“O Modseat pretende responder às exigências futuras dos transportes públicos”
Entrevista: Ana Clara | Fotos: Almadesign13/11/2019
O Modseat é um projeto inovador, modular, versátil e customizável, que utiliza novos processos e materiais para comboios da classe regional/intercidades. Esta é uma iniciativa portuguesa, que nasceu de um consórcio liderado pela MCG e composto pela Almadesign, a ERT, o Instituto Superior Técnico e a SETsa S.A. Em entrevista a O Instalador, José Rui Marcelino, CEO da Almadesign, fala deste protótipo do banco ferroviário do futuro para comboios regionais e intercidades.
O Instalador - Fale-me um pouco do projeto Modseat e de como surgiu a ideia.
José Rui Marcelino - O projeto Modseat teve como objetivo a conceção de um banco ferroviário inovador, modular, versátil e customizável utilizando novos processos e materiais para comboios da classe regional/intercidades. A ideia surgiu no decorrer de anteriores projetos de definição/remodelação de interiores – como no caso dos comboios Alfa Pendular - quando concluímos que a indústria nacional não oferecia, de momento, resposta para bancos deste tipo e que este sistema é um dos que mais agrega valor nos projetos de interiores nacionais ou internacionais.
Sendo um protótipo, quando se espera que esteja implementado? E será gradual ou implementado em todos os comboios em circulação (regionais e intercidades)?
Estamos em contacto com fabricantes nacionais e internacionais para a industrialização do projeto, pelo que é possível desenvolver uma versão de produção. Enquanto plataforma poderá ser adaptado a diferentes classes consoante a integração modular de componentes e o design com o operador, adaptando-se às diferentes exigências.
"Redução de peso é um dos principais desafios da indústria de veículos de transporte"
A nível de materiais, que tipo foram usados e quais as características dos mesmos?
A redução de peso é um dos principais desafios da indústria de veículos de transporte em virtude do impacte energético. Por outro lado, há importantes normativas de segurança e certificação ferroviária a assegurar. Neste sentido, a estrutura do banco Modseat utiliza na sua composição ligas de alumínio e aços de elevado limite elástico. Estes permitem uma melhoria do comportamento mecânico, nomeadamente a resistência devido à sua composição química e estrutura metalúrgica. Adicionalmente, a utilização de uma estrutura tubular contribui para a redução de peso do conjunto.
José Rui Marcelino, CEO da Almadesign
Uma das mais-valias que sempre referiam é a do conforto que este banco configura para os passageiros. O que o distingue dos atualmente existentes nos comboios regionais e intercidades?
O banco foi estudado para oferecer o melhor conforto possível aos diferentes tipos de passageiros: dispõe de apoios de braços e de pés rebatíveis, sistema de rebatimento das costas e um apoio de cabeça com abas laterais, permitindo uma posição mais confortável para descansar. Adicionalmente ao apoio de cabeça pode ser colocada uma almofada ou uma proteção têxtil/pele com a gravação da identidade do operador. Para além da ergonomia, o banco está equipado com acessórios de apoio às atividades do passageiro em viagem como mesa rebatível para apoio de objetos pessoais, porta revistas, cabide, módulo de tomadas elétricas e USB para carregamento de dispositivos móveis e sistema de NFC - Near-Field Comunication - que permite o acesso a informação disponibilizada pelo operador, como filmes, música, jogos, etc.
Falando da alimentação elétrica do banco, como funciona?
Pretende-se com o projeto responder às exigências futuras dos transportes públicos ao desenvolver um protótipo que inclua smartsolutions e sistemas de infotainment, que permitam a adaptação do banco ao tipo/nível de serviço prestado (diferentes classes, mercados e respetivas exigências). A comunicação com os dispositivos móveis de cada passageiro é essencial para trazer novas possibilidades de produtos/serviço, bem como a possibilidade de carregamento que deverá ser adaptada à evolução tecnológica.
Há, nesta solução, uma preocupação não só a nível de design, mas também ambiental. Em que medida é que pode ser replicado em mais tipos de transporte no futuro?
A utilização de materiais mais leves, processos de produção com menor gasto energético e a possibilidade de fácil desmontagem dos componentes em fim de vida contribuem todos para uma redução da pegada ambiental. Foram testadas no projeto as ligações por deformação plástica como uma técnica de grande potencial em face das múltiplas vantagens que apresentam relativamente às tecnologias tradicionais de ligação. A estrutura do banco utiliza operações de ‘’dobragem’’ nas extremidades do tubo a unir com os perfis de secção quadrada recorrendo a um suporte rígido para evitar instabilidades plásticas, permitindo obter estruturas finais com melhor precisão através de uma união com baixo consumo energético, produzida com materiais dissimilares.
Explique-me, no que concerne ao financiamento (fundos comunitários), em que valores ficou o projeto na totalidade?
O projeto Modseat teve como objetivo reforçar a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação. Foi cofinanciado pelo Portugal 2020, no âmbito do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização através Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, com um valor de 1.603.247,38,00 €.
Por fim, é uma inevitabilidade o aumento do preço dos bilhetes nestes dois transportes, assim que a solução seja implementada ou não é de todo uma questão associada?
Consideramos que não é de todo uma questão. Antes pelo contrário, com a modularidade de construção, a simplificação dos processos tecnológicos e a redução do peso, os operadores terão vantagem económica em integrar um banco de última geração, potencialmente reduzindo os custos de operação.
