Com as crises económica e sanitária em pano de fundo, o setor do solar térmico na Europa e em Portugal vai resistindo como pode. A Solar Heat Europe, associação europeia do setor, falou em exclusivo à Revista O Instalador sobre o panorama atual do mercado.
A energia solar térmica para aquecimento e refrigeração é uma das principais fontes de energia renovável na Europa e a nível global, ocupando a quinta posição no Top 5 de fontes de energia renovável, em conjunto com a bioenergia, hidroenergia, energia eólica e energia solar fotovoltaica, começa por lembrar a associação.
Para além disso, a tecnologia solar térmica “é uma das mais competitivas fontes de energia renovável em termos de preço”. A Solar Heat Europe explica porquê: “a energia solar térmica apresenta custos reduzidos e é capaz de competir com soluções de aquecimento elétrico, sendo determinadas soluções até mesmo capazes de competir com o aquecimento por gás natural, inclusive sem considerar os custos associados a fatores externos dessas fontes, tais como emissões de CO2, entre outros”.
Atualmente existem mais de 10 milhões de sistemas térmicos solares no continente europeu, representando um total de 26,3 TWhth anualmente
Com base no mais recente relatório do mercado, publicado pela Solar Heat Europe, a associação europeia do setor, foi registado um aumento do volume de negócios de 1,9 mil milhões de euros em 2019, representando até 20 000 postos de trabalho.
O relatório evidencia ainda as vantagens ambientais das soluções de aquecimento solar, sendo que a energia gerada anualmente representa uma poupança de 7 toneladas métricas de CO2 por ano.
A pandemia de Coronavírus "representou um desafio sem precedentes para todos, incluindo para o nosso setor", vinca a associação, lembrando que "embora todos os países tenham sido afetados, o impacto ao nível do nosso setor foi sentido de forma diferente consoante o país".
Em países como Espanha e Itália, onde foram implementadas rígidas medidas de confinamento, algumas empresas viram-se forçadas a encerrar ou a reduzir drasticamente as suas operações em resultado das perturbações ao nível das cadeias de abastecimento.
"Ainda assim, estamos felizes por algumas empresas terem conseguido adaptar o seu trabalho e auxiliar na produção de equipamentos de proteção. Noutros países, embora tenham ocorrido perturbações como reduções temporárias do número de funcionários e dos horários de trabalho, as empresas permaneceram em funcionamento", informa a Solar Heat Europe a'O Instalador.
Todavia, a associação diz que o setor "continuava igualmente esperançoso de que as autoridades públicas atuassem com rapidez, ajudando a reativar a economia em geral e o nosso setor em particular".
Estas eram as expetativas durante as discussões iniciais a nível europeu, nomeadamente no que respeita à posição firme por parte da Comissão Europeia quanto à necessidade de combinar os esforços a curto prazo para a recuperação com os objetivos a longo prazo para o Clima. Contudo, "os atrasos no processo e o 'retrocesso ecológico' impostos por alguns Estados-membros foram bastante desapontantes para o setor", acrescenta.
No contexto da recuperação ecológica económica, "os intervenientes europeus do setor da energia solar térmica uniram forças à iniciativa da Solar Heat Europe, o Compromisso do Setor da Energia Solar Térmica. Este representa o compromisso do setor em contribuir para uma Recuperação Ecológica e maximizar os respetivos impactos, rumo a um futuro neutro em emissões de carbono", adianta a associação.
E recorda que o aquecimento e refrigeração representam 50% da energia utilizada na Europa, sendo que a redução de carbono a este nível é crucial para alcançar os objetivos da União Europeia relativamente a emissões neutras. A importância de atuar neste sentido foi traduzida no compromisso através da mensagem comum #SolariseHeat.
O compromisso do setor da Energia Solar Térmica é composto por cinco principais direções: promover uma abordagem multi-tecnológica ao nível do aquecimento e refrigeração, introduzir no mercado novas soluções para um fornecimento de calor descentralizado, seguro e isento de carbono, aumentar o equilíbrio positivo de exportação, impulsionar a investigação e o desenvolvimento e ainda apoiar uma economia circular e sustentável.
