade das empresas e do setor".
Carlos Baião da Cruz, CEO da Investwood, salientou que “as preocupações dos gestores e empresas variam em termos do foco”, considerando que a primeira prioridade de uma empresa tem de passar pelo “alinhamento dos seus produtos e processos com os seus mercados”. “Qualquer empresa produtora da fileira tem de ter como primeira prioridade a sustentabilidade, a pegada de carbono e a eficiência energética”, sublinhou.
Contudo, lembrou que os processos de escolhas desses materiais ainda incorporam “uma grande influência do consumidor final. É necessário foco na formação e da informação para que se atinja o objetivo da neutralidade carbónica. Todos os participantes na cadeia de valor têm esse objetivo bem presente”, assegurou.
Pedro Tarouco, Diretor Comercial da Revigrés, garante que as marcas portuguesas se destacam cada vez mais pelos elevados índices de qualidade e know how. “E isso também se nota na fileira dos materiais de construção. As marcas têm de produzir com sustentabilidade e de forma diferenciada, e julgo que neste aspeto, temos encontrado o caminho certo”, afiança.
Quanto à campanha da AICEP, Pedro Tarouco enaltece a iniciativa 'além-fronteiras' e que irá ajudar as empresas e as soluções nacionais da construção. “O setor dos materiais de construção, em termos estatísticos, ainda não atingiu os resultados que todos desejaríamos, mas é importante sublinhar que este mercado representa oito mil milhões de euros. O impacto é enorme e um valor muito positivo para a economia portuguesa. A resiliência, quer no início da cadeia de valor, mas também no que respeita aos promotores imobiliários que continuam a lutar diariamente, é notória e precisa igualmente de ser realçada”, disse.
Já Ricardo Luz, da Gestluz, abordou a internacionalização das marcas portuguesas. “Já ninguém vive para o seu mercado, todos falam de inovação, de sustentabilidade, de baixar custos na cadeia de valor, e as empresas hoje conseguem entrar nas cadeias internacionais de forma natural. E isso tem mudado significativamente a mentalidade das empresas portuguesas”. “Não é preciso ser gigante para vencer no mercado global e temos muitas empresas competitivas e que vão vencer. Não tenhamos dúvidas disso”, salientou.
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