Mais de 200 entidades públicas e privadas de 28 países europeus assinaram o compromisso, com vista a envolver os decisores políticos europeus, nacionais, regionais e locais para auxiliarem o setor a alcançar o máximo do seu potencial. O documento foi traduzido em seis idiomas e difundido a nível europeu e nacional.
Perante tudo isto, é claro que as consequências económicas da pandemia ainda não são claras.
Alguns mercados, salienta a associação, foram fortemente afetados, sendo esperadas reduções de até 40% do volume de vendas anuais em alguns destes.
Em determinados casos, como na Alemanha, o mercado registou até um aumento da procura, sendo esperado um crescimento que poderá chegar aos 20%. Isto deve-se a diferentes fatores, nomeadamente ao novo e atrativo esquema de apoios e da forma como os comportamentos dos clientes e dos instaladores foram afetados devido à pandemia.
"Por exemplo, os instaladores preferiam focar-se em sistemas de aquecimento (incluindo de energia solar térmica) do que em trabalhos de renovação de cozinhas. Outro fator está relacionado com o facto de os consumidores passarem mais tempo em casa e dedicarem mais atenção aos seus sistemas de aquecimento, bem como, em determinados casos, devido a disporem de mais recursos adicionais (rendimento estável ao mesmo tempo que eram reduzidos os gastos em lazer, tais como férias, idas a restaurantes, etc.)", esclarece a Solar Heat Europe.
Os grandes projetos de energia solar térmica, nomeadamente instalações distritais de aquecimento solar e aquecimento solar para processos industriais, também sofreram por atrasos. "Estes atrasos não só afetaram diversos projetos em construção como também perturbaram os processos de decisão para novos investimentos", alerta a associação europeia.
Assim, "embora esteja prevista a diminuição do total de novas instalações em 2020, isto ainda não é totalmente claro, visto que irá depender do efeito positivo do forte crescimento no mercado alemão, o maior a nível europeu e que representa 1/4 do total do mercado europeu".
À semelhança da Europa, o mercado da energia solar térmica em Portugal foi também afetado pela pandemia e pelas consequências das medidas de confinamento em geral, e em particular no setor da construção. Após o verão, surgiram sinais positivos de esperança resultantes do novo programa de apoio implementado pelo Governo, em setembro.
"Estamos surpreendidos com a lentidão do mercado português na implementação da energia solar térmica em sistemas em grande escala (...)", revela a Solar Heat Europe
Lembra que Portugal "é um país com condições excelentes para a energia solar térmica, tornando-a numa solução extremamente vantajosa para os consumidores". Para além disso, "os sistemas solares térmicos podem proporcionar reduções significativas em termos de emissões de CO2, o equivalente à remoção de um automóvel com motor de combustão interna das estradas. Assim, e considerando a experiência acumulada da energia solar térmica no mercado português, esperamos que a próxima versão do Fundo Ambiental, com lançamento previsto para março de 2021, apresente critérios melhores e mais claros no que respeita aos sistemas de energia solar térmica".
Neste ponto, a Solar Heat Europe garante que está disponível para apoiar estes esforços, tal como os acionistas em Portugal.
Para além disso, acrescenta a associação, "estamos surpreendidos com a lentidão do mercado português na implementação da energia solar térmica em sistemas em grande escala. Outros países europeus, com condições naturais não tão favoráveis como as de Portugal, têm dado muito mais ênfase a sistemas de maiores dimensões, tais como os de aquecimento solar para processos industriais (SHIP). Em França, está a ser implementado o maior sistema a nível europeu (12 MW) para processos de maltagem, destronando o anterior sistema de maiores dimensões nos Países Baixos, com apenas um ano de existência".
A associação termina, dizendo que "Portugal poderia aproveitar essas condições para promover uma mais rápida eliminação das emissões de carbono do seu setor industrial, com claras vantagens económicas (custos energéticos inferiores, maior investimento local e mais postos de trabalho), ao mesmo tempo que eram reduzidas as emissões de carbono no setor industrial português".
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